Dois bebés nasceram no último sábado no hospital de Portimão sem qualquer pediatra presente na instituição, o que levou a que um dos recém-nascidos, cujo parto teve complicações, tivesse de ser assistido por uma equipa de anestesistas e não por um pediatra.

A situação foi denunciada pelo deputado do PSD Cristóvão Norte, eleito pelo círculo do Algarve, que considera “grave e irresponsável” que o Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) “não assegure pediatras na unidade de Portimão, de modo a garantir a segurança no funcionamento dos serviços, designadamente no bloco de partos, berçário, neonatologia e internamento de pediatria“.

“O episódio de sábado à noite na maternidade do Hospital de Portimão tem que ser objecto de abertura de inquérito, pois tiveram lugar dois partos sem pediatra, num dos casos com graves complicações, as quais levaram a que o recém-nascido tivesse que ser reanimado”, defende o deputado social-democrata, alertando que o funcionamento da instituição “nestes termos apenas poderá conduzir a uma tragédia”.

Fonte oficial da administração do CHUA confirmou ao Observador que o que aconteceu no sábado foi “num contexto de exceção“, mas lembrou que “a carência de profissionais ao nível da especialidade de Pediatria no CHUA é já sobejamente conhecida“.

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Apesar da carência de pediatras, o hospital de Portimão explica que “o Conselho de Administração e a equipa do Departamento da Criança, Adolescente e Família têm trabalhado com empenho para garantir todas as escalas o que, graças à disponibilidade de toda a equipa de Pediatria, tem acontecido”.

“Salienta-se que nos últimos 6 meses, em resultado do esforço desenvolvido, tem havido uma cobertura de 100% nas escalas de pediatria. O ocorrido no dia 17 tratou-se de uma situação excepcional e imprevisível“, garante o hospital.

A mesma fonte explicou que, dada a falta de pediatras na unidade de Portimão, sempre que não há profissionais disponíveis ali, a norma é transferir as grávidas em trabalho de parto para a outra maternidade do Centro Hospitalar, que fica no hospital de Faro.

“No entanto, em alguns casos mais emergentes, designadamente em situações de parto iminente, por questões de segurança para a mulher e para o bebé, não se equaciona a transferência das utentes para a Unidade de Faro, garantindo esta unidade os recursos necessários para a realização do parto”, acrescenta o hospital.

“A criança foi devidamente assistida por uma equipa de anestesistas altamente qualificada e assessorada pela Diretora do Departamento da Criança, Adolescente e Família do CHU Algarve”, explicou ainda a fonte do Centro Hospitalar, garantindo que “a mãe e o bebé encontram-se bem“.

A falta de médicos na região do Algarve, sobretudo a de pediatras em Portimão, tem sido denunciada repetidas vezes nos últimos meses. Em janeiro do ano passado, a urgência de Pediatria daquele hospital teve de ser assegurada por uma unidade privada durante alguns dias.

Na altura, o administrador da ARS Algarve, João Moura Reis, dizia à agência Lusa que aquela tinha sido a forma encontrada “para evitar que as crianças tenham que se deslocar ao hospital de Faro, em caso de urgência“, sublinhando que na origem do problema tinha estado a dificuldade em preencher as escalas de Pediatria com os médicos do hospital.

Em julho de 2017, o problema repetiu-se, com a urgência de Pediatria a ter de encerrar. Na altura, como relatava o Correio da Manhã, foi afixado um papel à porta das urgências em que se lia: “Hoje não há atendimento por pediatra na Urgência de Pediatria. O atendimento será realizado por médicos de Clínica Geral. Nos casos em que se detetar a necessidade de cuidados pediátricos, as crianças serão transferidas para a nossa unidade de Faro”.

O mesmo jornal noticiou naquela altura que a diretora do serviço de Pediatria, Teresa Marques da Silva, havia apresentado a demissão face às críticas.

No mesmo mês, o PSD apresentou um requerimento ao ministro da Saúde em que apontava “graves problemas” na urgência pediátrica de Portimão.

“A unidade hospitalar do Centro Hospitalar do Algarve (CHA) chega mesmo ao ponto de informar os utentes que, caso se verifique a necessidade de cuidados pediátricos, as crianças serão transferidas para a unidade de Faro, o que representa um risco para a saúde humana”, lia-se no requerimento.

Aos jornalistas, o administrador do Centro Hospitalar, Joaquim Ramalho, reconheceu, em julho, que há “dificuldades em garantir a escala de urgência” no serviço de Pediatria. “Quando é preciso serem observadas por um especialista, vêm para Faro“, explicou o administrador.