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Doença Pneumocócica: um desafio para a saúde pública e o bem-estar social

Reconhecida como uma das principais causas de infeções respiratórias, o pneumococo é a bactéria responsável pela doença pneumocócica, uma das principais causas de mortalidade evitável.

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Pneumonia, otite, sinusite, meningite ou mesmo septicémia. Estes são apenas alguns exemplos de nomes de doenças que certamente conhece e, provavelmente, em alguma fase da sua vida até já se deparou com um diagnóstico destes. Mas o que será que existe em comum em todos estes nomes?  A verdade é que há uma responsável silenciosa. Foi descoberta por Louis Pasteur em 1881, mas, infelizmente, não perdeu atualidade e continua a fazer parte dos desafios da medicina nos dias de hoje: volvidos 143 anos, a bactéria Streptococcus pneumoniae, também conhecida como pneumococo, continua a estar na origem da chamada doença pneumocócica, responsável por abrir a porta do nosso corpo às doenças já mencionadas.

A doença pneumocócica é considerada uma das principais causas de morte evitável a nível mundial. Da prevenção ao tratamento, passando pela grande evolução que tem existido com a aprovação de novas vacinas, a verdade é que contamos hoje com mais e melhores armas para enfrentarmos esta bactéria. Este tema estará em debate já no próximo dia 12 de novembro, Dia Mundial da Pneumonia, no “Fórum de Inovação Para a Doença Pneumocócica”, com a MSD Portugal a juntar em Lisboa vários líderes científicos, representantes de associações de pessoas com doença, autoridades de saúde, entre outros intervenientes da gestão desta importante patologia. O objetivo será debater estratégias de combate à Doença Pneumocócica ao Longo da Vida. Antecipe-se e fique a conhecer melhor esta doença.

4.488

Número de óbitos por pneumonia em Portugal em 2022, representando 3,6% da mortalidade total nesse ano[1].

O que é a doença pneumocócica e como é que surge?

A doença pneumocócica é uma infeção causada pela bactéria Streptococcus pneumoniae, também conhecida como pneumococo, que vive naturalmente na naso-orofaringe (a parte superior da garganta e cavidade nasal) de muitos seres humanos. No entanto, em certas condições, a bactéria aproveita momentos de maior fragilidade para migrar para outras áreas do corpo, onde causa infeções. O pneumococo é hoje reconhecido como uma das principais causas de infeções respiratórias, especialmente a pneumonia, com níveis de gravidade muito variáveis, até porque existe uma forma de doença conhecida como não invasiva (menos grave) e outra conhecida como invasiva (mais grave). Aliás, como recorda Filipe Froes, médico pneumologista, Doutorado em Saúde Pública, membro do Conselho Nacional de Saúde Pública e do Advisor Committee on Public Health Emergencies da Comissão Europeia, alguns anos depois da descoberta de Louis Pasteur, “o microbiologista alemão Fraenkel propôs o nome de Pneumococcus devido à sua associação significativa à pneumonia e ao pulmão”.

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“Nos países mais desenvolvidos, que já ultrapassaram o problema da tuberculose e onde se inclui Portugal, o Pneumococcus é a bactéria associada a maior mortalidade, admitindo-se que represente cerca de 40% de todos os internamentos hospitalares por pneumonia adquirida na comunidade.”
Filipe Froes, médico pneumologista

Quais são os tipos específicos de doenças causadas pelo pneumococo?

Como vimos, o pneumococo pode originar diversas infeções, desde as mais simples até às que representam perigo de vida. Nas formas menos graves, encontramos doenças como otites e sinusites, que afetam sobretudo o ouvido e os seios nasais. Já nas formas mais graves, o diagnóstico pode levar-nos à pneumonia bacteriémica, ao empiema (infeção no espaço pleural), à meningite (que afeta o cérebro e a medula espinhal) ou mesmo à septicémia (infeção generalizada no sangue), que podem ser fatais. Entre as infeções mais comuns está efetivamente a pneumonia, que ocorre quando a bactéria infeta os pulmões. A pneumonia pode ser não invasiva, quando a infeção fica restrita ao pulmão, ou invasiva, quando a bactéria se espalha para o sangue ou para o espaço pleural, entre o pulmão e a parede torácica. Estes quadros são muito perigosos, especialmente para os mais vulneráveis, e exigem tratamento rápido.

“A pneumonia é a primeira causa de internamento e de letalidade intra-hospitalar por doença respiratória em Portugal.”
Filipe Froes, médico pneumologista

Todos podemos ser afetados pela doença pneumocócica ou há pessoas em maior risco?

A doença pneumocócica afeta pessoas de todas as idades, mas algumas têm de facto um risco bastante superior. Crianças pequenas e idosos têm maior probabilidade de infeção e complicações graves. Pessoas com doenças crónicas, como problemas cardíacos, respiratórios, diabetes ou insuficiência hepática, estão também mais suscetíveis, assim como indivíduos imunocomprometidos, incluindo pessoas que vivem com o vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), doenças autoimunes ou que estão a fazer tratamentos imunossupressores, como acontece nos tratamentos oncológicos. Sempre que temos uma doença de base que afeta o nosso sistema imunitário, ou nas faixas etárias mais frágeis, o corpo não dispõe de todas as capacidades necessárias para combater uma infeção, o que facilita que o pneumococo se propague, encontrando espaço para se desenvolver nas formas mais graves da doença, gerando mais complicações e riscos.2,3

De que forma é que o pneumococo afeta pessoas com doenças crónicas?

Para pessoas com condições crónicas, uma infeção por pneumococo pode, não só agravar a própria doença de base, como também levar a complicações adicionais. Por exemplo, uma pessoa com insuficiência cardíaca ou respiratória pode ver esses problemas agravados se desenvolver uma pneumonia. Os estudos mostram que mais de 70% dos doentes hospitalizados por doença invasiva pneumocócica (DIP) têm pelo menos uma outra condição de saúde associada.4 Além disso, estes doentes precisam de internamento em unidades de cuidados intensivos com maior frequência, registando-se também internamentos mais demorados, o que implica custos elevados para o sistema de saúde e, sobretudo, uma recuperação mais difícil para os doentes e as suas famílias.

16,5 %

Taxa de mortalidade em adultos internados por doença invasiva pneumocócica (DIP) [4]

6101

Custo total médio por adulto internado por doença invasiva pneumocócica. [4]

A doença pneumocócica tem muito impacto em Portugal?

A doença pneumocócica é uma das principais causas de mortalidade evitável, afetando especialmente crianças menores de cinco anos e idosos com mais de 65 anos. Em Portugal, a pneumonia causada pelo pneumococo é a primeira causa de morte por doenças respiratórias, excluindo o cancro do pulmão5. Em 2022, foram registadas mais de 4.400 mortes por pneumonia no país, o que representa cerca de 12 óbitos diários e mais de 3% do total de mortes.1 Além do impacto direto na saúde dos doentes, a doença pneumocócica representa também uma carga económica substancial, tanto pelo seu peso nas hospitalizações, como no recurso aos serviços de urgência ou mesmo em fármacos e outros tratamentos. No total, “40% dos internamentos hospitalares por pneumonia” adquirida na comunidade são atribuídos ao pneumococo, frisa Filipe Froes.

Quais são as complicações mais graves da doença pneumocócica e como é que isso se reflete na evolução dos doentes?

Entre as complicações mais graves, como vimos, estão a pneumonia bacteriana, bacteriemia (infeção no sangue), septicemia (infeção generalizada) e meningite, que exigem hospitalização imediata.6 Estas complicações afetam especialmente os idosos ou outras pessoas que tenham o sistema imunitário afetado, por terem maior dificuldade em combater a infeção.1,2 Mesmo sem olhar apenas para os mais velhos, a mortalidade intra-hospitalar por DIP é sempre elevada, situando-se em 16,5%4, e o custo médio por adulto internado ultrapassa os 6.000 euros só em custos diretos.4

O que pode ser feito para prevenir a doença pneumocócica?

A prevenção é fundamental para combater a doença pneumocócica, como é, de resto, em quase todas as doenças. O pneumococo é transmitido por gotículas respiratórias, como tosse ou espirros, e a manutenção de hábitos saudáveis, como a higiene oral, o não consumo de tabaco e a moderação no consumo de álcool, ajuda a reduzir o risco de infeções. O controlo de doenças crónicas, como diabetes e problemas cardíacos, também é importante. A prevenção contra infeções virais respiratórias, como a gripe e a COVID-19, pode prevenir pneumonias e complicações graves. A prevenção pneumocócica, por sua vez, é a medida mais eficaz para evitar infeções sérias, pois prepara o sistema imunitário para responder aos serotipos mais comuns de pneumococo. Se a informação ainda estiver a parecer complexa, o pneumologista Filipe Froes propõe um acrónimo que o ajudará a recordar os principais fatores de risco ou áreas chave. Chama-se ATCHIN, ou não estivéssemos nós perante uma doença respiratória: Álcool, Tabaco, (doenças) Crónicas, Higiene, Imunossupressores, Nutrição.

Referências

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[1] INE – causas de morte 2022, Maio 2024.

[2] Direcção Geral de Saúde Norma 11/2015 — Vacinação Contra Infeções Por Streptococcus pneumoniae de Grupos Com Risco Acrescido Para Doença Invasiva Pneumocócica (DIP). Adultos (≥18 Anos de Idade). 2015. Available online: http://nocs.pt/wpcontent/uploads/2017/11/i021902.pdf (accessed on 18 october 2024).

[3] Rodrigo Costa, Rui Costa. Prevenção da doença pneumocócica no adulto nos cuidados de saúde primários: perspetivas futuras. (2023). Revista Portuguesa De Medicina Geral E Familiar, 39(6), 601-8.

[4] Filipe Froes, et al. Comorbilidades em Adultos Internados com Doença Invasiva Pneumocócica em Portugal Continental – Estudo SPHERE. Poster apresentado na 28as Jornadas Nacionais Patient Care que decorreu no Centro de Congressos de Lisboa entre 21 e 23 de fevereiro de 2024.

[5] Venceslau Hespanhol, Cristina Bárbara (2020). Pneumonia mortality, comorbidities matter? Pulmonology, Volume 26, Issue 3.

[6] Morrill HJ, Caffrey AR, Noh E, LaPlante KL. Epidemiology of pneumococcal disease in a national cohort of older adults. Infect Dis Ther. 2014 Jun;3(1):19-33. doi: 10.1007/s40121-014-0025-y. Epub 2014 Apr 12. Erratum in: Infect Dis Ther. 2014 Jun;3(1):61-2.

PT-NON-03319 11/2024
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