Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, escreveu esta segunda-feira um artigo de opinião no DN a propósito das contas do clube e da SAD e da questão dos empréstimos obrigacionistas, numa versão mais curta em papel e na íntegra no online. O líder do clube verde e branco faz uma radiografia resumida da evolução económica e financeira da sociedade nos últimos cinco anos, altura em que foi eleito vencendo nas eleições de março de 2013 José Couceiro, e justifica o novo obrigacionista de um valor até 60 milhões de euros comparando alguns indicadores com os mais diretos rivais, Benfica e FC Porto.
Pelo meio, deixa uma notícia (uma nova negociação da reestruturação financeira) e várias mensagens nas entrelinhas.
“Temos o reequilíbrio da situação económico-financeira de todo o Grupo Sporting, garantindo uma sustentabilidade associada a um crescendo de sucesso desportivo. Crescimento sustentado de todas as linhas de receitas comerciais – direitos TV, merchandising, bilheteira, quotizações, publicidade e patrocínios, entre outros; redução/controlo de custos, seguido de uma fase de investimento com um aumento de custos de forma controlada e sustentada; forte crescimento das receitas de venda de direitos económicos de atletas (…) recuperação dos direitos económicos de 37 jogadores (…) melhor contrato de direitos TV em Portugal resultante da negociação com a NOS num total global de 515 milhões; aumento do número de sócios, tendo já ultrapassado os 170.000 e mantendo um objetivo de crescimento continuado; aumento do património com o Pavilhão João Rocha e forte investimento nas infraestruturas e nas modalidades.”
“Com tudo isto, o ativo da Sporting SAD ascende a 287 milhões de euros, o que duplica desde 2013, sendo que a valorização real dos ativos dos jogadores não está registada, pois os jogadores da formação estão avaliados em quase 0, pelo que este aumento é ainda mais significativo; o capital próprio é positivo em 17 milhões de euros, o que compara com o capital próprio negativo de 116 milhões de euros em 2013; em termos de passivo, destaca-se a redução da dívida bancária em 75 milhões de euros desde 2013, 16 milhões dos quais na presente época, o que é uma amortização superior ao que estava previsto no acordo com os bancos até junho de 2022; em termos de resultados, a soma das últimas quatro épocas completas é de 18 milhões de euros quando as anteriores quatro épocas foi negativo em 160 milhões de euros.”
“Nunca estamos satisfeitos e nestes últimos meses conseguimos negociar uma melhoria das condições da reestruturação financeira, não por necessidade de financiamento adicional pelos Bancos (BCP/NB) ou por um falhanço da reestruturação, mas sim pelo sucesso da mesma (…) O ponto de maior importância para os sócios do Sporting é a alteração do valor máximo a pagar para garantir a manutenção da maioria na SAD, passando de 44 milhões para 17,5 milhões, dos quais já temos na conta reserva cinco milhões e no início da próxima época já teremos a totalidade necessária para garantir a maioria na SAD; definição do preço de compra de cada VMOC a 30 cêntimos por utilização da conta reserva, o que significa que o Clube e seus sócios apenas necessitam de 40,5 milhões para comprar a totalidade das VMOC, em vez dos anteriores 135 milhões; com a alteração de condições de reembolso e a opção de compra das VMOC, deixa de haver a necessidade da nova emissão de 55 milhões de VMOC nem do aumento de capital de 18 milhões, podendo este ser feito ou não. Esta negociação foi conseguida sem aumento das taxas de juros e sem entrega de garantias adicionais aos bancos.”
“Isto tudo também serve para ‘perceber’ a posição tornada pública pela Holdimo, com o pedido de uma AG da SAD, pois a mesma percebeu que rapidamente a sua posição ficará diluída (cerca de 10% face aos 26% atuais).”
“Na avaliação prévia a toda a ‘crise’ institucional do Sporting, os assessores financeiros do Sporting já tinham antecipado alguns riscos relacionados com operações de empréstimos obrigacionistas pelas seguintes razões: há um risco reputacional associado ao SLB [Sport Lisboa e Benfica] relacionado com tudo o que tem vindo a ser divulgado em termos das investigações por parte do Ministério Público (…) A propósito do Sporting ter apresentado uma proposta de 60 milhões, o SLB também fez em 2013 e 2014 um pedido de autorização de empréstimos obrigacionistas até 130 milhões, que foi o compromisso que assumiu com o Novo Banco depois de ter sido apanhado na hecatombe do BES e de ter de reembolsar quase 150 milhões de obrigações emitidas particularmente e que estavam colocadas nos fundos da ESAF (…) O SLB tem três emissões que tem de renovar anualmente de 45+50+60 milhões = 155 milhões. Atualmente o SLB não tem exposição à banca o que limitará qualquer tipo de apoio caso haja defaults (…)”
“A emissão global de 60 milhões visa autorizar os 30 milhões a emitir em Novembro (para reembolsar a linha de 2015) e esta nova operação que poderá ir de 15 a 30 milhões (…) O Conselho de Administração considerou mais sensato, após consulta com os intervenientes do processo e especialistas de mercado, prorrogar a atual emissão obrigacionista de 30 milhões para novembro de 2018 com a manutenção do pagamento de juros de 6,25% (taxa anual) por mais seis meses. Esta decisão foi bem recolhida pelos vários intervenientes no processo, nomeadamente, os bancos, a CMVM e os consultores financeiros da operação (…) Decidiu-se avançar para uma nova emissão de 15 milhões (com possibilidade de aumento) com um juro de 6% como forma de compensar os investidores que têm apoiado a sociedade. O objetivo é fazer um máximo de 60 milhões até 31 de dezembro de 2018 (que contempla o reembolso da atual emissão de 30 milhões) de forma a recolocar estas operações no final do ano civil (como sempre foi prática) e de dividir estas operações em maturidades diferentes.”