Chama-se Taxify, tem sede na Estónia e chega esta quinta-feira a Lisboa para concorrer com a Uber e a Cabify, com 600 motoristas inscritos na plataforma e 2500 utilizadores que já descarregaram a aplicação (disponível para sistema operativo Android e iOS). Ao Observador, o fundador Markus Villig diz que viu em Lisboa “um grande interesse dos motoristas e dos utilizadores em ter um serviço alternativo”.

“Vimos que muitos motoristas nos estavam a dizer que não estão felizes com os rendimentos que estão a tirar e que querem uma plataforma que os trate melhor, que lhes dê mais dinheiro em cada viagem e isso traduz-se numa melhor experiência para os utilizadores”, explicou Markus Villig.

A empresa arranca a operação em Lisboa sem tarifa dinâmica e com preços promocionais até ao fim do mês de janeiro. O desconto de 50% permite que os utilizadores se desloquem a uma tarifa mínima de 1,25 euros até dia 31. Depois, esta sobe para 2,50 euros. Na Taxify, os custos das viagens incluem um valor base de de início de viagem de um euro, a que se somam 0,66 euros por quilómetro e 0,10 euros por minuto (no período promocional, descem para metade).

A grande aposta do serviço parece estar nos motoristas, a quem cobra 15% de comissão por viagem, menos do que as concorrentes (que cobram cerca de 25%). “Porque se os motoristas estiverem mais felizes, eles tratam melhor os clientes e por aí adiante”, explicou Markus, acrescentando que não acredita que o “serviço possa ser muito bom se os motoristas estiverem infelizes”. A melhoria das condições de trabalho dos motoristas tem sido uma das principais reivindicações das associações que representam os profissionais deste setor.

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Quanto aos requisitos e às condições de trabalho dos motoristas, com exceção feita para a comissão, o resto mantém-se semelhante à concorrência. A Taxify verifica o currículo do motorista, as condições do carro e procura, idealmente, motoristas que já tenham alguma experiência ao serviço de outras plataformas. Tal como acontece na concorrência, não são colaboradores — prestam serviços à empresa — e podem trabalhar as horas e os dias que quiserem. No final de cada viagem, também são avaliados pelos utilizadores.

A Taxify está presente em 23 países, conta com 5 milhões de utilizadores e diz ser a maior plataforma europeia de mobilidade. Emprega 400 pessoas no mundo todo. A equipa de Lisboa conta com quatro colaboradores e está a recrutar. Em 2017, a empresa anunciou uma parceria parceria estratégica com a empresa chinesa Didi Chuxing, uma das maiores empresas de serviços na área da tecnologia e transportes.

“Achamos que a regulamentação vai ser aprovada nos próximos meses”

O facto de a proposta de regulamentação do Governo para os veículos descaracterizados (TVDE) — nos quais se incluem os carros que prestarão serviço para a Taxify — estar desde março em discussão na Comissão de Economia, Inovação e Obras, não assusta o presidente da empresa. Em dezembro, o Tribunal de Justiça da União Europeia também decidiu que a Uber não podia esconder-se mais no argumento de que era uma empresa tecnológica e, por isso, teria de respeitar a legislação em vigor em cada país para o setor dos transportes.

“Vemos que a regulação está a evoluir por toda a Europa. A maioria dos países está a adotar novas regulamentações para permitir que estes novos tipos de serviços aconteçam nas suas cidades. Porque isto é tudo muito recente, há cinco anos não existiam. Por isso, é normal que os governos levem tempo a regulamentar isto”, afirmou Markus.

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David Silva será o responsável pela operação em Portugal. Ao Observador, adiantou que os motoristas e empresas parceiras vão começar a trabalhar preenchendo já os requisitos da regulamentação que está para aprovação. “Percebemos que há alguma urgência em aprovar a nova regulamentação e achamos que isso vai acontecer nos próximos meses. E os deputados também estão muito confiantes. Estamos muito confiantes”, afirmou.

Mesmo que continuem a ser multados motoristas Uber e Cabify, na sequência de uma alteração à lei que incide sobre o serviço em táxi ilegal — estas multas variam entre os 5 mil e os 15 mil euros — David Silva acredita que a argumentação que sustenta esta decisão, e a própria lei em que ela se apoia, tem algumas falhas de argumentação. “Toda a gente está a recorrer das multas nos tribunais e o mais provável é que quando a lei sair, estas multas não cheguem a ser pagas. Os advogados dizem isto e os advogados que trabalham connosco também nos dizem isto. Há confiança de que estas multas não têm um argumento forte.”

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Markus Villig acrescentou que o que interessa é aquilo que a maioria das pessoas da cidade quer. Se houver taxistas que não estão felizes com o aumento da concorrência, mas houver milhões de pessoas que querem um novo serviço, o jovem empresário acredita que os governos e empresas devem pensar naquilo que a maioria das pessoas quer.

“À semelhança do que vemos noutros países é só uma questão de tempo até a regulamentação ser aprovada, porque ninguém quer voltar atrás, ao tempo em que havia um número limitado de táxis e o serviço era mau. É apenas uma questão de tempo”, afirmou.

E se os partidos não chegarem a um consenso e a proposta de regulamentação não for aprovada? “Teremos de trabalhar nisso e educar os políticos, dizer-lhes que isto é uma boa coisa. Se olharmos para os outros países, toda a gente está a trabalhar nesta direção. Há milhões de pessoas que querem ter estes serviços, que proporcionam oportunidades de trabalho para milhares de pessoas, para que façam mais dinheiro. Ninguém perde aqui: os utilizadores ganham, os motoristas ganham”, respondeu o fundador da empresa.

“Já somos maiores do que a Uber em alguns países”

Markus Villig fundou a Taxify em 2013 na Estónia, quando tinha 19 anos e estudava no ensino secundário. Entretanto, foi distinguido com o Prémio Presidencial de “Melhor Jovem Empreendedor da Estónia” e entrou no ranking “30 under 30” da Forbes Baltics, como o presidente executivo mais jovem da lista.

Ao Observador diz que não fecha a porta a uma colaboração com taxistas. “Os nossos motoristas não precisam de ter licença de táxi e vamos começar a trabalhar com motoristas privados, mas temos a porta aberta para trabalhar com taxistas e em muitos países é isso que acontece. No final das contas, o que nos interessa é que os clientes estejam contentes com o serviço. Se os taxistas estiverem dispostos a aceitar estas condições, por nós tudo bem”, afirma.

O empreendedor de 24 anos, diz que a Taxify é “a maior plataforma de mobilidade europeia” e que não tem medo da concorrência. Já estão em muitas cidades onde competem com outras apps e que “graças à ótima tecnologia” que a empresa desenvolve e “à estratégia que tem por base tornar os motoristas felizes”, percebeu que o negócio da Taxify pode funcionar.

Sobre a Uber, Markus Villig afirma que já compete com a empresa norte-americana há quatro anos em mais de 20 países. “Já somos maiores do que a Uber nalguns países e estamos a crescer todos os meses. Percebemos que, se tivermos um foco local e nos concentrarmos na Europa, pondo os nossos recursos todos aqui, temos uma maior motivação para ganhar, maior do que alguém que vem de fora”, afirmou.

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O empreendedor acredita que o setor dos transportes é “mesmo a maior indústria tecnológica desta era, porque o impacto económico dos transportes nas cidades é muito maior do que o de outras indústrias, o que quer dizer que é muito competitivo”.