A Mitsubishi sempre usufruiu de grande reputação entre os veículos destinados ao todo-o-terreno (TT), dos jipes às pickup. Depois da crise que quase a obrigou a fechar portas, valendo-lhe na altura a mão da Aliança Renault-Nissan, que adquiriu 34% da empresa e, com isso, o controlo, os japoneses conseguem finalmente apresentar um novo modelo, o Eclipse Cross, um SUV que eles sabem bem como produzir, e logo destinado ao segmento mais importante da Europa, o C, liderado pelo Nissan Qashqai e Volkswagen Tiguan.
Como é por fora?
É diferente, mas não é feio. O novo SUV da Mitsubishi, que se situa na gama entre o mais pequeno ASX e o maior Outlander, é um SUV com ar de coupé, a quem alguns apelidam de CUV. Abusa dos cromados e parece mais alto do que largo, mas as suas linhas têm personalidade e respiram aquele ar durão que muitos clientes procuram nesta classe de veículos, mesmo que nunca pensem colocar uma só roda fora do asfalto, quanto mais atacar um obstáculo numa secção de TT mais radical.
Esta marca japonesa tem tradição neste domínio, e conhecimentos, podendo cativar os clientes que se considerem bem servidos e que procurem um veículo capaz de circular em más condições com grande à vontade – sem ser um daqueles jipes “puro e duro”, como era o antigo Pajero –, mas mais civilizado e capaz de lidar, sem problemas, com uma utilização exclusivamente em asfalto, e até maioritariamente em cidade, caso seja essa a necessidade de quem o conduz.
A carroçaria é mais comprida do que larga, e a altura ao solo maior do que o habitual revela que o fabricante, se pensou nos condutores que querem um SUV que se porte como um automóvel convencional, não descurou os que querem algo mais. E daí uns ângulos de ataque, ventral e saída melhores do que a média.
Com 1.425 kg de peso homologado na versão de duas rodas motrizes, o Eclipse Cross pesa apenas mais 20 kg do que o Qashqai com motor a gasolina, isto apesar de ter um motor de quatro cilindros em vez de três e de possuir uma mais pesada e volumosa suspensão traseira multilink, em vez do eixo semi-rígido do seu rival, hoje “irmão”. Parte deste milagre deve-se à utilização de 55% de aços de alta resistência na carroçaria, além da soldadura por adesivo, que torna a estrutura mais robusta e com maior rigidez.
E por dentro?
Especialmente tendo em conta que o Eclipse Cross já estava numa fase avançada de concepção, quando a Renault e a Nissan assumiram as rédeas, o novo SUV nipónico surpreende positivamente pelos materiais utilizados, melhores do que o habitual neste fabricante e neste segmento, com bastantes plásticos macios nos painéis de porta e no grosso do tablier.
A favorecer igualmente a sensação de qualidade estão os acabamentos, que contribuem para a ausência de ruídos parasitas, mesmo quando circulamos em pisos menos bons. A posição de condução é boa e sente-se que estamos a bordo de um veículo mais alto do que o habitual, sensação que tanto agrada aos consumidores que optam pelos SUV. Atrás o espaço também é bom, sendo melhor em comprimento, logo para as pernas, e menos bom em largura. A capacidade da mala não é muito grande (359 litros na versão 4×4 e 378 na 4×2) mas pode crescer para 466 e 485 litros, respectivamente, com a regulação longitudinal do assento posterior, retirando algum volume para as pernas de quem se senta atrás.
O nível de equipamento depende do preço, como é habitual, incluindo dispositivos como o head-up display, travagem de emergência com detecção de obstáculos, avisador de ângulo morto e alerta de saída da faixa de rodagem. Mas há soluções como o sistema de navegação que nunca estão presentes. O que tão pouco se torna muito necessário, uma vez que o ecrã central, que permite controlar tudo o que é multimédia, tem as funções Apple Carplay e Android Auto, para recorrer ao Waze e ao Google Maps, muito mais eficazes e versáteis do que qualquer sistema de navegação proposto pelos construtores tradicionais (excepção feita para a Tesla e o Audi A8, que recorrem ao Google).
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É tracção à frente ou 4×4?
O novo SUV japonês está disponível com caixa manual de seis velocidades e uma automática de variação contínua (CVT), com oito velocidades virtuais. Mas em matéria de distribuição da potência pelos eixos, o Eclipse Cross também não se apouca, oferecendo versões com duas e quatro rodas motrizes, com a limitação que só há tracção integral com caixa CVT. E o fabricante não se poupou a esforços, nem com poupanças, pois o sistema 4×4 deriva de um dos mais famosos da casa, mais precisamente o que equipou o Lancer Evolution.
A Mitsubishi dotou o SUV com o sistema S-AWC, que na posição Auto coloca à frente 80% do binário e atrás 20%, mas que pode ir até aos 55%-45% em caso de perdas de aderência, enquanto a posição Snow (neve) também possui em condições normais uma repartição 80%-20%, que pode evoluir até aos 45%-55%. Por fim, a opção Gravel (terra) varia entre 70%-30% e 40%-60%. Quem divide a potência pela frente e traseira é uma embraiagem multidisco electromagnética, que pressiona mais ou menos os discos para colocar na rodas posteriores a força que for preciso para ultrapassar melhor a situação. E, se isto não chegar, há ainda a possibilidade do sistema de travagem aplicar uma pequena pressão na roda que patina, para distribuir o contributo do motor pela roda com mais aderência.
Paralelamente, há ainda sensores que avaliam a atitude do modelo, determinando se está a atravessar-se de traseira ou a fugir de frente, tudo fazendo para equilibrá-lo. É claro que, para quem deseja divertir-se, há felizmente um botão que pode desligar todas as ajudas e utilizar o Eclipse Cross como bem entender, situação que, em piso escorregadio, faz o Eclipse parecer um carro de ralis.
Que motorizações oferece?
Para já, o novo SUV disponibiliza apenas o 1.5 turbo a gasolina, com injecção directa e 163 cv, a que associa um torque de 250 Nm, estável entre as 1.800 e as 4.500 rpm. A potência é mais que suficiente para atingir uma velocidade máxima de 205 km/h e os 100 km/h em 10,3 segundos, enquanto a sobrealimentação assegura a força suficiente para uma condução relaxada, sem constante recurso à caixa, o que explica o consumo médio anunciado de 6,6 litros/100 km.
Mais para o final do ano estará igualmente disponível o motor 2.2 turbodiesel, que fornece 150 cv e um binário de 400 Nm entre as 2.000 e as 2250 rpm, mas que é demasiado “grande” para este segmento, pelo que irá obrigar a um preço desajustado face à concorrência. O importador irá introduzi-lo no mercado nacional antes do final de 2018, mas sem grandes esperanças no seu sucesso comercial.
Muito maior será o potencial da versão híbrida, que estará disponível em 2019, com um motor a gasolina (muito provavelmente este mesmo 1.5) reforçado por uma unidade eléctrica, alimentado por uma bateria que se pode recarregar ligando-a à rede e que permitirá reduzir os consumos e as emissões.
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Como é em estrada, e fora dela?
Colocámos à prova o Eclipse Cross numas condições particularmente difíceis, com a Noruega a fornecer neve e gelo em abundância. Em estrada, o Mitsubishi revelou-se confortável – ter suspensão independente à frente e atrás ajuda nesta matéria – e seguro, tanto mais que usufruía de tracção integral e caixa CVT de oito velocidades, o que permitia consumos relativamente baixos, graças à generosa desmultiplicação da mudança mais elevada. O motor 1.5 Turbo a gasolina assegura um trabalhar mais silencioso do que se fosse a gasóleo, incrementando assim o conforto, revelando por outro lado força mais que suficiente para realizar ultrapassagens de forma célere e sem ter de esmagar o acelerador. Face aos rivais existentes no mercado neste segmento, a gasolina, o Mitsubishi surge de longe como a melhor proposta.
Com as estradas mais estreitas, que de Verão deverão estar cobertas de terra, chegou a neve fofa e os potenciais problemas de tracção. Nada que o Eclipse Cross não resolvesse sem grandes dificuldades, com o S-AWC a gerir a distribuição de potência de forma automática e os travões a desempenharem o papel de autoblocante electrónico. É nestas condições que agradecemos os melhores ângulos TT do modelo, que permitem incursões por zonas mais complicadas, sem estar sistematicamente a raspar por baixo, ou a prender os pára-choques nas zonas mais acidentadas.
Para completar os testes, o construtor japonês desafiou-nos a conduzir o novo SUV num lago gelado em condições limite, dando-lhe o mesmo tipo de utilização que daríamos a um desportivo 4×4, como o saudoso Lancer Evolution. Equipado com pneus de Inverno – de outra forma, é quase um suicídio conduzir no norte da Noruega nesta altura do ano –, cuja aderência era reforçada pela presença de pregos, no modo Snow o Eclipse revelou-se equilibrado, a fugir ligeiramente de frente, mas de forma previsível e controlada, bastando reduzir a velocidade ou a pressão no acelerador, para se recompor. Assim que desligávamos o ESP e o controlo de tracção, o Eclipse Cross transformava-se no Evolution e permitia deslizar de umas curvas para as outras, em derrapagens controladas, como se se tratasse de um “brinquedo”, em vez de um SUV. Nestas condições extremas, apenas a caixa CVT não se revelou à altura, aquecendo em demasia.
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Quando chega a Portugal e por quanto?
O novo Eclipse Cross, disponível para já apenas na versão 1.5 Turbo a gasolina de 163 cv, só começa a ser entregue aos clientes nacionais no início do mês de Abril, mas a verdade é que alguns já se encontram em Portugal . Isto porque, a partir da próxima sexta-feira, 9 de Fevereiro, todos os 29 concessionários da marca vão ter os novos SUV para demonstração, o que permitirá não só que os potenciais interessados o vejam e toquem, como dêem mesmo uma volta antes de o encomendar, isto se lhes agradar.
Os preços arrancam nos 29.000€, para a versão com caixa manual e duas rodas motrizes, valor que se vai tornar ainda mais atraente com a campanha que ainda está a ser definida e que deverá reduzir este valor em cerca de 2.000€. Isto permite posicionar o Eclipse Cross próximo do valor pedido pelo Kia Sportage e bem abaixo do preço do Hyundai Tucson, ambos com um motor menos potente do que o Mitsubishi. Face ao Nissan Qashqai, com apenas 112 cv na versão a gasolina, o Mitsubishi é ligeiramente mais caro, mas com a vantagem folgada no motor, entre outros atributos.