887kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

O dia em que um jogo de futebol se jogou sem bola nas bancadas (a crónica do Sporting-P. Ferreira)

Este artigo tem mais de 5 anos

O Tribunal de Alvalade deu o seu veredicto após mais um capítulo autofágico do Sporting: aplausos para os jogadores, assobios para Bruno de Carvalho. Pelo meio, os leões bateram o P. Ferreira por 2-0.

i

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Esta crónica começou a ser escrita ao intervalo do Sporting-P. Ferreira. E foi nessa altura porque, verdade seja dita, esta é a crónica de um jogo onde o futebol em si era o que menos interessava. Esta era a noite em que o Tribunal de Alvalade se ia pronunciar depois de mais uma semana conturbada que confirma o diagnóstico de clube autofágico, que se deixa envolver em crises internas com uma facilidade inexplicável. Aliás, se fizermos uma pesquisa no Google com as palavras “Sporting”, “clube” e “autofágico”, são inúmeras as referências que surgem e em discurso direto, de atuais órgãos sociais, antigos dirigentes e simples adeptos. A primeira? De Bruno de Carvalho.

Já se tinha percebido que o dia 6 de abril de 2018 iria ficar na história dos leões, por todo um conjunto de episódios sem precedentes no clube entre críticas públicas através de redes sociais entre presidente e jogadores e a suspensão de 19 jogadores. O que não se sabia, e que também nunca se tinha visto, era que a aparente unanimidade ratificada em constantes resultados de sufrágios eleitorais ou assembleias gerais tinha sofrido um abalo. Um forte abalo. Um abalo que muitos consideravam ser impensável.

Os ténues aplausos para a entrada dos guarda-redes e dos jogadores de campo para o habitual período de aquecimento não serviu de barómetro para se perceber o veredicto do Tribunal verde e branco em relação ao que se passara nos últimos dias (ou horas, tendo em conta o comunicado colocado por Bruno de Carvalho na sua página oficial do Facebook), mas a saída para os balneários, já com o recinto mais composto, começou a dar sinais daquilo que se iria confirmar uns minutos depois: grande apoio aos jogadores. Mas havia algo mais para a antecâmara do apito inicial de Bruno Esteves. Algo que irá marcar o futuro do Sporting.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

Sporting-P. Ferreira, 2-0

29.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Bruno Esteves (AF Setúbal)

Sporting: Rui Patrício; Ristovski, Coates, Mathieu, Acuña; Battaglia, Wendel (Lumor, 67′); Gelson Martins, Bryan Ruíz (Montero, 84′), Bruno Fernandes (Palhinha, 84′) e Bas Dost

Suplentes não utilizados: Salin, André Pinto, Misic e Doumbia

Treinador: Jorge Jesus

P. Ferreira: Mário Felgueiras; João Góis, Rui Correia, Miguel Vieira, Filipe Ferreira; Assis, Rúben Micael (Vasco Rocha, 75′), Pedrinho; Mabil (Quiñones, 57′), Xavier e Luiz Phellype (Bruno Moreira, 73′)

Suplentes não utilizados: Defendi, Ricardo, Gian e Andrezinho

Treinador: João Henriques

Golos: Bas Dost (20′) e Bryan Ruíz (65′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Luiz Phellype (37′), Acuña (64′) e Assis (86′)

Momentos antes da subida ao relvado, a claque Juventude Leonina, que durante o dia fizera um comunicado a manter uma certa distância em relação à guerra aberta entre presidente e plantel, levantou uma tarja que dizia “Jogadores: amar e sentir o clube, tudo o que vocês não sentem”. Ouviram-se alguns assobios. De seguida, Bruno de Carvalho encaminhou-se para o banco de suplentes. Ouviu-se uma vaia. E se dúvidas existissem, quando o líder verde e branco foi cumprimentar e desejar boa sorte a Jorge Jesus, que estava de pé na sua área técnica, a reação foi a mesma: estava encontrado o destinatário do desagrado dos adeptos presentes em Alvalade (em menor número do que é habitual, acrescente-se, apesar dos 40.868 espetadores anunciados).

Aqui e ali, viam-se cartolinas apontadas ao presidente do Sporting (que noutros tempos relativamente recentes nem sequer tinham entrado no recinto, por serem retirdas à porta por seguranças). Uma dizia “Bye Bye BdC”. Outra dizia “Bruno, adeus”. E outra dizia “Bruno, votei em ti mas… rua” (um outro, escrito numa cartolina verde de forma mais humorística, tinha “BdC, dá-me o teu Facebook”). A bola começou a rolar e da bancada nascente (oposta à central) começou o cântico “Bruno, c*****, pede a demissão”, enquanto no topo norte se levantava também a tarja “A paciência tem limites”. A vertente “política” tinha superado a parte desportiva.

O Sporting até entrou meio alheado no jogo, mas com o passar dos minutos assumiu o seu estatuto de grande, agarrou no controlo da partida e foi chegando com maior fluência ao último terço dos pacenses (ah, isto com a equipa habitual, fora lesionados e castigados, à exceção da surpresa Wendel, que foi titular pela primeira vez desde que chegou ao conjunto verde e branco). Com um aspeto curioso: até aqueles passes errados que de vez em quando levam àquele assobio maroto foram presentados com um “aaahhhh”, como quem diz que para a próxima vai sair melhor. Aos 20′, Bas Dost, o suspeito do costume, materializou essa superioridade, inaugurando o marcador após assistência de Bruno Fernandes. E todos os jogadores comemoraram abraçados em roda.

Houve mais algumas oportunidades falhadas por Dost e Gelson Martins, o intervalo chegou com o 1-0 e repetiu-se o filme dos assobios. No entanto, o “equilíbrio de forças” não iria demorar: quando a bola já rolava de novo no segundo tempo, o mesmo cântico contra Bruno de Carvalho já teve menos vozes a favor e mais assobios contra, e começaram a sentir-se alguns sinais de insatisfação com alguns passes errados. Até que, após uma grande iniciativa de Gelson Martins, Bryan Ruíz apontou o segundo golo. E a roda com dez jogadores de campo juntou também os suplentes, alguns saídos do banco, perante uma ovação (65′).

Nos últimos dez minutos, Bas Dost ainda marcou mas o golo foi invalidado e, pior para o P. Ferreira, Mário Felgueiras saiu lesionado na mão esquerda do lance, obrigando a que Rui Correia tivesse de calçar as luvas na baliza dos castores (que são pouco falados neste texto, mas porque também nunca conseguiram fazer o suficiente para incomodar Rui Patrício ou criar oportunidades, sem que isso belisque a qualidade dos jogadores, que existe, e da própria equipa, como se viu noutras partidas). No entanto, era como se o jogo tivesse acabado, esperando-se apenas o apito final para uma espécie de última manifestação.

Bruno de Carvalho, que teve alguns problemas físicos no último mês, ficou no banco uns instantes e acabou por ser amparado por seguranças e pessoas ligadas ao staff para a zona de acesso aos balneários com dores nas costas enquanto se viam mais alguns lenços brancos e ouviam assobios (em muito menor escala). Já os jogadores juntaram-se no centro do relvado, cumprimentaram-se e, já com Jorge Jesus, foram dar uma espécie de volta olímpica pelas quatro bancadas para agradecer o apoio dos adeptos ao longo do encontro.

Gritou-se “O Sporting somos nós!” entre a ovação final à atitude da equipa. Porque este foi o dia em que um jogo de futebol se jogou sem bola e nas bancadas. O resultado final, esse, será contado pelos próximos dias. Ou mesmo anos.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.