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Um homem a dar a volta ao mundo só com a guitarra? Que Filho da Mãe

Este artigo tem mais de 5 anos

Música grande, ambiciosa mas de emoções cruas e só com uma guitarra. O novo álbum "Água-Má" prova-o de novo. "Quando fico muito tempo sem tocar começo a enlouquecer", diz-nos em entrevista.

Filho da Mãe, o projeto a solo do guitarrista Rui Carvalho, apresenta o seu novo álbum no Teatro Maria Matos, em Lisboa e no Ateneu Comercial do Porto, já nos dias 8 e 9 de maio
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Filho da Mãe, o projeto a solo do guitarrista Rui Carvalho, apresenta o seu novo álbum no Teatro Maria Matos, em Lisboa e no Ateneu Comercial do Porto, já nos dias 8 e 9 de maio

@ Vera Marmelo

Filho da Mãe, o projeto a solo do guitarrista Rui Carvalho, apresenta o seu novo álbum no Teatro Maria Matos, em Lisboa e no Ateneu Comercial do Porto, já nos dias 8 e 9 de maio

@ Vera Marmelo

Rui Carvalho, ex-arqueólogo, ex-integrante de bandas hardcore, guitarrista a solo sem género e sem escola, de dedilhado sempre inesperado, está sentado na sua sala de ensaios, no 12º andar de um prédio em Santa Apolónia, Lisboa. À sua frente tem um cinzeiro e uma janela aberta com vista para o Tejo. À sua direita, afixado na parede, está um desenho de uma alforreca, feito pela mulher, Cláudia Guerreiro (ilustradora e baixista dos Linda Martini). O desenho viria a inspirar o título do seu novo disco, que chegará aos ouvidos do público esta sexta-feira, 4 — é que Água-Má é um dos nomes dados à espécie marinha, tal como água-viva, por exemplo. Mais do que isso, o desenho tornar-se-ia a capa do trabalho.

[A capa do disco:]

A ilustração na capa do disco (editado esta sexta-feira, dia 4) é da autoria de Cláudia Guerreiro

A conversa vai avançada quando Rui, conhecido no meio artístico (não sabemos se também noutros, arriscamos que não) como Filho da Mãe, faz uma revelação: “Passei por um disco antes deste e por alguma razão deitei-o fora. Comecei tudo de novo. Gostava de ter editado alguma coisa antes, houve ali alguma coisa que se perdeu. Quando um disco não sai na altura certa, mesmo que seja mau, há outro que se atrofia”.

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O músico diz que sentia falta de apresentar um novo trabalho — o que fará agora, primeiro no Teatro Maria Matos, em Lisboa (terça-feira, 8) e no Ateneu Comercial do Porto, no Porto (quarta-feira, 9) e depois no Festival MUMA, na Horta (Açores), em Ponta Delgada, Caldas da Rainha e Aveiro, respetivamente dias 18, 19, 23 e 24. E prossegue, contando que quando fica “muito tempo sem tocar” começa a enlouquecer. “E não é uma figura de estilo nem uma maneira romântica de pôr a coisa, perco sentido. Tocar é muito importante e não lançar um disco numa altura em que ele devia ser lançado às vezes pode ter consequências psicólogicas”. Ri-se comprometido, como quem fala a sério. Assentimos, dizemos que sim. “Estava mesmo a precisar de lançar um disco por causa disso”, remata então. Assunto encerrado e bem encerrado. Água-Má é alívio e é coisa séria.

Voltar à primeira guitarra

Não passou assim tanto tempo desde que Filho da Mãe, que trocou a arqueologia pela guitarra, lançou dois álbuns de rajada: Mergulho (a solo) e Tormenta (com o baterista Ricardo Martins), o último dos quais “um intervalo — e um intervalo que eu gostava de repetir, já agora, com o Ricardo…” Só que isto são “anos de cão”, diz ele. Dois anos parecem-lhe demasiado. “Às vezes passam dois meses, por um exemplo com um bocadinho menos de concertos e começo a sentir uma ansiedade que parece que estou parado há dois anos”.

[“Nem Chuva Nem Cães”, tema do novo álbum de Filho da Mãe:]

Água-Má, o novo trabalho, tem pontos de contacto com os anteriores Mergulho (2016), Cabeça (2013) e Palácio (2011). É o próprio guitarrista e compositor que o assume: “Tentar andar a fugir do disco anterior é uma coisa que toda a gente faz mas eu, por exemplo, gosto de deixar pontes entre as coisas”. Ainda assim, há algumas diferenças . Primeiro, o instrumento mudou, ligeiramente ou não tão ligeiramente assim. Cada guitarra tem o seu som e “muitas destas músicas foram feitas numa guitarra que tenho em casa que é do pai da minha mulher. Foi a guitarra com que eu comecei a dar os primeiros concertos, tem muita história”, conta.

Quando estava em casa, depois de pôr o miúdo na escola, agarrava-me à guitarra. O disco tem um sabor antigo que acho que vem um bocadinho daquela guitarra, que tem um som muito diferente desta [aponta para uma guitarra no canto da sala] com que costumo tocar.”

Não foi só a ferramenta para gravar que se alterou, foi também o método: “Nos outros discos fazia mais edição, era uma coisa mais composta. Este aqui é bem mais ao vivo, por assim dizer. É mais direto”. Água-Má esteve para se chamar Casa. Filho da Mãe voltará ao tema quando falar sobre a apresentação do disco no Teatro Maria Matos, que está prestes a ser cedido a privados. Para já, diz o seguinte: “É um disco próximo da pele e dos dedos. Não que os outros sejam assim tão distantes mas…”

O Mergulho explora mais o silêncio do que propriamente aquele desenfreado de notas que os primeiros discos têm muito. Esses têm muito a ver com alguma eletricidade, como disse o Tó [Tó Trips, guitarrista dos Dead Combo] quando escreveu sobre o primeiro. Acho que essa ansiedade já não existe da mesma forma mas este tem mais tensão do que o Mergulho, tem mais movimento. Até porque há uma grande parte dele que é completamente acústico. Queria que fosse mais só eu e guitarra e ‘bora’. Tem mais pulsar, mais corrente, mais ansiedade.”

A dado ponto da gravação, Filho da Mãe, ex-membro dos If Lucy Fell (entre outras bandas), chegou a temer que o disco fosse quase contrário ao seu passado punk e hardcore, em que as músicas começavam todas com o volume bem alto, a rasgar. Água-Má “tem começos muito lentos, parece que demora a arrancar. Chega a um sítio qualquer e parece que para outra vez”.

Há uma espécie de parte A do disco, acrescenta o músico, “em que as lentidões, que a mim fazem-me confusão, são mais assumidas. Cheguei a pensar: não será que isto está a começar muito mole e lento? Porque eu ainda organizo as coisas na minha cabeça como se estivesse numa banda rock. Em vez de ter picos, este é um disco que acho que começa devagar, lento, mais harmonioso e controlado, que vai subindo de ritmo até que se começa a destruir. E a última música é quando o mar e a tempestade ganham. E aí parte-se alguma coisa.”

A transição dá-se ao sexto tema (são dez), “Perseguição de Bananas”, no qual sobem a tensão, o volume e a inquietude. A espectral “Marraram as ondas, partiu-se o pontão” acentua essa “tempestade”, que foi real (as condições meteorológicas no momento da gravação foram um desafio), terminando o álbum com o som ambiente de “Casa”.

O Mergulho, por exemplo, foi um disco difícil de tocar ao vivo por ter muitos silêncios — e há sítios que são perfeitos para eles se ouvirem e outros não. Mas isso preocupava-me mais antes, embora já o tivesse decidido assumir. Aqui, se as pessoas quiserem agarrar a música, agarrem, se não quiserem não agarrem.”

Onde gravar? Logo se vê

Tal como os anteriores, o novo álbum do guitarrista foi gravado em residência artística, desta vez na Madeira. Com uma diferença: Filho da Mãe começou a estruturar as canções no estúdio Haus, ali perto da sua sala de ensaios, em Santa Apolónia. “Tenho o condão de fazer as coisas sempre ao contrário. Parece de propósito mas juro que não é. Fui para um estúdio profissional cheio de bom material tentar gravar o disco mas a gravação efetiva só acontece depois na Madeira. Aí, aceitei a alforreca. Fui com a corrente, não sabia muito bem para o que é que ia — e aproveitei. Quando estávamos no avião, nem eu sabia onde é que íamos gravar, se seria num estúdio, numa black box, não sabia nada.”

Fiquei talvez um bocadinho viciado neste método de não ter método, de ir para um sítio e acreditar que as coisas vão acabar por correr bem, que alguma coisa surgirá. É bom para descobrir uma narrativa, por exemplo, porque os sítios têm todos uma história. E tu colas-te à história — ou ela cola-se a ti. Não é uma coisa decidida ou intelectual, é instintiva.”

A casa oitocentista onde gravou, no Funchal,  era “a casa de um amigo, de uma pessoa que já conheço há algum tempo. Um amigo da minha música, por assim dizer, que é o Diogo Freitas. É uma casa que as pessoas ali do [festival de música] Aleste conhecem. Já lá tinha estado quando fui ao festival, lembro-me que alguém pescou uma bicuda e comemos lá uma caldeirada. Portanto, aquilo é uma casa onde se passam coisas muito boas”, ri-se.

Rui Carvalho voltará ao método sem método, lembrará que quando foi gravar o anterior disco para Amares levou a mulher — “fez a residência dela” — e o filho de seis meses. Desligar não lhe é fácil nem quando está longe, diz que está “sempre on”, que a sua cabeça “não para, mesmo que não se note por fora. Mas gosto de me deslocar para outro lado, desligar-me da rotina daqui. Pego numa data de botões e tento mandá-los todos para baixo. Só fico com dois ligados, que basicamente têm a ver com fazer o disco”.

[Algumas fotografias das gravações de ‘Água-Má‘ na Madeira:]

4 fotos

“Não quero confusões com o Carlos Paredes”

É uma espécie de elefante na sala — mas um elefante com o qual Rui Carvalho convive muito bem. As comparações com Carlos Paredes sucedem-se há anos, talvez menos por semelhanças estéticas (“acho que até se ouve um pouco aqui e ali mas misturado com uma data de outras coisas”) do que pela envolvência onírica das notas de guitarra, pela sensação de completude musical (e imagética) que um homem e uma guitarra conseguem juntos (mesmo que se tratem de guitarras distintas). É quase impossível não recordar o génio de “Canção Verdes Anos” quando se ouve Filho da Mãe tocar a nova “Não me Voltes para Trás”, por exemplo.

Rui Carvalho não diz que sofreu nem que beneficiou com as comparações, diz que “quando são figuras muito grandes, por uma questão de inteligência a primeira coisa que queremos é divergir, não ser comparado”. Porém, “as comparações surgem sempre, quer se queira quer não. Principalmente quando tocas guitarra e tocas a solo e as pessoas dizem que tu és um virtuoso — coisa que acho que não sou propriamente, uso a técnica como forma de expressão mas não de forma especialmente virtuosa, em minha opinião.”

Não quero confusões com o Carlos Paredes, não quero problemas com o espírito do Carlos Paredes. Mas que foi das coisas que mais ouvi quando era miúdo, assim na altura da faculdade, a par de outras coisas que não tinham nada a ver, foi. Obviamente que isso teve algum peso. Mas acho que num projeto destes só com guitarra misturar uma data de coisas — coisas que soam mais americanas e mais africanas, por exemplo — até parece mais coerente do que se for uma banda rock a fazê-lo, a brincar com tantas influências. Pode parecer menos esquisito.”

Quando começou a tocar guitarra a solo, conta, o ouvido era eclético nas latitudes. Rui ouvia “clássicos como Carlos Paredes e Paco de Lucía”, sim, mas também “alguma música clássica, muito jazz, muita bossa-nova, música brasileira dos anos 1970 e 1980, cantautores portugueses”. Em que é que isso o influencia como Filho da Mãe, tem dificuldades em dizer. “Também já tinha essas influências quando tocava numa banda que era basicamente barulho. Tocava muito guitarra portuguesa, quando comecei a tocar elétrica pus um arpejar que vinha dali. Não se ouvia mas estava lá”, aponta.

Talvez tenha sido esse barulho, arrisca, a impor-se mais na sua música: “O som de If Lucy Fell e de outras bandas que tinha tido antes, coisas desse género”. Voltará a falar dessa costela rock depois de muitos elogios à música portuguesa, de dizer que lhe agrada “que não haja um modelo de se fazer música portuguesa”, que gosta que ela esteja “mais heterogénea” e que tenha mais espaço nas salas e nos festivais: “Tenho pena que haja menos barulho. Há música mais polidinha e mais bonitinha da qual a minha fará parte mas há muito menos barulho. E disso tenho pena, faz-me um bocado falta e acho que desapareceu um pouco”.

@ Vera Marmelo

Talvez não ter propriamente uma escola ou linhagem definida, enquanto guitarrista, resulte da liberdade com que este Filho da Mãe sempre tocou. Rui Carvalho nunca se deixou enclausurar por determinada estética: não ter tido formação clássica e nunca se ter esforçado muito por tocar música alheia fez com que não tivesse sequer de fugir a certas escolas. “Eu era daqueles putos que quando começou a tocar achou que estava a inventar uma música. Aprendi dois acordes e olha, esta é a minha primeira música. Não sei tocar a música de mais ninguém, nunca me esforcei para aprender, preocupei-me sempre com compor”, diz. Talvez por isso, acrescenta, compor para outros tenha sido estranho ao princípio. Começou a fazê-lo mais nos últimos dois a três anos, tendo cedido uma música ao grupo Medeiros/Lucas, por exemplo (“Sístole Perdida”, que compôs com Tó Trips) e algumas outras à cantora Cristina Branco, numa parceria com o músico, cantor e letrista André Henriques, dos Linda Martini (só para o álbum Branco, editado este ano, escreveram dois temas).

No início, se calhar afastava-me um pouco da ideia de compor para outras pessoas porque não percebia porque é que elas precisavam ou o queriam. E hoje percebo isso melhor e gosto, não me importava de fazer mais vezes. Gosto da coisa meio voyeur de saber o que é outros fazem com a minha música, que na verdade é deles. Na minha parceria com o André arranjámos ali uns rascunhos, umas intenções que depois eles [Cristina Branco e os seus músicos] interpretam completamente à vontade deles. E eles é que fazem a música, eles é que fazem aquilo soar como soa.

No princípio era o cagaço

Há já alguns anos que Rui Carvalho trocou as bandas e a guitarra elétrica por um projeto a solo com guitarra acústica. Os concertos, por exemplo, são hoje muito diferentes do que eram nesse início do projeto e não só por alterações de repertório ou técnica. “Ao início comportava-me como se fosse um elemento da banda que tinha que responder a ele próprio, não estava muito habituado a fugir ao planeado, a improvisar”, recorda, explicando que no início o que havia nele era sobretudo cagaço (e não cansaço, como no poema de Álvaro de Campos) mas também apreço por essa sensação de temor:

Acho que o que gostava no início era o cagaço. Porque dá um cagaço do caraças uma pessoa pegar na guitarra sem ter propriamente muita experiência nisso, ter uma luz sobre ela, estar por exemplo numa FNAC, que em termos de ambiente é um sítio terrível para tocar como eu toco [sem voz e com guitarra acústica]. Mas eu gostava dessa sensação de ‘estou lixado e não tenho hipótese, não posso fugir daqui’. Ela tinha uma parte má mas também tinha uma parte boa porque aconteciam coisas excelentes pelo meio. Não tenho aquela escola clássica que dá uma confiança para a interpretação, isto é uma coisa mais performática, cheia de peito. É pôr o peito todo em cima e esperar que lá no meio consiga tocar bem.

O conforto foi aumentando ao longo destes anos, é-lhe mais fácil agora “explorar os silêncios” e “aproveitar” a tensão que a música causa nas pessoas (“Há uma parte cómica nesta tragédia, nesta emoção toda, há sempre alguma coisa que me dá vontade de rir em relação a mim próprio”, diz). Coincidentemente, também o público foi crescendo, aumentando assim o número de salas do país (e, no caso das maiores cidades, o tamanho das salas) em que pode tocar. “Não estava à espera disso, pensei que fosse uma coisa que fosse durar pouco, até. Tinha uma profissão [arqueólogo] e cortei com ela pensando que seria músico uns três meses mas que valia a pena tentar. E depois fiquei.”

Atualmente, aponta, “já há uma certa pressão, mais por causa do trabalho que existe atrás e por saber que há pessoas que já gostaram e que eu gostava que continuassem a gostar de alguma maneira. Começa-se a pesar coisas que antes não se pesavam. Antes, só ter um disco para fazer já era bom. Conseguir ter salas porreiras para tocar e haver algum interesse são coisas de que facto não estava à espera mas que também não tomo por garantidas, porque tudo isto pode desaparecer de um dia para o outro.”

Uma das tais “salas porreiras” em que vai apresentar o novo disco, numa digressão nacional da qual para já conhecem-se as datas de maio (são seis), é o Teatro Municipal Maria Matos, em Lisboa, onde já havia apresentado o anterior Mergulho. É quando Filho da Mãe volta a falar na ideia de “casa”, nos elementos familiares que sente terem influenciado um disco tão pessoal. “Nessa casa está a minha, onde compus parte do disco e outros sítios, como a Casa Independente, onde estive a ensaiar durante algum tempo e o Teatro Maria Matos, que não sendo uma casa em certos momentos comportou-se como se fosse.

As pessoas do Maria Matos pegam em pessoas cujo estilo de música não é propriamente de massas — a minha não tem voz, por exemplo — mas que, não sendo propriamente uma coisa para o grande público, é trabalhada e tratada como se fosse. Para mim é importante falar nisto até por se ir embora. Durante dez anos, a sala trabalhou um certo tipo de público, conseguiu levá-lo às salas e dar apoio a projetos que as pessoas chamam emergentes mas que têm especificidades…”, diz.

Perguntamos-lhe se é substituível e a resposta vem longa. “A música [programada pelo Maria Matos] cabe em outros sítios, mas não se faz o mesmo espetáculo num Musicbox, que é uma sala do caraças onde gosto muito de tocar, ou numa Galeria Zé dos Bois, que o que se pode fazer ali. Não funciona da mesma forma. E depois a componente do cinema, as potencialidades que a sala tem para teatro e dança… não creio que seja substituível, até pela falta de salas de dimensão média em Lisboa”, diz, acrescentando que, além “das vidas de várias pessoas ficarem meios penduradas com as mudanças, porque ficam”, não encontra lógica na concessão da sala a privados.

“Não creio que exista um espaço parecido com o do Maria Matos. Num dos espaços que é referido como substituto, o Teatro do Bairro, eu já toquei e adorei tocar lá mas não tem de todo as mesmas condições. Foi ali feito um investimento público e justificou-se. Há certo tipo de música e de arte que precisam destes espaços. E por isso acho que vamos todos sentir falta”, remata.

A conversa termina com a possível internacionalização de Água-Má. Fala-se dos Dead Combo, já com grande estatuto firmado e que tencionam internacionalizar-se em definitivo com o novo álbum Odeon Hotel — mas que, como ele, fazem música instrumental com guitarras. Filho da Mãe diz que, querendo, consegue “marcar uma digressão” lá fora daqui a seis meses, mas já sabe “muito bem” a que sítios “iria parar. E fazer isso sozinho também me chateia um bocadinho”.

O tema, contudo, dá pano para mangas e Rui Carvalho, um bom conversador, gosta de se alongar. Diz que “toda a música deve ter a perspetiva de ser internacionalizada, porque não faz sentido ter fronteiras” mas lembra que “há barreiras à internacionalização que não têm só a ver com a voz e com a língua. Encontrar o meio certo para fazer as coisas é fundamental porque não é do pé para a mão que se encontra um circuito interessante para se fazer lá fora.”

Os Dead Combo estão longe de serem pequeninos neste momento. Sei que passaram alguns problemas mas estão hoje com um fulgor muito diferente. Eu tenho essa ambição e vou fazendo algumas coisas. Tenho um disco editado no Japão, por alguma razão [ri-se]. Mas não ponho isso como objetivo. Gosto da ideia de ir tentando e se algum dia alguém lá fora gostar mesmo a sério, gostava de fazer concertos mais cirúrgicos em vez de ir só à procura”.

“Um concerto como Filho da Mãe acho que precisa de algum contexto e esse contexto não aparece assim de um momento para o outro, precisa de ser introduzido”, diz o músico. Quer um exemplo? O do festival Le Guess Who?. Rui Carvalho tocou lá, diz que “adorou” e que “é um belo festival” mas que a organização colocou-o “a tocar num palco muito grande para uma sala muito grande. Se calhar aquilo que fiz perdeu-se e seria mais notório se tocasse numa sala mais pequena, com outro público”.

Ir sozinho à aventura numa digressão internacional também não lhe entusiasma muito. “Gostava mais de fazer isso com banda., gostava de me pôr outra vez numa carrinha com cinco tipos lá dentro e ir até à Alemanha… Um processo solitário não me é tão apelativo”. Talvez não o seja para uma viagem para a Europa, dificilmente não o será para quem puser os ouvidos em Água-Má — em disco e, da próxima semana em diante, também ao vivo, um pouco por todo o país.

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