Do outono de 2014 à próxima estação fria são nove coleções de distância e Gonçalo Peixoto desenhou-as a todas como se, no final, tivesse uma longa passerelle à sua espera. Só que não. Aos 21 anos, o designer de moda do Porto tem currículo, sem dúvida, o percurso é que foge um bocadinho à norma. Com 17 anos, desenhou a primeira coleção, sem contar com a resma de esquissos que já vinha detrás, vendeu as primeiras peças e começou a construir uma marca que não precisou dos holofotes de um desfile para crescer. Redes sociais, meus caros, redes socais. Para Gonçalo, comunicar sempre foi tão importante quanto a modelagem das próprias peças e através de campanhas fortes e de vídeos cheios de personalidade, o designer levou o próprio nome mais longe.
“Percebo que, para algumas pessoas, possa ter sido um bocado precoce, mas desde muito cedo que quis começar a trabalhar em algo que fosse meu”, conta o jovem criador. Quando acabou o 9º ano, preferiu o ensino profissional ao percurso escolar mais óbvio. Foi para a Cenatex, em Guimarães. Hoje, prepara-se para concluir a licenciatura em Design de Moda na ESAD, em Matosinhos. Num momento em que todos os outros designers se preparam para debutar, ele já tem obra feita, uma etiqueta própria, clientes fiéis e um historial de nove coleções sazonais.
“Era pequeno e ia com o meu pai mandar fazer fatos por medida. Já a minha mãe, comprava imensas revistas de moda e eu absorvia aquilo tudo. Por isso, na escola, quando tive de tomar uma decisão, foi moda que quis seguir”, afirma. Antes disso, já se tinha aventurado no papel. Chegou a desenhar fatos para o alfaiate do pai executar, com pequenos toques de modernidade. Apesar da alfaiataria ter estado sempre presente, nunca teve dúvidas de que queria deitar mãos ao guarda-roupa feminino. Afinal, independentemente do género, há sempre espaço para colarinhos e lapelas. “Dizem que a minha mulher é maria rapaz e eu percebo. Até certo ponto, ela é um bocado despreocupada, descontraída e não tem muito tempo para perder a arranjar-se de manhã”, explica.
https://www.facebook.com/goncalopeixotoficial/videos/1624876344238670/
Se no início, deu largas à criatividade e quis explorar todas as formas e conceitos, depressa percebeu que a moda tinha de ser vestível, sobretudo quando o que queria era criar uma marca financeiramente sustentável. O arranque foi possível com o um empurrão dos pais e com mão-de-obra própria. Nas primeiras quatro coleções, Gonçalo desenhou, desenvolveu os moldes e costurou 95% das peças. Um adolescente autodidata? Parece que sim. “Criei a marca há três anos e há três anos que tenho contas para pagar. Hoje, é autosuficiente”, admite.
À parte do estilo desportivo e sofisticado que foi apurando com o passar das estações, a forma como apresentou a marca ao mundo foi pensada ao detalhe, desde o primeiro dia. “Comecei logo a investir em boa comunicação, aliás, tínhamos de comunicar bem para estarmos no mesmo patamar de marcas que apresentavam em desfiles. Era a única forma de chegar aos meus clientes e de criar um público”, explica. No ano passado, deu-se uma reviravolta. Pela primeira vez, Gonçalo apanhava um avião com uma equipa para fotografar a campanha da coleção outono-inverno 2017/18. O destino foi Marraquexe, depois de ter descoberto a cidade numa viagem de férias. “Quando estava em casa a começar a desenhar, percebi que era ali que me queria inspirar, naquelas mulheres, nas cores, nos cheiros e nos sabores”, afirma. Na dita campanha, começou a trabalhar com o stylist Nelson Vieira. A estrutura começava a aumentar, com cabelos, maquilhagem, styling e direção criativa. Um ano depois, a mesma equipa voltou a embarcar, desta vez rumo às paisagens áridas de Lanzarote. Pelo meio, houve um inverno finlandês a gelar a paleta, prova de que a criatividade de Gonçalo Peixoto anda ao sabor da bússola. Mesmo com uma coleção como a do próximo verão, inspirada na obra do arquiteto espanhol Ricardo Bofill, o criador consegue sempre encontrar raízes numa determinada paragem.
See Now, Buy Now
↓ Mostrar
↑ Esconder
O desfile de Gonçalo Peixoto está marcado para o sábado e, pouco tempo depois, a coleção outono-inverno 2018/19 vai estar à venda na Minty Square, até 20 de março. Os preços variam entre 200€ e 400€ e as peças são produzidas nos 10 dias após as encomendas.
Em setembro, o perfil da marca na plataforma Not Just a Label valeu-lhe um convite para ir a Londres. Através de um talent scouter britânico, uma espécie de caça-talentos na área da moda, Gonçalo estreou-se na passerelle, mas em Devonshire Square, durante a London Fashion Week. Seis meses depois, está na altura de ir à segunda volta. No próximo sábado, o designer estreia-se na plataforma Lab da ModaLisboa, naquele que será o seu primeiro desfile em solo português. O convite caiu-lhe no colo, num momento em que o criador está empenhado em terminar o curso para só depois apostar em força numa estratégia de crescimento. Além de um espaço no Porto, que sirva de atelier para as seis costureiras que já trabalham para a marca a tempo inteiro, o objetivo é virar o nome Gonçalo Peixoto lá para fora e estar presente em feiras internacionais do setor. Embora não se possa queixar da atual clientela, o desfile deste fim-de-semana pode aumentar significativamente a projeção da marca em Portugal. “As minhas clientes são maioritariamente portuguesas, têm entre 20 e 45 anos e estão sobretudo no Norte. Compram na loja online [criada no final do ano passado] e na Minty Square, mas também em lojas físicas como a Hay Carmo, em Lisboa, e a The Feeting Room, em Lisboa e no Porto”, acrescenta.
Atualmente, um coleção tem em média 70 peças e o designer considera estar ainda no início de um percurso ascendente. Na mesma semana em que desfila no Pavilhão Carlos Lopes, lança também a sua primeira linha de óculos de sol, um acessório fetiche que ajuda a traçar aquele que será o caminho da marca Gonçalo Peixoto: diversificar a oferta. Depois de sapatos, óculos e malas, a perfumaria e a maquilhagem são o limite. E arriscar na moda masculina? Quanto a isso, não tem dúvidas: “Só quando fizer tudo o que existe para as mulheres”.
Nome: Gonçalo Peixoto
Data: 2014
Pontos de venda: loja online, Minty Square, Hay Carmo (Lisboa) e The Feeting Room (Lisboa e Porto)
Preços: 100€ a 650€
100% português é uma rubrica dedicada a marcas nacionais que achamos que tem de conhecer.