Ao todo, são sete os edifícios do campus principal do Facebook, onde se encontram restaurantes gratuitos, um consultório médico, um banco, lavandaria, salas com jogos de vídeo e até um barbeiro. Para quem está curioso, o espaço não tem creche, apesar de todas estas comodidades. Os escritórios têm crescido a um passo acelerado e à volta já nasceram mais campus para acolher os cerca de 13.500 funcionários que ali trabalham.
Na visita que o Observador fez à sede da maior rede social do mundo, em antecipação do F8, o evento de divulgação de novidades tecnológicas da empresa, que vai decorrer a 1 e 2 de maio, estivemos no primeiro campus, nos edifícios 10 a 18 (a numeração começa no 10 e não há o 13, porque “dá azar”) e no edifício 20, onde Zuckerberg trabalha.
Numa altura em que o Facebook está a ser amplamente criticado pela forma como gere a privacidade dos utilizadores — na sequência do caso Cambridge Analytica, houve um pedido recorrente: “respeitem a privacidade dos funcionários e da empresa”. Foi com esta frase que o Facebook justificou aos jornalistas porque não permitia o acesso ao interior da maioria dos edifícios, mas, mesmo assim, permitiu conhecer as principais áreas do espaço onde trabalha quem mantém as plataformas da empresa (além do Facebook, trabalham no campus as equipas que gerem o Instagram, o Messenger, o WhatsApp e o Oculus [Realidade Virtual]).
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O Facebook na vida real (e não na virtual)
Chega-se à sede do Facebook e há logo uma mensagem escondida por detrás da grande placa com um “gosto” gigante: o logotipo da SunMicrosystems. Este é vísivel para todos os empregados que saiam do campus principal e olhem para a esquerda. Pode parecer estranho, mas Mark Zuckerberg quis deixar o símbolo da empresa que antes ocupava os espaços que agora pertencem ao Facebook. O objetivo é lembrar quem ali trabalha que até as grandes empresas podem acabar (a Sun foi comprada pela Oracle, em 2009). E, para não se falhar, é preciso estar motivado, diz o criador da maior rede social do mundo. Por isso, desde 2011, que criou um dos mais conhecidos espaços de trabalho em Silicon Valley.
Perto de escritórios de empresas como a Amazon, a Google ou a Apple, a sede do Facebook, em Menlo Park, passa despercebida. À primeira vista, parece um centro comercial outlet: um conjunto de edifícios rodeado por um grande parque de estacionamento. O ambiente da entrada do 15 (por onde entrámos) já mostra uma típica empresa de Silicon Valley, com funcionários vestidos de forma descontraída, sofás e mesas altas, para os visitantes se sentarem enquanto aguardam para serem recebidos. É possível subir para o segundo andar ou, a partir daí, ir para o espaço ao ar livre, que é rodeado por todos os escritórios e guarda o entretenimento do campus. Foi para este segundo que fomos.
De um canto ao outro está a “Main Street” (rua principal) que liga o edifício 10 ao 18. A inspiração é tirada diretamente dos parques temáticos da Disney, com lojas coloridas a ladearem a rua. É por este espaço que todos os funcionários passam para ir de um edifício ao outro em trabalho ou para irem comer. Ao todo, há seis restaurantes para os funcionários e apenas dois são pagos. De cantinas com refeições para todos os gostos a uma típica hamburgueria americana, o que não falta são opções. Um responsável do Facebook explicou que este investimento nos funcionários tem uma razão prática: à volta do campus, o restaurante mais próximo está a 15 minutos e, assim, a empresa garante que quando os funcionários vão almoçar não precisem de sair de onde trabalham. É por essa mesma razão que, no mesmo espaço, há cafés (a maioria pagos, porque pertencem a negócios locais) e escritórios de apoio aos funcionários.
Um destes pormenores práticos que vimos foi uma máquina automática, como as que vendem bebidas, mas que que vendia apenas produtos tecnológicos. Nestas máquinas, estão desde ratos para portáteis a cabos para telemóveis. Têm todos um preço, mas é apenas para saberem quanto é que o produto custou ao Facebook e para os utilizarem “responsavelmente”. Além disso, há espaços com pessoas cuja função é ajudar os milhares de trabalhadores do campus a chegarem rápido a casa. Dão informações sobre qual é o melhor transporte público (ou da empresa) e tratam das boleias.
No entanto, mesmo assim, 50% dos trabalhadores ainda utiliza o carro para chegar a Menlo Park (a gasolina barata nos EUA é uma justificação). Além desta comodidade, na rua encontram-se ainda lojas “pop-up” (que só estão durante uns dias) e têm produtos do dia-a-dia e referentes a épocas festivas, como o Natal ou Halloween, para incentivar os funcionários a utilizarem-nas e a não “perderem tempo” noutros locais. Para os mais fãs da empresa, há ainda uma loja só com merchandising do Facebook e das suas marcas.
No centro do campus, está a praça central, apelidada de “Hacker” (nome dado a programadores que conseguem contornar as normas de um sistema informático). Neste espaço, onde está um barbeiro e um ecrã gigante com informações sobre o Facebook, os funcionários costumam reunir-se uma vez por semana no final da primavera e verão para ouvirem Mark Zuckerberg e fazerem-lhe algumas perguntas. Além disso, com duas pontes que ligam edifícios a simbolizar a ponte de São Francisco a delimitarem a praça, há também outros eventos como concertos para os funcionários. Mesmo sendo ali que Mark fala com quem trabalha na empresa, o seu escritório é noutro complexo desde 2015, que fica a 10/15 minutos a pé do complexo principal (está ligado também por ciclovia), o edifício 20.
Este prédio desenhado pelo arquiteto Frak Gehry foi o último que visitámos. Para entrar, há dois pontos de segurança e não nos foi permitido entrar nos escritórios onde os principais executivos do Facebook trabalham. O enfoque da visita foi no parque com um quilómetro de comprimento que está por cima do prédio e tem vista para todos os outros edifícios do mega campus Facebook. Mais uma vez, o objetivo é incentivar os trabalhadores a terem também momentos de lazer na empresa.
Duas coisas destoaram ao longo da visita. O nome “Facebook” em azul não está patente em nenhum local dentro do espaço principal do campus. Além disso, há salas inacabadas. Para o primeiro, a justificação foi parca: a empresa prefere utilizar nos escritórios os símbolos que tem, como o gosto e o botão de partilhar, em vez da marca escrita por extenso. Para o segundo, mais uma mensagem de Zuckerberg para os funcionários. O edifícios com tetos interiores por fechar simbolizam que o Facebook é um projeto inacabado e que há ainda coisas para construir.
*O Observador viajou a Menlo Park a convite do Facebook