Em 2011, Victoria Azarenka era uma estrela em ascensão: com apenas 21 anos, tinha conseguido ganhar o Open da Austrália e o US Open em juniores (2005), dois Grand Slams em pares mistos (o US Open de 2007 com o também bielorrusso Max Mirnyi e o Roland Garros de 2008 com o americano Bob Bryan) e começava a mostrar que a chegada ao topo era uma mera questão de tempo. Mas foi nesse ano que tomou uma decisão que iria mudar toda a sua vida: fazer carreira profissional no ténis ou deixar o desporto e dedicar-se aos estudos? Estava mais inclinada para a segunda, mas acabou por seguir a primeira após uma conversa com a avó, a pessoa com quem passava horas a fio a fazer novos penteados e que lhe cuidava da coleção de peluches que deixara em casa.

Nesse mesmo ano, numa entrevista mais informal ao The Guardian, a certa altura foi questionada sobre o melhor programa que tinha visto recentemente na TV. “O casamento real, apesar de ter sido muito longo. E das várias vezes em que repetiram, a parte em que William estava a tentar colocar a aliança no dedo de Kate”, atirou. Azarenka teve sempre esta veia romântica de uma menina que saiu muito cedo de casa, andou a fazer torneios pelo mundo com saudades da família e um dia esperava também ter a sua história de encantar. E viveu um romance mediático com o músico americano Redfoo, que durou cerca de dois anos. Em 2015, conheceu numa viagem ao Havai com o surfista Laird Hamilton e a mulher um instrutor de golfe, Billy McKeague. Foi quase amor à primeira vista e, um ano depois, estavam a ser pais de Leo. Em 2017, tudo mudou e de forma drástica.

Aos 28 anos, e depois de já ter sido número 1 do ranking mundial, a bielorrussa encontra-se muito longe dos lugares cimeiros e há alguns meses que não disputa sequer um torneio, tendo sido esta semana obrigada a rejeitar o wild card do Open da Austrália para recuperar um título que conquistou em 2012 e 2013. E tudo por causa de uma guerra nos tribunais com o antigo companheiro em torno da custódia do filho.

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Nascida em Minsk, Azarenka sempre teve uma enorme paixão pelo ténis (por influência da mãe) com Steffi Graf e o seu calendário em 1988, onde ganhou os quatro Grand Slams, como principal referência. Além de paixão, tinha jeito. Muito jeito. E foi por isso que a família investiu no seu crescimento e aceitou que se mudasse para o Arizona aos 15, com a certeza de que teria um bom acompanhamento: Nikolai Khabibulin, na altura guarda-redes de hóquei em gelo nos Estados Unidos, e a mulher iam seguindo a jovem bielorrussa, que conheciam através da mãe. Ao mesmo tempo que jogava também estudava, chegando a 2011 a falar cinco línguas e com um currículo muito interessante no ténis.

Em 2012, Azarenka teve o seu melhor ano de sempre, que começou com uma vitória no Open da Austrália e teve prolongamento com duas medalhas nos Jogos Olímpicos (ouro nos pares mistos com Max Mirnyi, bronze no torneio de singulares). No ano seguinte, novo triunfo no Grand Slam e mais umas semanas como líder do ranking mundial; em 2014, muitas semanas de fora por causa de uma lesão no pé. E o início da queda no plano desportivo.

Mais tarde, a jogadora admitiu que os meses que passou longe dos courts, e que coincidiram com o fim da relação com Redfoo, acabaram por arrastá-la para uma depressão, mas conseguiu recuperar e voltou às vitórias no WTA, nomeadamente em Indian Wells (frente a Serena Williams) e em Miami (com Svetlana Kuznetsova). Seguiu-se a gravidez e o nascimento de Leo, perto do Natal de 2016. Regressou no ano seguinte, no Open de Maiorca, e num jogo que foi falado por outros motivos: teve de ser interrompido por falta de luz natural…

Tenho sido inspirada por tantas atletas fortes que regressam ao topo do seu deporto depois de terem filhos e pretendo ser também assim. Não há nada mais especial do que nos tornarmos pais e sinto-me abençoada por ter tantos exemplos de mulheres, em todas as esferas e planos, que seguiram as suas carreiras enquanto criam crianças”, destacou.

O torneio de Wimbledon foi a última grande prova de Vika, na altura muito procurada pelos órgãos internacionais no sentido de se perceber como estava a ser o regresso à competição após ser mãe. “Não é normal porque acabamos por passar aqui o dia todo, o que, para uma mãe recente, é um pouco complicado”, contou ao The Guardian, num trabalho onde foram também ouvidas Tatjana Maria, Kateryna Bondarenko e Evgeniya Rodina. Chegou até à quarta ronda, sendo eliminada pela romena Simona Halep, atual número 1 do mundo.

Foi nessa altura que se separou de Billy McKeague e começou uma autêntica batalha nos tribunais pela custódia do filho, hoje com 13 meses: o antigo companheiro interpôs uma ação alegando a possibilidade de rapto da criança por parte de Victoria Azarenka e a tenista teve de ficar com Leo na sua casa em Los Angeles sem possibilidade de sair da cidade, ao mesmo tempo que manifestou a intenção de processar McKeague por difamação.

Nenhum pai devia ter que decidir entre o seu filho e a sua carreira. Continuo a acreditar que em breve eu e o pai do Leo consigamos colocar de lado as nossas diferenças e caminhar na direção certa para trabalharmos em equipa e chegar um acordo bom para todos, garantindo que poderei voltar à competição com a presença constante dos pais na vida de Leo”, sublinhou na última intervenção sobre o tema.

A verdade é que o tempo tem passado e Azarenka continua sem poder sair da Califórnia, sendo assim obrigada a desistir de mais um Grand Slam depois do US Open de 2017. Em paralelo, a disputa judicial fez também com que Vika não pudesse jogar pela Bielorrússia na final da Fed Cup, que os Estados Unidos acabariam por vencer por 3-2 num desfecho que deveria ser bem diferente caso a ex-número 1 do mundo estivesse presente. E é por isso que, nesta fase, ninguém consegue prever quando e como a tenista poderá voltar à ação.