Carles Puigdemont foi esta tarde ouvido num tribunal alemão. O juiz do Tribunal Administrativo de Schleswig-Holstein decidiu prolongar a custódia judicial do ex-presidente da Generalitat na Alemanha.

Esta segunda-feira, o advogado do político catalão já tinha admitido a possibilidade de Puigdemont ficar em prisão preventiva. Para Jaume Alonso-Cuevillas, que coordena a defesa do ex-presidente da Catalunha detido este domingo, “consideramos todas as possibilidades, não podemos descartar nada” — e prisão preventiva é uma delas.

O político catalão — que tem estado a viver na Bélgica e foi detido este domingo pelas autoridades alemãs junto à fronteira com a Dinamarca — já passou a última noite na prisão de Neumünster e foi ouvido por um juiz do Tribunal Administrativo de Schleswig-Holstein. É expectável que a família de Puigdemont dê uma conferência de imprensa ainda durante esta tarde, a partir da Bélgica.

O El País, que cita a Reuters, diz que uma porta-voz da justiça alemã assegura que “provavelmente” não existirá uma decisão sobre a extradição de Carles Puigdemont “até à Páscoa”.

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Vários jornalistas mobilizaram-se junto à entrada da prisão de Neumuenster onde Carles Puigdemont passou a noite e de onde saiu para o tribunal para ser ouvido por um juiz. (PATRIK STOLLARZ/AFP/Getty Images)

A Alemanha terá assim de decidir se vai aceitar ou não o pedido de extradição feito por Espanha e se, até lá, irá manter Puigdemont detido ou o liberta com algum tipo de medidas restritivas. O advogado do ex-presidente da Generalitat garante que, para pedir a rejeição da extradição, vai argumentar que existem “motivos fundados” que o fazem “suspeitar” de que o seu cliente não vai ter um “julgamento justo”.

“É evidente que o Estado espanhol tem uma legislação garantista, das mais garantistas da Europa, mas também me parece evidente, e é por isso que vamos lutar, que há motivos mais do que fundados que nos fazem suspeitar que não se vão respeitar essas garantias”, afirmou Jaume Alonso-Cuevillas, numa entrevista à rádio Euskadi.

Este domingo, o advogado de Puigdemont publicou no Twitter uma fotografia, a bordo de um avião, e escreveu: “A voar para Bruxelas. Reunião de advogados e depois para Hamburgo para lançar a equipa jurídica que vai defender o presidente”.

Entretanto, a ex-conselheira Clara Ponsatí está a negociar a sua entrega com a polícia escocesa – reside na Escócia desde que saiu da Bélgica – e Roger Torrent, presidente do Parlamento catalão, inicia esta segunda-feira uma nova ronda de contactos para encontrar um candidato à investidura.

Puigdemont: “Agora não tem de haver violência”

As primeiras declarações do ex-presidente catalão depois de ser detido chegaram através da mulher, Marcela Topor, que contou ao jornal catalão El Punt Avui que Puigdemont lhe disse que “agora não tem de haver violência”, referindo-se aos protestos que aconteceram nas horas depois de ser preso.

De acordo com Marcelo Topor, o político catalão pediu-lhe que transmitisse este pensamento à comunicação social, já que sabe que estão a ser organizadas mais manifestações na Catalunha. Este domingo à noite foram detidas nove pessoas por distúrbios: cinco ficaram em liberdade ainda durante a madrugada e os outros quatro já foram presentes a um juiz esta segunda-feira, tendo sido libertadas com obrigação de apresentações quinzenais.

Vice-presidente do Governo espanhol: Detenção é “uma boa notícia”

Soraya Sáenz de Santamaría considera que a detenção de Carles Puigdemont é a prova de que “as instituições funcionam”, assim como “uma boa notícia”. A vice-presidente do Governo de Mariano Rajoy sublinhou que “ninguém pode continuar a enganar a Justiça infinitamente”.

Santamaría explicou em conferência de imprensa que o executivo espanhol tem vivido estes dias com “muita atenção e muita intensidade”. A vice-presidente espanhola também se referiu ao pedido de plenário urgente por parte do Juntos pela Catalunha, CUP e ERC, tendo pedido aos três partidos para pensarem “na Catalunha”. Soraya Sáenz de Santamaría ainda atirou uma farpa a Roger Torrent, presidente do Parlamento catalão: “Esquece-se de que é presidente do Parlamento. Ser o presidente de determinadas frentes anti-democráticas não é a tarefa do presidente do Parlamento”, defendeu.

Juntos pela Catalunha, CUP e ERC pedem plenário “urgente”

Os três partidos pediram a realização de um plenário com “caráter de urgência” esta semana no Parlamento catalão. O objetivo é debater as duas propostas de resolução conjuntas que o Juntos pela Catalunha, a CUP e a ERC apresentaram para reclamar a liberdade dos “presos políticos” e o compromisso do Parlamento para “velar pelos direitos políticos” de Carles Puigdemont, do ex-conselheiro Jordi Turull e do ex-presidente da Assembleia Nacional Catalã Jordi Sànchez.

Jordi Turull e Josep Rull, do Juntos pela Catalunha, e Raul Romeva, da ERC – detidos desde sexta-feira – pediram a delegação dos seus votos para que a sua opinião seja representada na votação das propostas de resolução. O El País cita fontes parlamentares e avança que vários ex-conselheiros da Generalitat fizeram o mesmo pedido.

Roger Torrent, presidente do Parlamento catalão marcou o plenário urgente para esta quarta-feira, às 10:00 (9:00 em Portugal).

Comissão Europeia: “A nossa opinião permanece inalterada”

O porta-voz da Comissão Europeia garantiu esta segunda-feira que a opinião do organismo europeu sobre a Catalunha “permanece inalterada”. De acordo com Alexander Winterstein, a Comissão baseia-se nos “processos constitucionais” dos Estados-membro da União Europeia.

Inés Arrimadas pede demissão de Roger Torrent

A líder do Ciudadanos na Catalunha pediu a demissão do presidente do Parlamento, responsabilizando-o por muitos dos impasses que se têm sucedido na região nos últimos meses. Para Inés Arrimadas, Roger Torrent “bloqueou o Parlamento durante meses e propôs três candidadatos sabendo que nenhum deles poderia assumir o cargo”.

O presidente do Ciudadanos afirmou esta segunda-feira que Carles Puigdemont “tem de perceber” que não está a enfrentar Mariano Rajoy ou o Governo espanhol mas sim a democracia europeia – explicando que prova disso é o facto de ter sido detido na Alemanha. Albert Rivera defendeu que “quebrar uma democracia não sai grátis e o custo paga-se nos tribunais”.

Entretanto, o porta-voz de Angela Merkel garantiu que “Espanha é um Estado democrático e o conflito deve ser resolvido com base no direito espanhol”. Steffen Seibert afastou a possibilidade da detenção de Puigdemont afetar as relações bilaterais entre Espanha e Alemanha.

Jordi Sànchez admite a hipótese de voltar a ser candidato a presidente

O ex-líder da Assembleia Nacional Catalã admitiu a hipótese de voltar a ser candidato a presidente da Generalitat. Jordi Sànchez, que está preso devido ao seu envolvimento no movimento independentista, tinha anunciado que ia renunciar ao mandato de deputado depois do juiz Pablo Llarena ter recusado deixá-lo em liberdade para ser investido. Agora, está disposto a continuar enquanto deputado e até ser candidato a presidente, “sempre e quando o decidam os grupos parlamentares”.

A mudança de ideias foi motivada pela recente resolução do Comité de Direitos Humanos da ONU, que pediu ao Estado espanhol que se comprometa a garantir os direitos políticos do ex-presidente da Assembleia Nacional Catalã.

(em atualização)