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As pernas não disfarçaram o calcanhar de Aquiles mas há sempre aquele pé direito (a crónica do Portimonense-Sporting)

Este artigo tem mais de 5 anos

Sporting teve cinco dias de descanso entre jogos, as pernas ficaram mais soltas mas nem por isso deixou de haver o calcanhar de Aquiles do costume. Depois, Bruno Fernandes resolveu em Portimão (2-1).

Bruno Fernandes apontou o terceiro bis da temporada e chegou ao 16.º golo na primeira temporada no Sporting
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Bruno Fernandes apontou o terceiro bis da temporada e chegou ao 16.º golo na primeira temporada no Sporting

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Bruno Fernandes apontou o terceiro bis da temporada e chegou ao 16.º golo na primeira temporada no Sporting

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Quando terminou o Sporting-Boavista, Jorge Jesus suspirou de alívio. E não, não foi um suspiro de quem anda a tentar gerir uma vantagem pela margem mínima quando isso era o máximo que dava para fazer. Foi, isso sim, um suspiro de quem terminava ali uma série longuíssima de jogos seguidos, sem precedentes em Portugal. Mais do que utilizar uma ideia demasiado batida, vamos então a números e a factos para perceber o que era aquele suspiro.

https://observador.pt/2018/04/28/portimonense-sporting-leoes-procuram-sexta-vitoria-consecutiva-antes-do-derbi/

Desde que começou a temporada, em agosto (e excluindo por razões óbvias as interrupções para os trabalhos das seleções, apesar de pesarem também), os leões tiveram apenas cinco dias de descanso entre jogos em quatro ocasiões. E também tiveram quatro dias de paragem por oito vezes. Agora, o cenário mais complicado: em 28 partidas, houve três dias de intervalo; em 11, somente dois, naquelas 72 horas certas que são estabelecidas como o mínimo indispensável para que um jogador profissional de futebol consiga voltar a estar apto para entrar em campo. Agora, houve segunda, terça, quarta, quinta e sexta-feira para parar, recuperar e voltar aos compromissos oficiais.

Ficha de jogo

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Portimonense-Sporting, 1-2

32.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Municipal de Portimão

Árbitro: Manuel Oliveira (AF Porto)

Portimonense: Leo; Hackman, Lucas, Rúben Fernandes, Rafa Soares; Pedro Sá, Marcel (Dener, 18′), Fede Varela (Ewerton, 86′); Nakajima, Tabata (Wellington Carvalho, 77′) e Fabrício

Suplentes não utilizados: Carlos, Jadson, Ricardo Pessoa e Pires

Treinador: Vítor Oliveira

Sporting: Rui Patrício; Ristovski, Petrovic, Coates, Fábio Coentrão (Misic, 67′); Battaglia (Lumor, 84′), Bryan Ruíz (Montero, 73′); Gelson Martins, Bruno Fernandes, Acuña e Bas Dost

Suplentes não utilizados: Salin, Palhinha, Wendel e Doumbia

Treinador: Jorge Jesus

Golos: Bruno Fernandes (23′ e 89′) e Fabrício (42′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Petrovic (64′); ordem de expulsão a Vítor Oliveira (64′)

Essa foi a grande diferença em relação a outros jogos ganhos pelo Sporting nos últimos minutos como visitante: em Santa Maria da Feira, onde um penálti de Dost resolveu nos descontos, houve um pressing final forte com Coates na frente a dar peso no jogo aéreo; em Tondela, onde um golo de Coates deu o triunfo nos descontos, houve sobretudo coração e uma pontinha de sorte a fazer a diferença; esta noite, em Portimão, contra uma equipa com qualidade acima da média na Primeira Liga a nível de transições, a formação verde e branca soube tornear as dificuldades de um jogo que partiu, conseguiu montar o cerco à baliza dos algarvios e chegou ao 2-1 a um minuto dos 90′. Entre as diferenças, só há uma coisa que não muda: as pernas mais frescas não disfarçaram o calcanhar de Aquiles a jogar fora (os sucessivos golos sofridos por erros individuais e coletivos), mas lá apareceu aquele pé direito do costume a fazer maravilhas e a desequilibrar outra vez um jogo. O pé de Bruno Fernandes, claro.

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O Sporting começou a todo o gás e, um bocado do nada (digamos que em dois minutos é complicado dizermos que alguém já merecia estar em vantagem…), quase inaugurou o marcador na primeira vez que visou a baliza adversária: canto na direita batido por Bruno Fernandes com o arco inverso ao habitual, primeiro desvio de Bryan Ruíz e toque final de Battaglia ao segundo poste para grande defesa de Leo, que fazia o segundo encontro na Liga.

Havia mais leão em campo. Sem uma barba rija nas (raras) vezes em que os algarvios conseguiam sair rápido em transição explorando a velocidade de Tabata ou Nakajima, mas com a juba mais do que suficiente para ir pautando ritmos, jogar no meio-campo adversário e controlar os acontecimentos (aproveitando também alguns minutos de dúvida de Vítor Oliveira, que viu Marcel lesionar-se e andava a tentar perceber se tinha ou não de sair, como veio mesmo a acontecer). Aos 17′, houve mais um lance de perigo na área dos visitados, com Acuña a testar bem a meia distância, Leo a defender para o lado como conseguiu e Dost a ficar muito perto da recarga.

Os comandados de Jorge Jesus pareciam mais soltos, com um jogo mais fluido e chegariam mesmo ao primeiro golo pelo elemento que tem aquele tipo de pilhas que duram, e duram, e duram, e duram: Battaglia limpou uma bola na zona do meio-campo de cabeça para a referência ofensiva da equipa, Bas Dost voltou a ganhar mais uma vez pelo ar (na primeira parte perdeu apenas um duelo do alto dos seus 1,96 metros) e assistiu Bruno Fernandes para, com classe, superar a oposição de Leo e inaugurar o marcador a meio da metade inicial da partida.

A vantagem tranquilizou ainda mais o conjunto verde e branco, empurrado também pelos muitos adeptos que se deslocaram a Portimão e que fizeram a festa ainda antes do apito inicial quando o Tondela conseguiu ir à Luz ganhar ao Benfica. Bruno Fernandes, num movimento muito parecido com o do golo onde Dost foi solicitado no ar não para dar o último toque mas para preparar a oportunidade para outro, rematou por cima (37′); Gelson Martins, depois de uma iniciativa individual fantástica na área com o único senão de ter perdido espaço de remate entre fintas, atirou para mais uma defesa a dois tempos de Leo (40′). Mas o Portimonense estava a melhorar.

Os algarvios iam começando a ter mais bola, como é apanágio na ideia de jogo apresentada por Vítor Oliveira esta temporada. E ganharam peso no meio-campo, com maior equilíbrio de ações e posicionamentos. Faltava qualquer coisa, que acabou por surgir com uma simples troca de flancos: Nakajima, com movimentos sobretudo de fora para dentro, passou para a direita, ao passo que Tabata, com maior capacidade de servir para o último toque, foi para a esquerda. O resultado foi quase imediato: aos 42′, Tabata assistiu Fabrício para o seu 15.º golo da temporada (42′). O intervalo chegaria mesmo com o empate a uma bola, mas já depois de Bryan Ruíz, numa excelente posição no corredor central, atirar em arco mas um pouco ao lado da baliza alvinegra.

Quando se esperava, pelo menos no plano teórico, uma entrada de novo mais forte do Sporting, viu-se exatamente o oposto: um Portimonense com mais bola, com mais remates e com mais perigo. Tanto que conseguiu desligar de forma momentânea durante alguns minutos a conexão entre o meio-campo e Bruno Fernandes, colocado num papel de estratega que só consegue tentar fazer a diferença quando tem a bola colada no pé para pensar.

Aos poucos, o jogo foi partindo. E partindo. E partindo. O meio-campo tornou-se numa Suíça entre dois mundos de defesa/ataque que faziam antever o golo, numa fase vertiginosa de “bola cá, bola lá”: primeiro foi Gelson Martins, a perder ângulo antes de obrigar Leo a nova intervenção atenta (62′, sendo que na sequência o cruzamento de Acuña ficou ligeiramente mais largo do que desejado para a cabeça de Bruno Fernandes); depois foi Nakajima, numa das várias tentativas que foi fazendo em progressão antes de testar a atenção de Rui Patrício da meia distância.

Começava aí o início do resto do jogo. Primeiro foram as nuances táticas com os que estavam em campo, depois foram as alterações técnicas com aqueles que iam saltando do banco. E o Sporting teve dois méritos: primeiro, o de ter arriscado uma exposição muito maior ao adversário que tinha tantas condições para trazer dissabores como bons resultados; depois, o da capacidade de não só estancar as saídas rápidas dos alvinegros mas também de colocar mais unidades no último terço. Misic tentou, Leo defendeu (76′); Bas Dost tentou, a bola saiu por cima (79′); Gelson Martins tentou (sem querer, neste caso), a bola passou a rasar a trave para canto (80′); Gelson Martins tentou de novo, a bola quase roçou o poste (81′). Até que apareceu o pé direito de Bruno Fernandes.

O número 8 até tinha decaído no segundo tempo em termos de exibição, com mais passes falhados do que é normal e menos movimentações entre linhas do que é costume. Parecia, tal como aconteceu de forma gritante com o Boavista, que tinha chegado ao fim a pilha. Mas, ao contrário do que aconteceu com os axadrezados, em que o internacional ficou isolado, correu para a baliza mas atrapalhou-se em fintas aos 89′, aqui foi muito mais clarividente. E genial: cruzamento de Acuña, corte de Rúben Fernandes, domínio no peito e remate de primeira sem hipóteses para Leo. Aquele foi o pé direito que entregou de bandeja a sexta vitória consecutiva do Sporting, igualando a melhor série da temporada. Aquele foi o pé direito que colocou os leões colados ao Benfica (que perdeu com o Tondela) antes do dérbi. Aquele foi o pé direito que fez suspirar Jesus e não só: a continuar assim, a malha dos interessados lá fora vai começar a estreitar ainda mais. Mas isso ficará para outras núpcias, durante e depois o Mundial.

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