Ime Archibong é vice presidente para parcerias do Facebook e um dos responsáveis por os utilizadores poderem usar música protegida pelos direitos de autor em conteúdos partilhados na rede social. Agora, o homem que Mark Zuckerberg incumbiu de o ajudar a “conectar todas as pessoas do mundo” tem um novo projecto: pôr os utilizadores a utilizar (bastante) os grupos. Ao Observador, em Londres, Archibong explicou que o objetivo da rede social é “garantir que as pessoas se sentem seguras e que coisas como discurso de ódio, terrorismo, pornografia infantil e por aí em diante não aparecem nos grupos” do Facebook.
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Antes de se juntar ao Facebook, Ime foi engenheiro informático no IBM. Formou-se em Engenharia Eletrotécnica pela Yale University e tem um mestrado em gestão feito em Stanford (duas das mais conceituadas dos Estados Unidos da América). Conversou com o Observador durante o Facebook Communities Summit, um evento dedicado à ferramenta dos grupos da plataforma que juntou mais de 300 líderes de comunidades, incluíndo duas portuguesas.
As novas ferramentas para os administradores dos grupos, o dinheiro que vão investir em administradores e até o projeto Internet.org (lembra-se quando o Facebook queria um drone para todos terem Wi-Fi? É esse o projeto), foram alguns dos temas em cima da mesa. Uma coisa deixa claro: o objetivo do trabalho que faz é pôr o mundo todo ligado pelo Facebook.
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Temos vistos algumas pessoas criticarem o Facebook por estar a limitar o contacto entre as pessoas, cara a cara. Com os grupos, o Facebook não está a pôr as pessoas atrás de um dispositivo?
Não. Uma das coisas que vemos é que estas comunidades se estão a juntar e a aproximar os laços offline. Algumas que começaram online até estão a criar comunidades offline que não existiam. Por exemplo, conheci um grupo de Quidditch, do Harry Potter. Este era um grupo de Facebook que agora faz encontros offline (não só no Reino Unido, mas também no resto da
Como é feito o processo de exclusão dos grupos mais controversos neste tipo de eventos?
Temos um espectro de grupos que escolhemos, mas não sei se sou a pessoa mais indicada ou se gostaria de definir o que significa ser controverso. Temos padrões da comunidade e tenho a certeza que todos os que participam neste evento passam por esse veto. No entanto, queremos manter uma mente aberta. Inclusivos com todo o tipo de grupos e com a forma como as pessoas estão a construir comunidades.
Mas nem todas a comunidades têm bons propósitos. Recentemente um grupo foi banido porque queria baixar a classificação do Black Panther. Como equilibram a existência destes grupos com o direito à liberdade de expressão?
Queremos investir em grupos que tenham um impacto positivo no mundo. Uma das coisas que anunciámos é o Facebook Communities Leadership Programme e isso é só para identificar pessoas que tenham feito um óptimo trabalho a criar comunidades: seja no Facebook, Instagram, Messenger ou WhatsApp. Estamos à procura de pessoas que tenham um impacto positivo nos grupos que estão a construir. A primeira parte da nossa missão pode ser dar ferramentas às pessoas para construírem comunidades, mas a segunda é igualmente importante: aproximar mais todas as pessoas do mundo. Isto é o que queremos fazer. Queremos grupos de pessoas entusiasmadas com filmes e conectá-las.
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Então, entre liberdade de expressão e eliminar estes grupos, a solução continua a passar por bani-los?
Queremos garantir que as pessoas se sentem seguras e que coisas como discurso de ódio, terrorismo, pornografia infantil e por aí em diante não aparecem nos grupos. As pessoas não querem juntar-se a comunidades onde não se sentem seguras. Vamos mostrar que continuamos a fazer o trabalho de programação. Vamos duplicar o tamanho da equipa dedicada aos grupos para garantir que estas comunidades se mantém seguras. Isto porque queremos que as pessoas se sintam honradas pelo trabalho que estão a fazer para a sociedade através das nossas plataformas.
Estão literalmente a dar dinheiro às pessoas que gerem páginas. O Facebook está a querer criar influenciadores da mesma forma que, por exemplo, o Youtube faz com os programas de parcerias?
Penso nisso de uma forma um pouco diferente. Por exemplo, outra parte pela qual sou responsável no meu trabalho é pelas parcerias com startups e programadores. Em 2007, quando lançámos o Facebook Platform [ferramentas de serviços na rede para outras empresas criarem aplicações], vimos a forma como os utilizadores estavam realmente a utilizar a nossa plataforma. Aí dissemos: “há várias coisas que as pessoas podem fazer sem a nossa ajuda, mas se fizermos um melhor trabalho em perceber como trabalhar com estas startups e com estes programadores podemos construir mais ferramentas que podem ajudá-los a construir a visão que têm”. E é isso que estamos a fazer no Facebook Communities Summit.
Há mil milhões de pessoas a utilizar os grupos. Há dezenas de milhões de líderes de grupos que construíram estas comunidades. No ano passado dissemos que 100 milhões de pessoas estão em grupos que consideram importantes e que são a parte mais importante da experiência que têm no Facebook. Estamos agora a reconhecer esse movimento crescente da nossa plataforma e a dizer: “Por detrás de cada uma destas comunidades há um único indivíduo, um único líder que tirou o tempo, a energia e o esforço para criar estas comunidades para milhões de pessoas”.
Há mil milhões de pessoas a utilizar os grupos. Há dezenas de milhões de líderes de grupos que construíram estas comunidades. No ano passado dissemos que 100 milhões de pessoas estão em grupos que consideram significativos e é a parte mais importante da experiência que têm no Facebook”
Mas se estão a dar-lhes dinheiro não estão a torná-los influenciadores?
Não. O que podemos fazer para eles sentirem que têm apoio? Que têm o treino para alcançar as suas visões e os seus objetivos? E, até certo ponto, como é que lhe podemos providenciar fundos? Voltando ao exemplo do Quidditch, eles têm essa ideia, têm uma comunidade de 30 mil pessoas que adoram este desporto. Talvez não tenham os fundos para arrendar os campos para as pessoas se poderem juntar a jogar e estarem juntas offline. Queremos financiar projetos como esses porque há estudos suficientes que mostram que por as pessoas se juntarem online e offline o que está a construir é a sociedade em que vivemos. E estamos orgulhosos disso.
O objetivo deste incentivo é os administradores dos grupos tornarem-se independentes financeiramente ou é apenas para gerirem a comunidade que criaram?
A minha intenção para quem se candidatar aos dois programa, o fellowship de 50 mil dólares e o residency, de um milhão, é que os administradores voltem a investir na comunidade. Podem surgir ideias ousadas, por exemplo, de alguém que queira construir um biblioteca para o grupo que administra. Voltando ao exemplo do Quidditch, as pessoas podem querer construir uma liga e precisam de comprar o equipamento envolvido. Essa é a nossa intenção. As pessoas ao candidatarem-se vão dizer em que querem investir os fundos.
Podem surgir ideias ousadas, por exemplo, de alguém que queira construir um biblioteca para o grupo que administra. Voltando ao exemplo do Quidditch, as pessoas podem querer construir uma liga e precisam de comprar o equipamento envolvido. Essa é a nossa intenção”
Quanto tempo vai demorar o processo de candidaturas?
Dois meses. Vamos rever as candidaturas e fazer a triagem com a ajuda de um júri independente do Facebook juntamente com pessoas da empresa. Isto tendo em atenção a diversidade de género, nacionalidade, etnia, ideologia política, para garantir que estamos a ter uma representação que seja comum a todos.
E como é que isto vai afetar o utilizador que está em vários grupos? Como estão a juntar este investimento nos grupos com o novo algoritmo?
Uma das premissas que temos é que ao pormo-nos por detrás destes líderes de comunidade é que vamos aumentar a capacidade destes grupos. Vamos tornar estes grupos mais importantes. Os líderes que ganharem o programa de Fellowship ou o Residency vão criar uma melhor experiência para os utilizadores. As pequenas mudanças no News Feed, com o algoritmo, são porque as pessoas querem ver mais coisas dos amigos e família. No meu caso os grupos mais importantes são de família.
As pequenas mudanças no News Feed, com o algoritmo, são porque as pessoas querem ver mais coisas dos amigos e família. No meu caso os grupos mais importantes são de família”
Então vou ver mais informação de grupos ligados à família e não ligados a outros tópicos, como, por exemplo, Quidditch?
Depende, o News Feed é baseado em sinais do utilizador ao que mostra estar mais conectado, sejam grupos ou outras pessoas. Se o grupo foi importante para a pessoa, o utilizador vai ver mais conteúdo desse grupo.
Quando diz “importante” significa conteúdo que o utilizador vê bastante ou conteúdo com o qual interage bastante?
É uma combinação dos dois. No caso dos grupos temos um pequeno questionário que pergunta: “o quão importante é este grupo para si?”; “quão importante são as conexões neste grupo?”; “tem amigos neste grupo?”, e coisas assim. O que queremos, no futuro, é que mil milhões de pessoas estejam nos grupos mais importantes para elas.
“O queremos, no futuro, é que mil milhões de pessoas estejam nos grupos mais importantes para elas”
E quanto ao Internet.org, ainda é parte do projeto? Que avanços tem tido?
Está a correr bem. O Internet.org é um dos investimentos a longo prazo que temos porque de um ponto de vista tecnológico e de inovação é uma das coisas com maior impacto que podemos fazer. O objectivo é conectar todas as pessoas. Há sete mil milhões de pessoas em todo o mundo e apenas três mil milhões estão conectadas à Internet. Como é que ligamos as outras quatro o mais rapidamente possível? O projecto tem várias iniciativas que estão em várias fases. Temos iniciativas como o Aquila, que teve um voo bem sucedido no ano passado e vamos continuar a investir nisso. E depois temos coisas que são mais a médio prazo, como o Free Basics, que continua em funcionamento. Uma das coisas que mais me orgulha é ter visto que mais de 80 países adoptaram o Free Basics e participam neste programa. Depois temos coisas como o express Wi-Fi que também continua a funcionar.
Por que é que o Facebook decidiu fazer um evento dedicado a grupos?
Isto é parte da nossa [Facebook] grande missão. Uma das equipas pela qual sou responsável no Facebook é a equipa de parcerias de comunidades. Tive a oportunidade de ao longo dos últimos meses falar com líderes de comunidades por todo o mundo e perceber — do ponto de vista deles — como vêem o papel que desempenham na sociedade e como utilizam as nossas ferramentas. Há diferentes coisas que uma empresa tecnológica pode fazer para dar mais poder às comunidades. No ano passado, conseguimos reunir cerca de 100 chefes de grupos no mesmo espaço [nos EUA]. A nossa nova missão é dar às pessoas o poder de construírem comunidades. Vamos estar mais focados no que podem fazer e como podem fazê-lo. Passados seis meses estamos em Londres, mas os nossos esforços são globais. Estamos a trabalhar para dar ferramentas ao líderes dos grupos para garantir que são seguros e há coesão.
O Observador esteve em Londres, no Facebook Summit Europe, a convite do Facebook.