Há uns meses falámos aqui do primeiro título desenvolvido para a tecnologia PlayLink da PlayStation 4, És Tu, que permitia que qualquer smartphone se tornasse um comando da consola. A aposta da PlayStation em reconquistar os jogadores mais casuais assume um maior impacto com o lançamento de 4 novos títulos para esta tecnologia que começa agora as mostrar as suas potencialidades.
Mas esta “reconquista” tem uma explicação histórica, e basta pensarmos no porquê da PlayStation 2 (PS2), a consola mais vendida da história (com perto de 160 milhões de unidades comercializadas), se ter tornado num objeto quase omnipresente em tudo o que era cada, durante a década passada. O leitor de DVD (a PS2 era um dos leitores mais baratos do mercado) e o catálogo gigantesco e para todos os gostos eram algumas das razões que justificavam o sucesso global que catapultou a Sony para a linha da frente do entretenimento. Apesar de na segunda metade da década a Nintendo ter acabado por dominar o nicho familiar com a Wii, a primeira conquista do mercado casual pertenceu definitivamente à Sony.
Naquele tempo, as consolas já eram os centros de entretenimento doméstico que são hoje. Este facto justifica o verdadeiro furor com os muitos acessórios que tornavam a PS2 um elemento central de muitas festas. Fosse o Sing Star, a famosa série de karaoke da PlayStation com os seus microfones pretos (com azul e vermelho), sejam as “campainhas” do Buzz!, o jogo de quiz que na versão portuguesa era apresentado por Jorge Gabriel, quase não havia festa que não contasse com uma PS2 para animar.
É claro que este mercado acabou por ficar saturado com o lançamento de tapetes para jogos de dança, guitarras e baterias para os Guitar Hero e Rock Band, para além da mesa de DJ do DJ Hero, entre muitos outros, numa verdadeira febre de acessórios que ocupavam, e ocupam, muito espaço — além de terem significado um grande investimento económico para se poder usufruir destes jogos com os nossos amigos.
Mais de dez anos depois da febre dos acessórios, o mercado de videojogos acabou por encontrar uma forma rápida e eficaz de dar continuidade a este espectro mais casual de entretenimento. Permitindo que cada pessoa utilize o seu próprio smartphone como um comando de consola para se juntar ao jogo, aumenta-se o acesso à definição de party game e encurtam-se as barreiras para estes momentos mais casuais. Basta uma PlayStation 4 com os títulos PlayLink, uma televisão e o número de smartphones equivalente ao número de pessoas envolvidas — a festa está preparada. O destaque dado pela Sony PlayStation no último Lisboa Games Week ao PlayLink antevia o lançamento na semana seguinte de 4 novos títulos com esta tecnologia e que já estão disponíveis para compra.
“Saber é Poder”, o grande título familiar da PlayLink
Do que já jogámos, este é possivelmente o grande título familiar deste PlayLink, e aquele que mais apelará ao público português. Caída que está a marca Buzz!, muito associada às quatro campainhas cujos fios se entrelaçavam como que por vontade demoníaca, o nicho dos quiz games é agora ocupado por Saber é Poder.
Na versão portuguesa, o jogo marca o “regresso” de Herman José aos concursos de cultura geral, mas desta vez sem caçadeira em punho e com um avatar digital animado como apresentador. A estreia nos videojogos do famoso humorista marca também o regresso da PlayStation a este mercado mais casual, num jogo em que até quatro participantes em simultâneo que disputam o lugar cimeiro da Pirâmide do Conhecimento.
Para lá da cultura geral (obrigatória para este tipo de jogos), dispomos também de algumas armadilhas e “poderes” para disparar contra os nossos adversários e que colocam este Saber é Poder um “nível acima” das limitações que o Buzz! possuía em termos de variedade e desafio.
Além de ser o título mais familiar, este é possivelmente o jogo que consideramos verdadeiramente essencial para a tecnologia PlayLink, e que se torna verdadeiramente obrigatório com o contributo vocal e interpretativo de Herman José.
O regresso do rei dos jogos de karaoke
Este é o regresso do rei dos jogos de karaoke, ainda que agora tenhamos substituído os microfones com fio pelos nossos smartphones. De regresso está o visual de sempre, com os videoclipes e as vozes originais sob as notas e as palavras que temos de cantar, sem qualquer alteração ao SingStar que todos conhecemos.
As músicas disponíveis tentam equilibrar uma oferta dentro da pop contemporânea, polvilhada com alguns clássicos dos 1980s e 1990s. A grande dúvida neste SingStar Celebration, quando comparado com alguns dos títulos que jogámos na década passada, é que parece haver um preponderância para a pop atual, o que poderá alienar algum público mais velho.
Detetives e macacos
A outra grande potencialidade que está a ser explorada com o PlayLink é a interatividade entre história e espectador/jogador. Já tínhamos experimentado no Paris Games Week uma das grandes promessas de 2018, Erica, que até tem um português na equipa de desenvolvimento, e percebemos que os jogos/filmes interativos são uma grande aposta na PS4.
A fugir dos jogos mais familiares temos Hidden Agenda, que é um policial onde controlamos a detetive Becky Marnie (interpretada pela actriz Katie Cassidy) que tenta desvendar uma série de assassinatos em série. As nossas escolhas têm impacto no decorrer da história e na nossa capacidade de solucionar o caso. Apesar de este ser uma espécie de filme interativo, outros jogadores podem juntar-se a nós e participar em Hidden Agenda. Sempre que uma decisão tenha de ser tomada, são contabilizadas as escolhas dos diversos jogadores num sistema de votos que determina as ramificações que a história terá.
Planeta dos Macacos: Última Fronteira segue a mesma lógica de filme interativo mas tem uma particularidade. O enredo passa-se entre os dois últimos filmes do franchise Planet of the Apes, o que demonstra este PlayLink (e este sub-mercado de videojogos) como uma válida opção de extensão de histórias para além das barreiras cinematográficas. Quem sabe se depois desta experiência narrativa se não existirão também algumas em sala de cinema, onde o público decide em direto as opções dos protagonistas, mudando assim o decorrer das suas ações? A tecnologia para o fazer já existe e boas histórias para serem contadas também. Só falta dar o passo da televisão da nossa sala para o grande ecrã.
Ricardo Correia, Rubber Chicken