O final do Sporting-FC Porto ficou marcado pelo desempate nas grandes penalidades favorável aos leões, que carimbaram assim o apuramento para a final da Taça da Liga com o V. Setúbal. Mais tarde, Jorge Jesus destacou a intensidade da partida e a coesão do bloco defensivo verde e branco, ao passo que Sérgio Conceição, olhando sobretudo para o que se passou para o segundo tempo, considerou os dragões globalmente mais fortes.

Mas deverá o segundo de cinco clássicos em 2017/18 ser reduzido apenas aos castigos máximos? Talvez seja excessivo. Também contou, claro, mas houve mais pontos importantes de análise ao comportamento das duas equipas, dos treinadores e das próprias incidências da partida. Em resumo, a diferença esteve em três pontos.

A lesão de Danilo. A estratégia do FC Porto, com a entrada de Sérgio Oliveira para reforçar o meio-campo e o reposicionamento de Marega jogando muitas vezes da ala direita para dentro, acabou por ser totalmente “abafada” com a saída de Danilo Pereira. Porque os dragões perderam capacidade de recuperação, perderam o pivô que dá outra liberdade à subida dos laterais e perderam alguém fundamental nos esquemas de bolas paradas. Este Danilo, o Danilo de Sérgio Conceição, é o único jogador dos dragões que não tem substituto. E foi o jogador que se lesionou logo aos oito minutos. Óliver Torres entrou, mas o FC Porto nunca mais foi o mesmo. No final da primeira parte, Gelson Martins também saiu lesionado, mas seja pelas condicionantes físicas que já trazia, seja pelas opções que existem para a posição, o peso do médio nos azuis e brancos é bem maior do que o do extremo nos verde e brancos.

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As mudanças táticas ao longo do jogo. À exceção do golo anulado a Soares, não houve nenhuma oportunidade flagrante na primeira parte; no segundo tempo, o FC Porto cresceu sobretudo nos primeiros 15 minutos. Porquê? Porque Sérgio Conceição subiu as linhas e conseguiu pela primeira vez abafar a primeira fase de construção ou nos centrais leoninos ou em William Carvalho: Bruno Fernandes estava demasiado à direita, Rúben Ribeiro estava demasiado distante, Battaglia estava demasiado preso e Bas Dost ficou demasiado sozinho. Foi esse retoque que deu outra força ao dragão e a Marega, que foi crescendo com o passar dos minutos.

O Sporting tem uma oportunidade de ouro de bola parada, com Coates a cabecear ao poste após cruzamento de Coentrão saído de um canto (64′), mas a verdade é que Casillas não fez uma única defesa. Já Rui Patrício, sobretudo depois da entrada de Aboubakar, tem duas defesas a remates do camaronês (73′) e de Ricardo (74′), seguidos de duas bolas de Waris (86′) e Marega (90+2′) que passaram perto do poste. Com a saída de Danilo, o FC Porto perdeu a primeira parte, mudou e ganhou a segunda; com a saída de Gelson Martins, o Sporting deixou de querer ir em busca do resultado como na primeira parte e decidiu ir esperar pelo mesmo assente numa defesa muito sólida que pode propiciar golos às unidades ofensivas em transições. Ambos tinham razão, nenhum acabou por levar a melhor.

O “ficar por cima” nos penáltis. O desempate por grandes penalidades não é uma lotaria, como destacou Sérgio Conceição (porque se preparam durante a semana), mas tem muito de “estar por cima” ou “andar por baixo”. O que significa? Como no jogo corrido, há um fator mental, de pressão e de ansiedade que pode pesar – e foi aqui que o FC Porto falhou. Quando Herrera falhou, Casillas corrigiu travando a tentativa de Coates; quando Aboubakar falhou e o Sporting podia matar a decisão, Casillas voltou a manter o dragão vivo parando o penálti de William Carvalho. Aqui, neste ponto em específico, os azuis e brancos passaram para cima. E percebia-se pelo barulho das bancadas que os próprios adeptos portistas acreditavam mais. Brahimi, o sexto a tentar converter, atirou ao poste. Essa bola foi o golpe final nas contas, que Bryan Ruíz sentenciou de vez (e Rui Patrício voltou assim a ser herói).