Marcelo Rebelo de Sousa não agrava o tom, mas também não põe água na fervura nas relações com o Governo. Por três vezes, o Presidente recusou-se a falar das relações com o primeiro-ministro: “O que disse está dito”, “já falei ontem”, “não tenho mais nada a dizer”. Em declarações aos jornalistas após dar uma aula de cidadania numa escola nos Açores, Marcelo deixou o aviso que não muda na maneira de exercer os poderes, recusou-se a confirmar que a tensão com São Bento é um assunto encerrado, embora tenha reforçado o desejo de que o Governo dure até ao fim da legislatura. O Presidente explicou que é “muito determinado naquilo que são as linhas do mandato”, deixando o aviso: “Não vai haver mudanças.”

Sobre se alguma coisa mudou nos últimos meses sobre a forma como interpreta os seus poderes, Marcelo Rebelo de Sousa reitera: “O papel do Presidente é sempre o mesmo. Sou Presidente desde o princípio até ao fim do mandato. Tenho exatamente os mesmos poderes, a mesma leitura dos poderes e a mesma exigência“. Ora, explica Marcelo “as linhas essenciais são as mesmas”, mas o “acento tónico” muda.

A exigência, explica Marcelo, passa por três áreas: “Primeiro, procurar compromissos essenciais de regime; segundo, que o Governo seja forte, governe e dure a legislatura; terceiro, que a oposição seja forte e constitua uma alternativa para o caso os portugueses nas eleições, que decorrem ainda no mandato presidencial, quererem escolher uma outra solução de governo”. Assume-se um “otimista realista”, o que remete para uma oposição a António Costa, a que o próprio Presidente atribuiu a definição e “otimista irritante”.

Embora avise que não mudará, Marcelo admite que “depois as circunstâncias são complexas”. Começa por lembrar que “o grande desafio do ano e meio que passou foi orçamental e de consolidação do sistema bancário” e que estes mesmos desafios “foram vencidos, embora esta vitória tenha de ser construída todos os dias”. Para o Presidente, “o grande desafio neste momento é, por um lado, de crescimento económico e de criação de emprego, que significa maior justiça social. E ao mesmo tempo fazer face a problemas que irromperam, e um deles como prioridade política óbvia que é o da floresta em todas as suas virtualidades.” Antes, na aula que deu sobre cidadania na Escola Básica e Integrada Gaspar Frutuoso, na Ribeira Grande, foram várias as indiretas à situação política.

Sobre a greve geral, o Presidente da República lembra que “faz parte da lógica de democracia haver greves” e que está relacionada com o facto de se estar a discutir o Orçamento do Estado para 2018. Marcelo defende que a greve não fragiliza o Governo, ja que se trata do “funcionamento normal da democracia: habituamo-nos nos últimos dois anos a haver menos greves do que é habitual. Mas o normal em democracia é haver greves, é um instrumento de luta dos trabalhadores.”

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