Sabe-se que a maior parte da contaminação dos oceanos com microplásticos tem origem em terra, mas pouco se sabe como é que estas partículas vão parar a alto mar ou que papel têm os rios neste processo. Uma investigação agora publicada na revista científica Nature Geoscience mostra que as enxurradas podem arrastar os microplásticos acumulados nos leitos dos rios para o mar.

A equipa da Universidade de Machester, no Reino Unido, recolheu sedimentos em 40 locais no leito de dez rios no noroeste de Inglaterra, cuja água segue até ao estuário Mersey. Num primeiro momento registaram a concentração destas micropartículas nos leitos dos rios com uma corrente baixa. Depois das enxurradas do inverno de 2015-2016 voltaram a analisar os mesmos locais: 28 desses 40 locais viram a sua concentração em microplásticos (partículas com menos de cinco milímetros de comprimento) diminuir.

As cheias tinham conseguido arrastar cerca de 70% dos microplásticos acumulados no leito do rios, o que equivale a 0,85 toneladas ou 43 mil milhões de partículas arrastadas para o mar da Irlanda. Sete destes 40 locais ficaram mesmo totalmente livres destas micropartículas.

Estima-se que existam 4,85 biliões de partículas de microplástico no oceano, embora os autores deste artigo considerem que, depois do que demonstraram, a concentração possa ser muito maior. Os microplásticos usados na indústria cosmética ou aqueles que resultam da degradação de plásticos maiores, por exemplo, podem estar na origem desta contaminação.

Estes microplásticos podem ser ingeridos pelos animais marinhos juntamente com o plâncton (animais e plantas microscópicos) de que eles se alimentam. Ao contrário dos plásticos maiores, que podem sufocar os animais marinhos ou entupir-lhes o sistema digestivo, os microplásticos podem ser absorvidos pelo organismo e acumulados nos órgãos e músculos. Esses animais servem de alimento a outros animais, que acabam por também acumular microplásticos no organismo. Outro dos destinos dos peixes contaminados com microplásticos é o nosso prato. Estas partículas constituem um problema acrescido por poderem ser um veículo para alguns contaminantes que, à boleia dos microplásticos, se acumulam no organismo, incluindo o dos humanos.

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