A embaixadora do Reino Unido em Portugal, Kirsty Hayes, considera que o alegado envenenamento da Rússia ao ex-espião Sergey Skripal e à sua filha quando ambos estavam em solo britânico é um “incidente extremamente grave”. Repetindo as palavras da primeira-ministra britânica, a diplomata referiu que é “altamente provável que o Estado russo esteja por trás desta tentativa de assassinato”.
A embaixadora Kirsty Hayes falou à imprensa portuguesa poucas horas após o Governo de Theresa May ter anunciado uma série de medidas contra a Rússia, depois de ter estabelecido as 00h00 desta quarta-feira como o prazo limite para uma resposta de Moscovo a uma série de perguntas de Londres.
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“Demos um prazo à Rússia até ao final do dia de ontem para responder às perguntas que apresentámos. Como não obtivemos respostas, o Governo britânico tomou uma série de medidas de retaliação robustas e adequadas de acordo com os nossos valores democráticos e princípios de um Estado de direito”, disse a embaixadora britânica, num briefing com jornalistas esta quarta-feira.
As medidas incluem:
- Expulsão de 23 funcionários da Embaixada da Rússia em Londres que foram previamente sinalizados como agentes dos serviços de informação russos;
- A suspensão de relações diplomáticas ao mais alto nível entre os dois países, o que resultará na ausência de ministros ou membros da família real britânica no Mundial de futebol na Rússia, que começará a 14 de junho;
- Criação de legislação que permita ao Reino Unido combater ações hostis de outros países da mesma forma que combate o terrorismo;
- Congelamento de ativos russos sediados no Reino Unido caso seja provado que estes servem para financiar ações hostis e solo britânico.
Sergey Skripal e a filha, Yulia, foram encontrados inconscientes no dia 4 de março em Salisbury, no Sul de Inglaterra, depois de terem saído de casa do ex-espião, ido a um restaurante e a um pub. Esta segunda-feira, 12 de março, a primeira-ministra britânica, Theresa May, disse que era “altamente provável” que o envenenamento tivesse sido da responsabilidade da Rússia. A ajudar essa tese está a informação de que o agente neurotóxico utilizado para o envenenamento foi uma substância conhecida como novichok, que foi criado na antiga União Soviética.
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De acordo com os tratados internacionais, os países que forem acusados de usar armas químicas têm até 10 dias para responder. Ainda assim, Theresa May decidiu anunciar aquele rol de medidas apenas dois dias depois de ela própria ter apontado o dedo a Moscovo. A primeira-ministra britânica referiu esta quarta-feira na Câmara dos Comuns que a resposta russa ao ultimato britânico era uma prova de “sarcasmo, desprezo e desafio”, indicando que não valia a pena esperar 8 dias para tomar uma posição.
Em Lisboa, a embaixadora Kirsty Hayes sublinhou ainda que “isto não é apenas uma questão bilateral, tem implicações também para os outros países da União Europeia e para a segurança europeia”. “Foi um ataque em que um Estado usou uma arma química proibida contra outro Estado e o que é mais grave é que foi a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que um agente neurotóxico foi usado de forma hostil na Europa”, disse.
“Depois do caso Litvinenko [ex-espião morto com polónio em Londres, no ano de 2006], da Crimeia e da Síria, este é o exemplo mais recente de como a Rússia representa uma ameaça para os nossos interesses, os nossos valores e a nossa segurança”, acrescentou a diplomata.
A embaixadora do Reino Unido em Portugal demonstrou ainda gratidão pela declaração do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, referindo que ficou demonstrada a “solidariedade de Portugal”.
Esta terça-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros emitiu um comunicado onde era dito que “o Governo português expressa a sua forte solidariedade para com o Reino Unido, país amigo e aliado, e condena veementemente a tentativa de assassinato de dois cidadãos russos no seu território”. Porém, no comunicado, não eram feitas nenhumas referências diretas à Rússia, cujo ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, esteve reunido com Augusto Santos Silva no dia 26 de fevereiro, em Moscovo.
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