A Companhia de Bioenergia de Angola (Biocom), que junta em Malanje os brasileiros da Odebrecht e a angolana Sonangol, prevê produzir este ano 63 mil toneladas de açúcar, um valor recorde, mas ainda longe de cobrir as necessidades do país.

De acordo com o diretor de produção da Biocom, Fernando Guerra, a safra de 2017 já leva quase 150 dias e deverá estar concluída esta semana, apesar das dificuldades provocadas pelas fortes chuvas que se fazem sentir na província de Malanje, no interior norte de Angola, desde outubro.

“A chuva atrapalhou um pouco o final da moagem, mas os indicadores estão muito positivos. Por exemplo, aqui na planta industrial, a gente está com um resultado de extração muito bom, acima da média até do Brasil”, explicou o especialista brasileiro.

Trata-se da terceira safra realizada pela Biocom, que ocupa uma área de 81.201 hectares e cuja produção de açúcar tem vindo a aumentar todos os anos. No entanto, reconhece o responsável da empresa, instalada no Polo Agroindustrial de Capanda, na província de Malanje, ainda longe das necessidades de Angola em matéria de açúcar, que rondam as 300.000 toneladas anuais.

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“Ainda não, mas está no plano de negócios. Em 2021 chegaremos a responder a uma boa parte da demanda do país – que deverá crescer ao longo do tempo -, com 256 mil toneladas”, apontou o diretor de produção da Biocom.

Aquela produção recorre a alta tecnologia, desde logo com tratores utilizados na área agrícola e que são equipados com pilotos automáticos, preparando os terrenos e fazendo o plantio, para garantir trajetos precisos. Só nesta safra, a Biocom investiu 12 milhões de dólares (10,1 milhões de euros) na compra de novos equipamentos, prevendo um crescimento de 15% na produção de açúcar.

No leque de novas aquisições constam colhedoras de cana-de-açúcar, tratores agrícolas, equipamentos para produção de biomassa, bem como outros equipamentos de auxílio à preparação do solo e plantio.

“Esta é só a terceira safra. Parece que é muita coisa, mas é uma usina nova, é um bebé ainda, quando comparado com outras no mercado, que são centenárias. Mas vem crescendo todos os anos e estamos muito satisfeitos com a produção deste ano”, realça Fernando Guerra.

Instalada no município de Cacuso, a 75 quilómetros da cidade de Malanje, a Biocom é um dos maiores projetos agroindustriais angolanos, liderada pelo grupo brasileiro Odebrecht, que detém 40 por cento do capital da sociedade, na mesma percentagem do grupo Cochan e ainda com a petrolífera estatal Sonangol (20%).

É o único projeto do género em Angola e, além do açúcar, produz etanol e gera eletricidade que coloca na rede pública. Na primeira safra, de 2015/2016, produziu 24.770 toneladas de açúcar, 10.243 metros cúbicos de etanol e 42.000 megawatts de energia elétrica.

A empresa é uma das maiores empregadoras do país, com aproximadamente 2.100 empregados, dos quais 1.940 angolanos. É o caso do angolano Adilson Rodrigues, engenheiro agrónomo que hoje é responsável pelo controlo de qualidade agrícola e desenvolvimento agronómico da Biocom.

Um “desafio que chegou em boa hora”, logo após concluir a formação académica, como confessou o também responsável pelo viveiro da companhia, onde garante a multiplicação das variedades de cana-de-açúcar.

“Ao mesmo tempo fazemos aqui a multiplicação de plantas nativas, através de um processo de coleta de sementes das espécies da região, para o reflorestamento de algumas áreas. Também fazemos pesquisas do potencial das canas-de-açúcar”, explicou o jovem quadro angolano da Biocom.

Apesar de ser um investimento privado, face à sua dimensão e importância estratégica, o Governo angolano aprovou em outubro de 2014 a emissão de uma garantia soberana sobre 70% de um empréstimo a contratar pela Biocom junto da banca, para investimentos, então estipulados, no total, em 300 milhões de dólares (253 milhões de euros).