Vem em todos os livros de ciência: a teoria mais aceite para explicar a origem do universo diz que tudo começou depois de um ponto muito quente e denso ter explodido e entrado numa expansão que dura há cerca de 14 mil milhões de anos. É a teoria do Big Bang, um nome que começou por ser ironicamente usado por Fred Hoyle para ridicularizar a proposta “do átomo primordial” de Georges Lemaître, baseada na teoria da relatividade geral de Einstein. Antes de morrer, no entanto, o físico teórico Stephen Hawking torceu o nariz à ideia de que o universo ainda está em expansão: para ele, o universo é finito e muito mais simples do que pensamos. Isso mesmo foi explicado no estudo “Uma breve saída da inflação eterna?”, publicado esta quarta-feira. Se for confirmada, esta teoria obrigará a reescrever as mais pesadas enciclopédias científicas.

Estas ideias, que Stephen Hawking partilhou e trabalhou com o físico belga Thomas Hertog, já tinham sido anunciadas no ano passado por ocasião numa conferência da Universidade de Cambridge para celebrar o 75º aniversário do cosmólogo britânico. “A teoria usual de inflação eterna prevê que globalmente o nosso universo é como um fractal infinito, com um mosaico de universos de bolso separados por um oceano inflável”, disse Hawking. “As leis locais de física e da química podem diferir de um universo de bolso para outro, que juntos formariam um multiverso. Mas eu nunca fui fã do multiverso. Se a escala de diferentes universos no multiverso é grande ou infinita, a teoria não pode ser testada”, explicou o cientista.

Duas semanas antes de morrer, Stephen Hawking terminou artigo sobre universos paralelos

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No estudo, que foi publicado no Journal of High Energy Physics, Stephen Hawking e o colega Thomas Hertog defendem que esse oceano inflável não está em expansão infinita: “O problema com a inflação eterna é que ela assume um universo de fundo existente que evolui de acordo com a teoria da relatividade geral de Einstein e que trata os efeitos quânticos como pequenas flutuações. No entanto, a dinâmica da inflação eterna elimina a separação entre a física clássica e a física quântica. Por consequência, a teoria de Einstein deixa de fazer sentido”, concretiza o físico belga de 42 anos. Essa explicação resume aquilo que Stephen Hawking já tinha dito antes de morrer a 14 de março: “Prevemos que nosso universo, nas maiores escalas, é razoavelmente simples e globalmente finito. Portanto, não é uma estrutura fractal”.

No fundo, o que Stephen Hawking e Thomas Hertog fizeram foi seguir os passos contrários aos de Georges Lemaître: em vez de explicar o universo à luz da teoria da relatividade geral de Albert Einstein, que ficou provada com a descoberta oficial das ondas gravitacionais, procuraram explicá-lo sem depender dessa teoria. Na verdade, a teoria proposta pelos dois cientistas baseia-se na teoria das cordas, um ramo da física teórica que tenta conciliar a física clássica com a física quântica, descrevendo os constituintes fundamentais do universo como minúsculas cordas vibrantes. Segundo a teoria das cordas, o universo é um holograma gigantesco onde a realidade física a três dimensões pode ser reduzida a projeções bidimensionais.

De acordo com Thomas Hertog, “quando traçamos a evolução do nosso universo de trás para a frente no tempo, chegamos ao limiar da inflação eterna, onde a nossa noção comum de tempo deixa de ter significado”. É a isto que se resume a última ideia que Stephen Hawking assinou antes de morrer e que até contrariava uma teoria que ele próprio apresentou há muitos anos quando defendeu a “teoria sem fronteira”, segundo a qual recuando no tempo, o universo começava a encolher-se e fechar-se-ia numa esfera. Essa teoria foi abandonada por Stephen Hawking: “Agora estamos a dizer que há um limite no nosso passado”, concretiza Hertog.

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