Cristina Cifuentes, presidente da Comunidade de Madrid, anunciou a sua demissão esta quarta-feira, na sequência da divulgação de um vídeo de 2011 onde é vista a ser confrontada por um segurança num supermercado — e acaba por revelar ter alguns cremes na mala que não tinha pago à saída.
Num anúncio feito na sede do Governo regional, a política do Partido Popular (PP) de Mariano Rajoy justificou a demissão como sendo “o melhor para os madrilenos e para o partido”. “Não quero magoar a minha família, que é por quem tomo esta decisão, para que não continuem a sofrer este calvário”, disse Cifuentes aos jornalistas.
No vídeo divulgado pelo jornal OkDiario, Cifuentes (à altura vice-presidente da Assembleia de Madrid) é vista a ser levada para uma sala por um segurança, que a acusa de ter roubado dois cremes e que pede para ver o conteúdo da sua mala. No vídeo, Cifuentes acaba por revelar que tem os cremes dentro da mala — mas a polícia acabou por deixar a deputada regional sair em liberdade depois de ter pagado pelos produtos.
“Este vídeo explica-se por uma situação de erro involuntário”, declarou Cinfuentes, que classificou a divulgação do vídeo como tendo passado “linhas vermelhas evidentes”. “Levei por engano e de maneira involuntária uns produtos de 40€, disseram-mo à saída e paguei-os“, resumiu.
O cargo de presidente da Comunidade será agora ocupado de forma interina pelo número dois do governo regional, Ángel Garrido, mas Cifuentes não anunciou se mantém ou não os lugares de deputada e de presidente do PP na região.
“Todos sabem que se fizeram dossiês contra mim”
Na declaração de 12 minutos, sem direito a perguntas, Cristina Cifuentes denunciou o que considera ter sido a perseguição de que tem sido vítima. “Aguentei mais de 34, 35 dias de exposição permanente”, afirmou, garantindo que foi acossada “de manhã, à tarde e à noite, por terra, mar e ar”.
A responsável do PP afirmou sentir-se acossada, apesar de não ter falado sobre outra polémica que pende sobre si: as irregularidades em torno do seu mestrado que já levaram a demissões na Universidade Rey Juan Carlos. “Todos vocês sabem que fui espiada, que se fizeram dossiês contra mim, que alguns circularam e circulam pelas redações, que sou investigada há anos”, disse, emocionada, numa conferência sem direito a perguntas.
O mestrado fictício que está a criar um problema bem real para o partido de Rajoy
As irregularidades no mestrado de Direito Público do Estado Autonómico incluem a não comparência na maioria das aulas e exames e a falsificação de um certificado do trabalho final de mestrado, mas Cifuentes tem garantido que tudo se trata de “erros administrativos” da Universidade e que as faltas foram acordadas com professores.
O caso, divulgado inicialmente a 21 de março, estava a atingir proporções tais que Cifuentes enfrentava agora uma moção de censura apresentada pelo PSOE com o apoio do Podemos. O Ciudadanos já tinha ameaçado que poderia votar a favor da moção caso Cifuentes não saísse pelo próprio pé — razão pela qual a presidente da Comunidade de Madrid garante agora que iria apresentar a demissão a 2 de maio. A divulgação do vídeo no supermercado terá acelerado essa saída.