Elizabeth Holmes, fundadora da Theranos, foi acusada de fraude pelo Securities and Exchange Commission (SEC, equivalente à CMVM portuguesa). O regulador dos mercados financeiros norte-americanos acusou a empreendedora de 34 anos, a empresa que lançou quando tinha 19 e o ex-presidente Ramesh “Sunny” Balwani de uma “elaborada e longa fraude com a qual captaram mais de 700 milhões de dólares a investidores, graças a declarações falsas que prestaram sobre a tecnologia, os negócios e o desempenho financeiro da empresa”, escreve o regulador dos mercados em comunicado.

Os advogados da empresa de análises de sangue e da mulher que foi a primeira a estar entre os líderes de topo dos principais unicórnios (startups avaliadas em mais de mil milhões de dólares) do mundo e a mais jovem a entrar para a lista dos multimilionários da Forbes já disseram que querem chegar a acordo com o regulador. Além de terem concordado em pagar uma multa de 500 mil dólares, Holmes está disposta a renunciar ao voto maioritário que a faz ter controlo sob a empresa, bem como reduzir substancialmente o capital social que ainda detém. Holmes está proibida de exercer cargos executivos em empresas cotadas durante 10 anos.

As queixas do SEC alegam que a Theranos, Holmes e Balwani teceram “inúmeras declarações falsas e enganosas nas apresentações que fizeram a investidores, nas demonstrações dos produtos e em artigos de imprensa, através dos quais conseguiram enganar os investidores, levando-os a acreditar que o seu produto-chave — um analisador de sangue portátil — poderia realizar exames de sangue abrangentes através de gotas de sangue, revolucionando a indústria. Na verdade, de acordo com a queixa da SEC, a tecnologia que a Theranos dispõe consegue completar apenas um pequeno número de testes”, lê-se no documento.

Elizabeth Holmes foi a protagonista de um dos maiores escândalos empresariais de 2016. Depois de ter sido destacada por várias publicações internacionais, de ter sido comparada a Steve Jobs e de ter visto a empresa que lançou aos 19 anos ser avaliada numa ronda de investimento em cerca de 9 mil milhões de dólares (8,5 mil milhões de euros), Holmes e a Theranos foram alvo de uma investigação do The Wall Street Journal.

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O jornalista revelou que o produto que a Theranos vendia não cumpria com a função que anunciava e através da qual queria revolucionar a indústria das análises ao sangue e as consequências não tardaram: a empresa foi proibida de prosseguir com os testes pela entidade reguladora norte-americana, a Food and Drugs Administration (FDA), e os investidores começaram a processar a empresária e a empresa por fraude. Agora, foi a vez do regulador dos mercados.

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Entre as queixas que foram enviadas ao regulador está o facto de Holmes ter dito aos investidores que os produtos da Theranos tinham sido implantados pelo Departamento de Defesa dos EUA nos campos de batalha do Afeganistão e que a empresa geraria mais de 100 milhões de dólares em receitas, em 2014. Mas a verdade é que nada disto aconteceu e as receitas foram pouco mais além dos 100 mil dólares.

“Como resultado da conduta alegadamente fraudulenta, ela está a ser retirada da empresa que fundou, vai devolver milhares de ações que tem à Theranos, e vai ser proibida de ter cargos executivos em empresas cotadas durante 10 anos”, afirmou Stephanie Avakian, codiretora do departamento de execução do SEC.

A história da Theranos é uma lição importante para Silicon Valley. Os inovadores que procuram revolucionar uma indústria e torná-la disruptiva devem dizer aos investidores a verdade sobre o que a sua tecnologia pode fazer hoje e não apenas o que esperam que ela faça no futuro”, acrescentou Jina Choi, responsável pelo departamento regional da SEC em São Francisco.

O processo ainda tem de ser levado a tribunal. Os advogados da Theranos e de Elizabeth Holmes não admitiram nem negaram as alegações que constam na acusação do SEC.