O filme “Terra Franca”, a primeira longa-metragem da realizadora portuguesa Leonor Teles, venceu o “Prix International de la Scam” no festival Cinéma du Réel em Paris, que começou a 23 de março e termina este domingo.

A entrega dos prémios da 40.ª edição do Festival Internacional de Cinema Documental aconteceu este sábado à noite, no Centro Pompidou, e Leonor Teles foi distinguida na secção Competição Internacional, na qual concorriam 11 filmes.

A realizadora de 25 anos, que venceu o Urso de Ouro para Melhor Curta-Metragem com “Balada de um Batráquio”, em 2016, contou à Lusa que ficou “muito surpreendida” com o prémio que carimbou a estreia internacional do filme.

“Estou muito feliz, como é óbvio, e estou muito surpresa porque não contava nada com isto, já me ia embora hoje. Então, foi muito bom. Na verdade, o filme, nas três exibições que teve, correu sempre muito bem, a aceitação foi muito boa, tivemos ótimas reações e isso para mim foi sempre o mais importante”, afirmou a cineasta.

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Leonor Teles destacou que, “obviamente, um prémio destes é sempre importante também para dar continuidade à vida do filme, especialmente em Portugal”, porque “parece que, quando uma coisa é falada internacionalmente, acaba também por ter mais peso em casa”.

“Acaba por ser um festival com bastante prestígio, é uma janela na Europa que dá muita visibilidade aos documentários sobretudo ou então aos filmes que têm ligações com temas ligados ao real, com a atualidade, com cinema de urgência. Acho que especialmente para mim, sendo uma primeira longa [metragem], é assim um grande ‘kick’ e um grande incentivo para continuar a trabalhar”, comentou.

Produzido por Uma Pedra no Sapato, o documentário vai estar, em maio, numa das secções paralelas do Festival de Cinema de Cannes, organizada pela Association du Cinéma Indépendant pour sa Diffusion (ACID), e vai estar, em abril, no Festival Internacional de Documentário de Tui – Play-Doc.

“Terra Franca” retrata a vida de um pescador, Albertino Lobo, e da sua família, tendo sido um dos filmes destacados pelo jornal francês Libération, na edição de hoje, que o descreve como “um vasto filme de família lírico e geracional, que se torna cada vez mais narrativo e empolgante”.

Leonor Teles explicou que, de facto, o documentário “acaba por ser não só um retrato da vida do Albertino Lobo, que é o pescador” mas “mais do que isso é também o retrato de uma família e de uma família bastante portuguesa”.

“Eu acho que é uma família típica portuguesa com as suas tradições e eu acho que qualquer português que veja o filme poderá identificar-se com as personagens, com as pessoas que estão ali representadas. Ao mesmo tempo, tenta também transmitir uma mensagem do que é que é isto da família, desta união, quais são as diferenças entre os pais e os filhos, a minha geração e a geração dos meus pais”, continuou.

O filme também “retrata um estilo de vida de pessoas muito simples, muito genuínas, verdadeiras, maravilhosas”, que “merecem estar figuradas no grande ecrã” e a terra da realizadora, Vila Franca de Xira “uma zona absolutamente incrível” pelo que “é importante o cinema devolver as imagens às pessoas e dar-lhes um novo olhar”.

Graças a um avô varino, a realizadora cresceu “com esta ligação ao rio” Tejo e foi durante um trabalho, na escola de cinema, que conheceu o Albertino e ficou com a imagem de “um cowboy de um western a cavalgar o seu barco”, uma pessoa “que pertencia àquele sítio”.

“Terra Franca começou com estas duas premissas: um lugar e uma personagem. E depois com uma procura, com a intenção de passar um ano a filmar, mas ao mesmo tempo ver o que o próprio filme me devolvia a mim (?) O filme começou com a pesca e, depois, devagarinho, começou a abrir a porta para o outro lado do Albertino que era a família”, acrescentou.

Leonor Teles licenciou-se na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa e o seu filme de fim de curso, “Rhoma Acans” (2013) teve uma menção honrosa no IndieLisboa desse ano, venceu o Prémio Take One! no Curtas Vila do Conde, ainda em 2013, e teve uma menção especial do júri no FICUNAM – Festival Internacional de Cinema da Universidade Autónoma do México (2014).

A Balada do Batráquio (2016) ganhou o Urso de Ouro para Melhor Curta-Metragem na Berlinale de 2016, o Prémio Firebird para Melhor Curta-Metragem no Hong Kong International Film Festival, em 2016, a Melhor Curta-Metragem no Belo Horizonte International Short Film Festival, em 2016, e o Prémio Cervantes para Curta Metragem Mais Inovadora no Festival Medfilm, em Roma, em 2016.

Em 2010, Susana Sousa Dias venceu o Grande Prémio do Cinéma du Réel com o filme “48”, e, no ano passado, Ico Costa venceu o prémio de melhor curta-metragem com o filme “Nyo Vweta Nafta”.

O Grande Prémio do festival foi para “L. Cohen”, do norte-americano James Benning, um documentário sobre uma paisagem do Oregon, nos Estados Unidos, atravessada, a dada altura, por uma canção de Leonard Cohen.