7 de fevereiro de 1979. Wolfgang Gerhard morria afogado numa praia de Bertioga, em São Paulo, após de mergulhar no mar ao final da tarde. Tinha 54 anos, era alemão, viúvo, e há muito que se mudara para o Brasil onde trabalhava como mecânico. Muitos anos depois, em 1992, testes de ADN provaram que Wolfgang era, afinal, Josef Mengele, um dos mais procurados criminosos nazis da Segunda Guerra Mundial. Na verdade, tinha 67 anos à data da morte.

Ganhou um epíteto no Terceiro Reich: O Anjo da Morte. Apesar de surgir quase sempre alegre nas fotografias tiradas enquanto oficial das SS, o sorriso prazenteiro de Josef Mengele escondia, afinal, sadismo, um profundo sadismo. Era Mengele quem tinha, por exemplo, a responsabilidade de, em Auschwitz, selecionar aqueles que trabalhavam no campo de concentração e aqueles que, de imediato, eram enviados para as câmaras de gás — era também Mengele um dos responsáveis ​​pela supervisão da administração de Zyklon B, o pesticida à base de cianeto que foi usado para matar judeus nas câmaras em Birkenau. A esmagadora maioria (cerca de três quartos de cada grupo) era prontamente condenada por Mengele à morte em Auschwitz.

Josef Mengele é o segundo oficial das SS a contar da esquerda (Créditos: UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/GETTY IMAGES)

Muitos do que inicialmente sobreviveram, sobreviveram com um intuíto: o de virem a ser estudados e testados por Josef Mengele, médico de formação que em 1937 aderiu ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Utilizava homens, mulheres, crianças para várias e múltiplas experiências, mas tinha particular “atração” por gémeos e ciganos.

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Antes de chegar ao Brasil, Josef Mengele (tal como a maioria dos fugitivos nazis da Segunda Guerra Mundial) passou por vários países da América do Sul, nomeadamente a Argentina e o Paraguai, sempre utilizando uma identidade falsa. Nunca foi capturado.

Adolf Eichmann, o responsável pelo envio de centenas de milhares de judeus para campos de concentração durante a chamada “Solução Final”, foi-o. As secretas de Israel capturaram-no na Argentina em 1960, Eichmann foi depois transportado para Jerusalém, julgado num tribunal e condenado à morte por enforcamento.

Josef Mengele também chegou a ser identificado na década de 1970 e a Mossad tinha preparada a sua captura por altura de uma visita de Mengele à família (tinha um filho, Rolf) na Baviera. Contudo, em 1973 teve início a Guerra do Yom Kippur, a quarta guerra israelo-árabe. As secretas israelitas tiveram então que abortar os esforços para capturar criminosos de guerra da Segunda Guerra Mundial, entre eles Josef Mengele.

Sigmund Rascher, o médico próximo de Himmler que foi assassinado por este

Sigmund Rascher resolveu estudar medicina por influência do pai, também ele médico. Curiosamente, foi o próprio Rascher (pouco depois de aderir ao partido nazi) quem denunciou o pai à Gestapo, alegando que este não se “alinhara” com o Terceiro Reich. A ascensão do médico no partido foi fulgurante. Próximo de Heinrich Himmler, o chefe das SS, cedo Sigmund Rascher foi autorizado por este a fazer testes em prisioneiros do campo de concentração de Dachau, perto de Munique.

Tendo-se alistado na Luftwaffe, a força aérea nazi, uma das experiências do médico consistia em perceber qual a resistência dos pilotos em altitudes elevadas. Mas as experiências eram realizadas não em pilotos da Luftwaffe durante o voo, mas em Dachau. Rascher enviava prisioneiros judeus para câmaras de descompressão, sempre com a promessa de que depois dos testes seriam libertados. Todos morriam.

E, depois de mortos, cada um dos seus órgãos era dissecado para Sigmund Rascher compreender como reagiram estes aos testes.

Sigumund Rascher, à direita, no campo de concentração de Dachau (Créditos: Yad Vashem Photo Archive)

Mas os pilotos da Luftwaffe também se poderiam despenhar e cair no Mar do Norte, por exemplo. Para compreender como reagiria o corpo de um piloto nessa situação, o médico ordenou que os prisioneiros fossem colocados durante horas em tanques de água gelada. Depois de perderem os sentidos, Rascher resolveu estudar a melhor forma de reanimá-los. Para isso, chegou a utilizar prisioneiras a quem obrigava a ter relações sexuais (a ideia terá partido de Himmler) com os prisioneiros inanimados, já que Rascher acreditava que isso (mais até do que medicamentos) era a solução para a combater a hipotermia.

Sigmund Rascher nunca foi julgado em Nuremberga como os outros criminosos de guerra. Nunca fugiu como Josef Mengele. Foi assassinado em Dachau, em abril 1945, poucos dias antes de as tropas norte-americanas libertarem aquele campo de concentração nazi. A ordem para a morte de Rascher partiu de… Heinrich Himmler.

Rascher tinha 36 anos. E tinha casado com uma mulher 15 anos mais velha, a cantora Karoline Diehl, outrora amante de Himmler. O casal teve três filhos. E preparava-se para ter um quarto. Himmler chegou a utilizar Rascher e Karoline como o exemplo da “família perfeita” em filmes de propaganda. O problema foi quando o chefe das SS descobriu que as crianças haviam, afinal, sido raptadas e não era filhos biológicos do casal.

Nessa altura, sentindo-se traído, resolveu fuzilar Rascher e enforcar Karoline.