O julgamento de Pedro Dias já vai na quarta sessão e, até agora, nem uma palavra do arguido — de acordo com a advogada Mónica Quintela “irá falar em breve”. Ao longo das sessões tem-se limitado a tomar notas, enquanto está sentado a ouvir as testemunhas.

Hoje, dia 9, estavam previstas serem ouvidas nove testemunhas, mas uma foi dispensada. A sessão ficou marcada pelo depoimento do inspetor da Polícia Judiciária (PJ) da Guarda, Fernandes da Cruz, responsável pela investigação do caso.

O julgamento será retomado na próxima semana. Fica por precisar se será na quinta-feira, dia 16, ou na sexta-feira, dia 17.

Inspetor: mulher sequestrada identificou claramente Pedro Dias

O inspetor da PJ da Guarda, António Fernandes da Cruz, ouvido logo ao início da tarde desta quinta-feira, começou por indicar os vários locais de crime em que esteve e as diligências que foram tomadas ao longo da investigação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Fernandes da Cruz disse ter estado no local onde foram encontrados os corpos do casal baleado em Aguiar da Beira, Liliane e Luís Pinto; no hotel em construção na zona das termas de Caldas da Cavaca — local onde estaria o carro onde Pedro Dias estava a dormir e onde o militar Carlos Caetano terá sido morto; e a zona onde o também militar, António Ferreira, foi alegadamente baleado por Pedro Dias.

O primeiro local a ser investigado foi o “hotel da Cavaca”, disse o inspetor, referindo não terem sido encontrados vestígios de luta. “Nesse local, levanto um invólucro, manchas hemáticas [sangue], um rasto na terra — que nos pareceu na altura que alguém tinha sido arrastado — e rastos de viaturas”, afirmou. Os vestígios foram recolhidos pelo gabinete de perícia de Coimbra e foram remetidos ao laboratório.

Fernandes da Cruz relatou também que o carro da GNR onde foi encontrado o corpo de Caetano também foi analisado, tendo sido feito o levantamento de “vestígios hemáticos e biológicos” e, posteriormente, impressões digitais. Há imagens de várias passagens da viatura na EN229, em frente a um posto de combustível na Quinta das Lameiras. Pelas horas das imagens, há uma passagem às 04h01 no sentido Aguiar da Beira-Quinta das Lameiras, com as luzes do tejadilho ligadas; depois, às 04h05, o inspetor supõe que o mesmo carro patrulha tenha passado no sentido contrário, com as luzes do tejadilho apagadas. Há pelo menos mais uma passagem, pelas 06h00.

Depois do carro da GNR ter sido levado para as instalações da PJ, Fernandes da Cruz seguiu para o local onde foram descobertos os corpos do casal, no quilómetro 45 da EN229. O local estava “preservado com fitas” e os corpos já tinham sido retirados — de acordo com os exames de ADN, acrescentou, Luís Pinto foi o primeiro a ser baleado. Fernandes da Cruz adiantou que, inicialmente, foram encontradas “manchas de sangue”, “alguma vegetação” — “giestas e outras plantas partidas” — e “um invólucro”. Foram tiradas “fotografias”, recolhidos os vestígios e o invólucro.

“A vegetação foi retirada para o lado para fazer uma maior pesquisa ao terreno”, acrescentou. Foi nessa altura que encontrou mais um invólucro. Tendo em conta que ambas as vítimas tinham sido baleadas e havia dois invólucros, o inspetor acreditou, na altura, que aquele era o local “onde teriam levado os tiros”, mas não conseguiu “enquadrar”, na análise que estava a fazer, a mancha de sangue que estava na berma da EN229. Nessa altura, o inspetor disse que tiveram a “perceção que alguém tinha sido ferido” ali e que essa pessoa foi levada “para o interior da mata”. No alcatrão, foram descobertos ainda “vestígios hemáticos”, mas de “contágio”. “Quem pisou, fez contágio no alcatrão.”

Fernandes da Cruz esteve ainda no local onde foi encontrado o carro onde circulava o casal. A viatura, um Volkswagen Passat, só foi encontrada ao final do dia 11 de outubro, perto do hotel das termas de Caldas da Cavaca, e tinha uma mancha de sangue na porta traseira, do lado do pendura. De acordo com o inspetor, fizeram a recolha dos vestígios hemáticos, colocaram o carro no reboque e levaram para as instalações da Polícia Judiciária.

O sangue pertencia a Luís Pinto, revelaram os exames periciais posteriormente, que terá sido baleado junto ao carro na berma da estrada — o que explica a mancha de sangue junto à EN229. Contudo, não foi encontrado nenhum invólucro na berma da estrada. Os dois invólucros que foram encontrados na mata, junto aos corpos do casal, terão resultado de dois disparos efetuados contra Liliane Pinto, acrescentou.

O inspetor descreveu ainda o que encontrou em Lagoa Fria, local onde o militar António Ferreira terá sido baleado: “uma mancha de sangue”, um invólucro, uma caneta e um “rasto” de terra mexida. Referiu ainda que “decidiu dividir várias equipas” para procurar indícios. Nessa zona, “a determinada altura”, a GNR encontrou uma peça do carro patrulha, que terá caído quando a viatura por lá passou.

Fiz o percurso da casa do cabo Santos até Lagoa Fria. Fui encontrando de x em x metros, um ou outro vestígio biológico que foram recolhidos“, disse, acrescentando que da casa do cabo Carlos Santos ao sítio onde foi encontrado o carro patrulha são cerca de nove a dez quilómetros.

De acordo com o inspetor, o militar António Ferreira não foi direto à casa. “Andou por ali. Pelos vestígios hemáticos que encontrei, ele fez o percurso ao contrário. Desceu, circundou a zona da Lagoa e depois vai ter à casa do cabo Santos”, explicou.

Deve ter sido uma batalha tremenda o Sr. António Ferreira ter encontrado o trilho para a estrada municipal [onde fica a casa do cabo Santos]. Eu próprio tive dificuldade. A vegetação era alta e mato de um lado e outro, deve ter demorado muito tempo a fazer esta distância”, disse ainda o inspetor.

Já em Moldes, onde Lídia Conceição e António Duarte terão sido sequestrados numa moradia por Pedro Dias, o inspetor da PJ recolheu vários indícios, nomeadamente sangue, comida e garrafas de água, sendo que faltavam determinados objetos da habitação. Lídia Conceição, filha da proprietária da casa, garantiu que nada daquilo estava na habitação anteriormente.

De acordo com Fernandes da Cruz, Lídia Conceição identificou claramente o seu atacante como Pedro Dias, numa “conversa informal” quando ela “ainda estava a ser tratada” no centro de saúde. “Foi ele, foi ele”, terá dito ao inspetor. “Os resultados de laboratório vieram demonstrar que Pedro Dias tinha estado nessa casa“, afirmou ainda o inspetor, dando como exemplo “o caroço de uma maçã”. “Não há dúvidas, acrescentou.

O inspetor falou ainda de mais um carro, um Opel Astra, que terá sido usado por Pedro Dias quando saiu de Moldes e que foi encontrado em Carro Queimado. Na viatura, foram encontradas roupas com ADN de Lídia Conceição, sendo que uma das peças tinha uma mistura do ADN de Lídia com o de Pedro Dias.

As chamadas entre militares da GNR e Pedro Dias

A primeira testemunha a ser ouvida, esta quarta-feira, foi a militar da GNR, Manarimba Pina. Foi a sargento quem apreendeu a carta de condução de Pedro Dias, depois de lhe ter sido entregue pelo também militar Cláudio Carneiro. O documento terá caído do bolso esquerdo das calças de Carlos Caetano, o militar alegadamente morto por Pedro Dias, quando Cláudio Carneiro estava a realizar manobras de reanimação numa ambulância.

Manarimba Pina afirmou ter falado ao telefone com o arguido, pouco antes das 10h da manhã do dia 11 de outubro de 2016. Antes de iniciar a conversa, o arguido estava a falar com o “cabo Jorge [Marques]”. “Peço para falar com ele”, referiu a sargento, explicando que foi uma conversa “curta”, “normal” e “circunstancial”.

Durante a conversa, Pina não falou dos militares da GNR feridos. “Naquela altura, eu não sabia nada do senhor Pedro Dias“, contou a sargento, acrescentando que queria saber por que motivo a sua carta de condução estava com Carlos Caetano.

Perguntei se ele queria ir ao nosso encontro, ele disse que não, que estava atrasado”, disse. A sargento voltou a insistir, dizendo que tinha “um assunto para tratar” com ele e que iriam ter com o arguido onde ele estivesse. Pedro Dias terá voltado a dizer que não e “pediu para passar outra vez o telefone ao cabo Jorge”.

O cabo Jorge Marques, o segundo a ser ouvido esta manhã, confirmou esta conversa entre Pedro Dias e a sargento Pina, mas disse não ter prestado “atenção” ao conteúdo da chamada.

No seu depoimento, o cabo começou por afirmar que conhecia Pedro Dias antes dos homicídios de Aguiar da Beira, porque tratavam de “quintas próximas” e que foi sempre uma pessoa “educada” consigo. No dia dos homicídios, o militar da GNR recordou as comunicações que ouviu nessa manhã para “identificar” uma carrinha preta. “Essa carrinha, segundo as informações que havia, seria pertencente à senhora Ana Cristina [Laurentino, ex-namorada do arguido], de Fornos [de Algodres]”, contou o cabo Jorge, que conhecia a pessoa em causa. Pouco depois, começaram a surgir informações de que o carro estaria a ser conduzido por Pedro Dias.

Nessa altura, fez a associação entre Ana Laurentino e o seu antigo companheiro. “Entretanto recordo-me que tenho o número de Pedro Dias“, disse o cabo, que já conhecia há dois anos. “Lembro-me de dar um toque ao senhor Pedro para saber da carrinha. Não atendeu.” Pouco depois, o arguido devolveu-lhe a chamada, deu a entender que “estava a caminho de Valladolid [Espanha]” e que as carrinhas estavam na sua quinta, mas a chamada caiu — de acordo com o cabo, terá sido por problemas na rede.

Pedro Dias voltou a ligar, desta vez de um número que o cabo não conhecia, e o militar perguntou onde tinha as carrinhas, mas a chamada voltou a cair. Só nessa altura é que o cabo soube que tinha sido encontrada a carta de condução de Pedro Dias.

Na chamada telefónica seguinte, pediu para o arguido dizer o nome completo — para confirmar com o nome que vinha no documento, já que o conhecia apenas por “Pedro Piloto” — e perguntou-lhe se tinha os documentos todos. O arguido disse o nome completo e afirmou, depois de um “compasso de espera”, que achava que tinha tudo consigo, mas entretanto a chamada voltou a cair.

No telefonema seguinte disse que, afinal, lhe faltavam documentos. “Afinal não tenho a minha carta de condução”, terá dito ao militar. Quando o cabo Jorge perguntou o que tinha acontecido à carta, Pedro Dias assume ter sido fiscalizado por guardas de Aguiar da Beira. “Só se ficou lá a carta“, terá dito o arguido, descrevendo Caetano e Ferreira como uns “gajos porreiros”.

A chamada da sargento Pina com Pedro Dias ocorreu de seguida. “É depois daí que se inicia a fuga que todos conhecemos”, argumentou a advogada de Pedro Dias, referindo que a partir desse momento não se realizaram mais chamadas. Ao que o cabo Jorge respondeu: “Não sei”, acrescentando que fez uma chamada “acidentalmente” para Pedro Dias cerca das 11h30.

Foi também o cabo Jorge que ligou à ex-namorada de Pedro Dias a perguntar se sabia do arguido. Ana Cristina Laurentino disse-lhe que passou a noite com o antigo companheiro — de acordo com o cabo, o próprio Pedro Dias lhe contou que esteve na véspera com Ana Laurentino. Só no final do dia é que a ex-namorada do arguido assumiu a mentira que este lhe tinha pedido para dizer caso perguntassem por ele. “Desculpe lá, eu menti. Disse que tinha estado com o senhor Pedro, mas só estive com ele às 8h30 da manhã”, contou o cabo em tribunal repetindo aquilo que Ana Laurentino lhe terá dito.

De ressalvar, contudo, que algumas das chamadas realizadas entre Pedro Dias e o cabo Jorge Marques foram feitas através do telemóvel do Núcleo Central de Investigação (NIC). Foi o militar da GNR David Ambrósio, também ouvido esta manhã em tribunal, que deu o telemóvel ao cabo Jorge para fazer as chamadas a partir dali.

Foi durante este depoimento que houve uma troca de palavras mais exaltada entre os advogados Pedro Proença, que representa a família do militar Carlos Caetano e o militar António Ferreira, e Mónica Quintela, da defesa de Pedro Dias. Mónica Quintela terá esboçado um sorriso, no seguimento de uma pergunta de Pedro Proença à testemunha, e o advogado confrontou-a com essa atitude. Situação, aliás, que se voltou a repetir durante o depoimento do inspetor da PJ da Guarda, já da parte da tarde: Pedro Proença considerou que a advogada da defesa estava a repetir perguntas que já tinham sido feitas à testemunha.

Bombeiros retiraram Caetano da mala do carro porque podia estar vivo

A quarta pessoa a ser ouvida esta manhã foi o enfermeiro Filipe Ferreira, que trabalhava nos bombeiros voluntários de Aguiar da Beira. Conhecia o militar Carlos Caetano, com quem andou na escola, e Liliane Pinto, já que ambos trabalhavam na Santa Casa.

O enfermeiro seguia numa das ambulâncias, juntamente com a bombeira Joana Gonçalves — também ouvida em tribunal –, que, pelas 7h20 do dia 11 de outubro, foi até casa do cabo Carlos Santos buscar António Ferreira, o militar da GNR que terá sido baleado por Pedro Dias.

“O colega dele [Santos] trazia-o pelos braços. Estava com um polo azul enrolado à cabeça e só dizia para não tirarmos o polo porque tinha sido baleado na cabeça“, contou Filipe Ferreira, acrescentando que o militar lhes disse que o colega Caetano estava na bagageira do carro patrulha. Nessa altura, os bombeiros consideraram a possibilidade de Carlos Caetano ainda estar vivo.

O militar António Ferreira seguiu numa ambulância e a outra ambulância, onde estava o enfermeiro, ficou a aguardar que o carro patrulha fosse encontrado. Foi-lhes depois pedido para ir até à Quinta das Lameiras, onde a viatura foi descoberta. Quando lá chegaram, já tinham a “referência” de que o colega de António Ferreira estaria na mala do carro. Os militares da GNR que estavam junto do carro disseram-lhe para fazer o seu trabalho, mas para “preservar [o local] o máximo possível”. De acordo com o enfermeiro, os militares já teriam noção de que algo se passava.

Quando levantaram a porta da mala, que não estava trancada, viram o corpo de Carlos Caetano “deitado sobre o lado direto”, em “posição fetal”, com “pernas fletidas” e com os braços “semi-fletidos”.

“Nesse momento, tentei verificar sinais vitais”, refere Filipe Ferreira, mas não foi possível tendo em conta a posição do corpo. O enfermeiro pediu então para tirá-lo para fora do carro. “A resposta foi: ‘façam o vosso trabalho’“. Com o corpo já fora do carro, verificaram que Carlos Caetano estava morto. O corpo foi depois colocado na ambulância, com a ajuda de elementos da GNR, onde foram feitas as manobras de reanimação. Só nessa altura é que o enfermeiro disse ter reparado no ferimento que o militar tinha na cara. A VMER chegou posteriormente e declarou o óbito no local.

Filipe Ferreira confirmou ainda o aparecimento de um documento de identificação, que julga ser carta de condução, já dentro da ambulância. O militar da GNR que encontrou o documento questionou os bombeiros se pertencia a algum deles. “Perguntou se algum de nós é o senhor Pedro João Dias e eu disse que não”, contou. “Não tenho dúvidas de que a carta [de condução] apareceu ali.”

Cinturão, coldre e arma Glock encontrados numa mata

O comandante do posto da GNR de São Pedro do Sul, Horácio Mateus, contou, em tribunal, o momento em que a GNR encontrou um cinturão, um coldre e uma arma Glock numa mata na Póvoa das Leiras, depois de uma perseguição.

O militar tinha sido incumbido de encontrar os veículos que estariam a ser utilizados pelo suspeito dos crimes de Aguiar da Beira. Quando tentou parar uma carrinha Toyota, numa confluência de estradas da Coelheira (concelho de São Pedro do Sul), a viatura, que inicialmente abrandou a marcha, pôs-se em fuga. Horácio Mateus acredita que o condutor, com quem fez “contacto visual”, percebeu que a sua intenção era parar a carrinha. Disse ainda não ter tido nenhuma postura agressiva que levasse o condutor a sentir-se ameaçado e, consequentemente, fugir.

O comandante garantiu que se tratava de Pedro Dias. “Agora, não tenho qualquer dúvida de que era o arguido“, contou o militar, acrescentando que, na altura, não conhecia Pedro Dias e não soube que era ele porque a fotografia da carta de condução encontrada junto do corpo de Carlos Caetano era muito diferente.

Depois de uma perseguição de cerca de quatro minutos, em que perderam de vista o carro, os militares aperceberam-se de que a carrinha enveredou por um caminho florestal na Póvoa das Leiras. Horácio Mateus seguiu a pé pelo caminho e, quando chegou ao final da estrada, a carrinha estava parada, “estacionada”, com a chave na porta direita.

Junto ao carro, “pendurados” num “arbusto”, estava um cinturão e um coldre vazio. O militar terá dado ordem a dois elementos da GNR para ficarem junto da carrinha para preservar o local e continuou pela mata em busca do suspeito.

Pouco depois, o sargento ajudante Toni Martins — também ouvido em tribunal esta manhã — reportou, via rádio, ter “visualizado” um saco de plástico preto, uma mala com documentos e comida e ainda uma arma Glock que, de acordo com o inspetor da PJ da Guarda, tinha vestígios de sangue de Pedro Dias.

O inspetor Fernandes da Cruz, no seu depoimento, referiu ainda que nesse saco foi encontrada uma “fatura” de compras feitas no Lidl de São Pedro do Sul, no dia 11 de outubro de 2016. A PJ recolheu imagens de vídeovigilância e verificou que “muito provavelmente foi o Sr. Pedro Dias” quem fez essas compras.

Horácio Mateus garantiu ainda que sempre deu ordens aos restantes elementos da GNR para não tocarem em nada até chegarem “as autoridades competentes”. “Nós limitámo-nos a segurar o local e garantir que ninguém mexia até a PJ chegar”.

Mudança de atitude de Pedro Dias ao longo do julgamento

Em declarações aos jornalistas, esta tarde, o advogado Pedro Proença considerou que o depoimento do comandante de São Pedro do Sul veio “desmistificar” a tese de que Pedro Dias andaria fugido da GNR com medo de ser morto. “Este depoimento do comandante foi esclarecedor de que a intenção da GNR não era perseguir para abater, mas pura e simplesmente para fazer a detenção do suspeito e nada mais“, afirmou o advogado da família de Carlos Caetano e de António Ferreira.

Pedro Proença sublinhou ainda a evolução da postura corporal do arguido ao longo das sessões. “O arguido demonstra alguma agitação corporal que é diferente neste momento”, explicou, acrescentando que há “alguns olhares que revelam alguma insatisfação relativamente a algumas coisas que podem estar a acontecer”.

O advogado ressalvou também estar a ocorrer uma “maior interação” entre Pedro Dias e os advogados de defesa, o que considera “normal e natural”. Pedro Proença destacou ainda, tal como já o tinha feito da parte da manhã, a “estratégia” que está a ser utilizada pelo arguido, isto é, anotar durante as sessões eventuais fragilidades naquilo que as testemunhas dizem para depois utilizá-las na sua defesa.

“Soa-me demasiado artificial essa posição, soa-me demasiado a estratégia para poder ser uma atitude e uma justificação plausível para o tribunal“, acrescentou.

Na quarta-feira prestaram depoimento vários militares da GNR, nomeadamente Carlos Santos, o homem que abriu a porta ao colega António Ferreira, depois de ser alegadamente baleado por Pedro Dias.

Pedro Dias. “Santos, levei um tiro na cabeça, o Caetano está morto, ajuda-me”, conta militar da GNR

O militar baleado já foi ouvido na primeira sessão do julgamento.

“És burro? Não vês que ele está morto?”, disse Pedro Dias ao militar da GNR que sobreviveu

Também já foram ouvidos as mães do casal baleado em Aguiar da Beira alegadamente assassinado pelo arguido, Liliane e Luís Pinto; o homem que terá sido sequestrado em Moldes (concelho de Arouca) também por Pedro Dias; e a ex-namorada de Pedro Dias, Ana Cristina Laurentino.

Pedro Dias. “O Pedro não mata um animal, respeita muito os seres vivos”, disse ex-namorada

Pedro Dias esteve fugido das autoridades durante 28 dias, no ano passado, e é acusado de cinco crimes de homicídio (três consumados e dois na forma tentada), três sequestros, dois roubos e três detenções de arma proibida.