As autoridades suspenderam, neste sábado, as fiscalizações às redes de supermercados da Venezuela, na sequência de um acordo que permite aos empresários ajustar, em alta, os preços dos produtos que tiveram de baixar, gerando perdas elevadas. O acordo foi possível, segundo explicaram vários empresários à Agência Lusa, na sequência de uma reunião que teve lugar sexta-feira, na vice-presidência da Venezuela, com representantes da Superintentência de Defesa dos Direitos Económicos (Sundde), organismo que tinha imposto a descida de preços.
“Estamos um pouco mais tranquilos. Já se chegou a um acordo. Foram feitas revisões das cadeias de custos, do impacto dos salários e já foi aceite ter em conta as faturas (de compra), porque em dias anteriores impunham o preço que queriam, agora já aceitaram as nossas margens (de custos e de lucro) e preços”, explicou uma das fontes que esteve presente na reunião. Segundo a mesma fonte, os supermercados estão a tentar voltar “à normalidade, ” mas há grandes dificuldades para fazer repor os ‘stocks’, “porque não existe tal quantidade de produtos no mercado e a distribuição é reduzida”. “Repor os inventários vai ser difícil” frisou.
Os empresários dos supermercados tiveram apoio dos fornecedores e dos bancos, devido ao problema de “fluxo de caixa” que se gerou durante o tempo em que houve a descida forçada de preços. Segundo a Unión Rádio, de momento não há informação quanto aos mecanismos que o Governo venezuelano implementará para ressarcir as perdas ocasionadas aos empresários.
No entanto, segundo vários empresários, foi feita a promessa de criar “notas de crédito”, cujo alcance, termos e propósitos não estão ainda definidos. Alguns supermercados de Caracas estavam abastecidos de produtos agrícolas, mas não de produtos enlatados e charcutaria.
A 5 de janeiro último a Sundde obrigou 214 sucursais de 26 redes de supermercados a baixar os preços dos produtos para valores inferiores aos comercializados no princípio de dezembro. A medida afetou, entre outras, as redes de supermercados Central Madeirense, Unicasa, Plazas, Excelsior Gama, Luvebras, todas elas propriedade de portugueses radicados na Venezuela.
Dois dias depois, o presidente do Centro Português de Caracas, Rafael Gomes, queixou-se ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva da “indiferença” e tardia reação de Lisboa às preocupações da comunidade.
Foi também feito um alerta ao ministro português para que fosse “porta-voz, junto do Governo venezuelano”, das queixas da comunidade portuguesa nomeadamente “pelos maus-tratos” de que se dizem vítimas há muito tempo e “pelo flagelo da insegurança”.
“Os cidadãos portugueses que são sequestrados, expropriados, nos seus negócios ou empresas, sentem a solidão, a falta de apoio e ajuda, porque Portugal nunca se pronuncia”, disse.
A 10 de janeiro último, após um encontro com o Presidente Nicolás Maduro e ao terminar uma visita de quatro dias à Venezuela, o chefe da diplomacia portuguesa anunciou que Caracas iria “criar um canal de comunicação com a embaixada de Portugal em Caracas para dar resposta às preocupações, dificuldades e necessidades da comunidade”.
“No encontro que tive oportunidade de ter com o Presidente [venezuelano], Nicolás Maduro, estabelecemos, de comum acordo, um canal de comunicação permanente (…) através do qual se possam transmitir imediatamente às autoridades venezuelanas as preocupações, as dificuldades, as necessidades, mas também as propostas da comunidade portuguesa”, afirmou Augusto Santos Silva.
Em declarações à Agência Lusa explicou que esse canal permitirá que “todas” as preocupações, dificuldades, necessidades e propostas dos portugueses “sejam consideradas, analisadas pelas autoridades venezuelanas para que em relação a todas elas haja uma resposta das autoridades venezuelanas”.
“E, portanto, combinamos que se fariam de imediato reuniões, designadamente por causa desta questão da imposição administrativa de preços”, disse, fazendo referência à situação dos supermercados de portugueses que foram obrigados, pelas autoridades, a baixar os preços.