A primeira carga de minério exportada pela República Democrática do Congo (RDCongo) através do Caminho de Ferro de Benguela após 34 anos de paralisação nesta ligação, desde o leste de Angola, chega na quarta-feira ao porto do Lobito.

A informação foi confirmada esta terça-feira à agência Lusa por fonte do Caminho de Ferro de Benguela (CFB), dando conta de que a carga, que partiu na segunda-feira da estação do Luau, província angolana do Moxico, no leste, corresponde a mil toneladas de manganês, que chegaram, também pela linha ferroviária, do país vizinho, em 25 vagões com 50 contentores.

De acordo com informação do Ministério dos Transportes angolano, o minério, que está a ser exportado pela Sociedade Comercial de Kissengue Manganês, da RDCongo, chegará ao porto do Lobito — de onde será exportada por via marítima — por intermédio do CFB, nos termos de um acordo de cooperação rubricado em 2017 entre aquela empresa pública angolana e a Sociedade Nacional dos Caminhos de Ferro do Congo (SNCC).

Na prática, trata-se do reinício do centenário tráfego internacional no Caminho de Ferro de Benguela, iniciado no período colonial português, com a construção da linha, mas que foi suspenso em 1984, devido à guerra civil em Angola, que só terminou em 2002.

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Desde 1 de maio de 1931 que a linha do CFB está ligada à dos Caminhos de Ferro do Baixo Congo, sobre a ponte do rio Dilolo, para dar resposta à necessidade congolesa de aceder a um porto, neste caso no Lobito, Angola, para exportar por via marítima o minério extraído no interior do país.

Em 1974, no fim do período colonial português, o tráfego internacional já era responsável por 90% das receitas do CFB, com uma capacidade anual de transporte de 10 milhões de toneladas.

A reabilitação da rede ferroviária angolana, destruída pela guerra civil, custou, entre 2005 e 2015, mais de três mil milhões de euros, conforme anunciou a 14 de fevereiro de 2015 o ministro dos Transportes de Angola, Augusto da Silva Tomás.

O ministro falava precisamente no Luau, onde naquela data foi inaugurado o troço final do Caminho de Ferro de Benguela na província do Moxico, representando o regresso, mais três décadas depois, da ligação de comboio entre o Atlântico (Lobito) e o interior de Angola, num percurso de 1.344 quilómetros.

“Muitas vezes, e nem sempre de boa-fé, alguns perguntam onde é que vai o nosso dinheiro. Pois bem, a resposta está aí. Parte da reposta está aqui no Luau, na extensão do Caminho de Ferro de Benguela”, ironizou Augusto da Silva Tomás.

A reabilitação das três linhas nacionais edificadas durante o período colonial — além do CFB também o Caminho de Ferro de Luanda e o Caminho de Ferro de Moçâmedes –, envolveu um investimento público de 3,5 mil milhões de dólares (três mil milhões de euros) em 2.612 quilómetros de rede e na construção de raiz de 151 estações ferroviárias.

Em concreto, só a reabilitação da linha do CFB custou quase 1,9 mil milhões de dólares, cruzando quatro províncias angolanas e uma área com sete milhões de habitantes. O sistema ferroviário angolano está alicerçado nos portos de Luanda, Lobito e Namibe, criando desta forma uma rede intermodal para servir também o transporte de mercadorias.

Toda a rede ferroviária nacional, reabilitada sobretudo por empresas chinesas, foi utilizada para a passagem de uma linha própria de fibra ótica, tendo sido ainda adquiridas 42 locomotivas, 248 carruagens de várias tipologias e 263 vagões.

Em 2015, na cerimónia no Luau, em que foi enfatizado o “dia histórico” do regresso do comboio, além do Presidente angolano, então José Eduardo dos Santos, marcaram presença igualmente os chefes de Estado da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, e da Zâmbia, Edgar Chagwa Lungu.

Os dois países, que fazem fronteira nesta região com Angola, têm na reabilitada ligação ferroviária uma forma de exportar por via marítima — através do CFB e do porto do Lobito — os minérios extraídos nas regiões de Katanga (RDCongo) e Copperbelt (Zâmbia), com a interligação futura das três redes ferroviárias.