Como se não bastasse as bactérias desenvolverem resistência aos antibióticos, ainda são capazes de transferir essa capacidade a outras bactérias, sejam elas da mesma estirpe ou não. E há uma proteína que ajuda neste processo. Uma equipa de investigadores do Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL, na sigla em inglês) conseguiu perceber de que forma é que a proteína cumpre essa função, conforme publicaram esta quinta-feira na revista Cell. Bloquear a ação desta proteína pode impedir que os genes de resistência antimicrobiana passem de umas bactérias para as outras.
Embora a partilha de genes de resistência aos antibióticos entre bactérias não seja uma novidade, os processos moleculares que o permitem não são bem conhecidos. Sabia-se que as bactérias usavam os transposões, elementos saltitantes de ADN que transportam esses genes. Agora, os investigadores perceberam que a proteína transposase envolvida no processo força a porção de ADN a desenrolar-se para conseguir mais facilmente cortar a parte que lhe interessa.
“A distorção do ADN também ajuda a inserir a porção resistente ao antibiótico em vários locais numa grande variedade de bactérias, expandindo a capacidade de transferência de genes”, explicou ao Observador Orsolya Barabas, coordenadora do grupo de Biologia Estrutural e Computacional do EMBL.
Saber como é que os transposões passam de uma bactéria para a outra e o papel que a proteína tem neste processo, vai permitir aos investigadores procurar moléculas que bloqueiem a proteína ou estes movimentos. Uma possibilidade é impedir que a proteína adquira a estrutura tridimensional que a torna funcional, usando, para isso, um novo peptídeo (um cadeia curta de aminoácidos). Outra possibilidade é usar uma molécula que imite o ADN e que se ligue ao transposão, impedindo que a transferência de genes ocorra.
“A longo prazo, estas estratégias podem, por exemplo, prevenir a transferência de resistência em pessoas que tenham sido identificadas como portadores de bactérias resistentes a antibióticos, ajudando a controlar a disseminação deste genes de resistência”, disse Orsolya Barabas.
A descoberta da estrutura molecular da proteína é um passo importante para que se possa prevenir esta transferência de genes, mas até que isto chegue à prática clínica há um longo caminho a percorrer. Atualmente, o grupo de Orsolya Barabas está concentrado não só em compreender como é que o mecanismo funciona in vitro, nas condições controladas de um laboratório, mas também como funciona na vida real, num organismo vivo. A investigadora considera que, para isso, é preciso apostar mais na microbiologia e na investigação destes mecanismos.