A segunda volta das eleições presidenciais da Libéria realiza-se terça-feira, com o vice-Presidente cessante Joseph Boakai a defrontar o lendário jogador de futebol George Weah, procurando ambos suceder a Ellen Johnson Sirleaf. A data da segunda volta esteve inicialmente marcada para 7 de novembro, mas questões relacionadas com vários recursos apresentados, em que se denunciaram ilegalidades eleitorais na primeira votação, realizada a 10 de outubro último, obrigaram o Supremo Tribunal a remarcar o dia.
Na primeira volta, o senador George Weah e Joseph Boakai não conseguiram obter mais de 50% dos votos, Nos resultados apurados na primeira volta das eleições, que contaram com uma taxa de participação de 75%, o senador George Weah obteve 39% dos votos, à frente de Boakai, apoiado pelo Partido Unido (UP, no poder), com 29,1%, com os restantes 18 candidatos a dividirem o resto dos votos.
Ambos tentam suceder a Ellen Johnson Sirleaf, a primeira mulher eleita chefe de Estado em África e prémio Nobel da Paz em 2011, que está constitucionalmente impedida de se apresentar a um terceiro mandato.
Mais de dois milhões de eleitores estão inscritos para a votação. A braços com uma crise económica e social significativamente agravada após a epidemia de ébola, em 2014, a Libéria tenta, aos poucos, recuperar da violenta e devastadora guerra civil que assolou o país entre 1999 e 2003, que provocou mais de 250 mil vítimas mortais.
A elevada participação cívica da população demonstra a expectativa reinante ante a votação, com analistas locais a considerarem Weah favorito, embora as sondagens sejam escassas e partidarizadas. George Weah, eleito em 1995 melhor jogador de futebol do mundo, passou por vários clubes, tendo-se notabilizado no Mónaco, Paris Saint Germain, Milão, Chelsea, Manchester City e Marselha.
Durante a campanha, os dois candidatos coincidiram nos projetos futuros para o país, priorizando a manutenção da paz, redução da pobreza (50% da população vive abaixo desse limiar), eliminação da corrupção e revitalização da economia, que leva já três anos de recessão, provocada sobretudo pela epidemia de ébola, que matou quase 5.000 pessoas.
Após a guerra civil, a Libéria recuperou as exportações de cacau, café, ferro, ouro e diamantes, o que permitiu que o Produto Interno Bruto (PIB) passasse de um crescimento negativo de 31,3% em 2003 para um positivo de 8% em 2005. O PIB manteve esta tendência até 2013, ano em que o Governo anunciou um crescimento de 7% para 2014, previsão que acabaria por falhar redondamente por causa do aparecimento da epidemia que, só na Libéria, contagiou 10.322 pessoas e matou 4.608.
O plano de contingência que então foi posto em marcha para travar a epidemia, que, entre outras medidas, levou ao encerramento das fronteiras, teve um reflexo significativamente negativo na economia, com a taxa de crescimento a limitar-se a 0,7%. Em 2015, o crescimento do PIB foi nulo (0%) e em 2016 entrou perigosamente no vermelho (-1,6%), o que deixou o país, já em si um dos mais pobres do mundo, numa situação ainda mais delicada.
Os analistas negam que a taxa de crescimento negativa se deva unicamente à epidemia, sustentando que a influenciar está também o histórico défice de infraestruturas. A história da Libéria, com fronteiras com Serra Leoa, Guiné-Conacri e Costa do Marfim, além de banhada pelo oceano Atlântico, é única entre as nações africanas, pois é um dos dois países da África Subsaariana, tal com o a Etiópia, sem raízes na colonização da África.
A Libéria, atualmente com cerca de quatro milhões de habitantes, foi fundada e colonizada por escravos americanos libertados com a ajuda entre 1821 e 1822, da organização privada American Colonization Society, na premissa de que os ex-escravos americanos teriam maior liberdade e igualdade nesta nova nação.