A Hostmaker, empresa de gestão de alojamento local que fatura 12 milhões de euros em quatro países da Europa, expandiu para Portugal depois de ter recebido um investimento de 12,5 milhões de euros (15 milhões de dólares). Já presente em cidades como Londres, Roma e Barcelona,  a startup conseguiu cerca de 100 contratos na área da Grande Lisboa, em menos de três meses, o que representou o crescimento “mais rápido de todas as cidades” em que a Hostmaker está presente, explicou a diretora geral da empresa em Portugal, Inês Nobre, ao Observador.

Fundada em 2014 por Nakul Sharma, em Londres, a empresa oferece aos proprietários de casas para alugar um serviço completo de gestão que vai além da limpeza, check-in e manutenção: a Hostmaker define também estratégias de fixação de preços, trabalha no design de interiores das habitações e oferece um serviço personalizado aos hóspedes. Aos proprietários, cabe-lhes entregar as chaves das casas à empresa.

“O proprietário confia em nós para gerir a propriedade, por causa da nossa experiência, preços, trabalho de design e serviço. Basicamente, eles dão-nos as chaves e dizem ‘dá-me os ganhos no final do mês’. Temos uma oferta de taxa de gestão, em que tiramos 20% de cada mil libras [cerca de 1130 euros], mas também temos uma de rendimento garantido. Há donos que dizem estar mais nervosos em relação ao modelo de arrendamento de curto e médio prazo e que estão mais habituados a arrendamentos de longo prazo. Nesse caso, oferecemos-lhes essa possibilidade, que não tem riscos para eles e nós temos de conseguir fazer dinheiro por cima desse arrendamento de longo prazo”, explicou Nakul Sharma ao Observador.

Nakul Sharma afirmou que a empresa vê Lisboa como uma potencial terceira sede global (as outras são Londres e Barcelona) e que, por isso, a Hostmaker planeia investir cerca de 1 milhão de libras (cerca de 1,1 milhões de euros) na parte portuguesa do negócio ao longo dos próximos dois ou três anos. Nesta altura, em Lisboa, a Hostmaker vai investir em tecnologia. O objetivo é quadruplicar a atual equipa de 15 pessoas até final do ano com gestores de conta, programadores de tecnologia e negócios, empregadas de limpeza, entre outros.

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Preços são calculados diariamente

Os preços da Hostmaker são calculados diariamente, de forma semelhante àquilo que fazem os hotéis e companhias aéreas. O cálculo é feito através de um algoritmo, supervisionado por uma equipa que assegura que a tecnologia, que tem sido alvo de grande investimento por parte da Hostmaker, funciona bem. “Não é completamente automatizado, é sempre bom ter supervisão humana na fixação de preços”, disse Nakul, acrescentando ainda que a listagem de preços é distribuída em plataformas como a AirBnB e a Booking.com.

Quanto aos hóspedes, o fundador da Hostmaker explicou que procuram garantir que tenham uma boa experiência não apenas graças ao serviço, mas também ao tratamento que é dado às habitações.

“Não estamos apenas a comprar mobília barata para pôr em casa, mas sim a garantir de que esta é um sítio onde queiram passar tempo”, disse. “Não vemos ninguém à nossa volta que pense no design de interiores. Além disso, recebemos sempre os hóspedes em pessoa: eles são novos na cidade, talvez não falem a língua e não sabem onde ir, pelo que ter alguém que se encontre com eles e os faça sentir confortáveis é uma parte importante do serviço”, referiu.

De país para país, a maioria dos elementos da operação da Hostmaker são uniformes. Contudo, há partes do serviço que são bastante personalizadas, tais como o Welcome Pack que a Hostmaker oferece a cada hóspede e que contém produtos típicos de cada cidade ou país. priberaEm Lisboa, a Hostmaker deixa aos hóspedes um pacote com sardinhas enlatadas, patê de atum, um pacote de bolachas, uma garrafa de moscatel e uma embalagem de chocolates em forma de sardinha. Em comum, entre todos os Welcome Packs há apenas uma coisa: um cartão deixado aos hóspedes escrito pela pessoa que os recebe.

O principal objetivo destes gestos é “fazer parte da cidade”, disse Inês Nobre ao Observador, para que também os turistas se possam integrar na cultura da mesma. “É por isso que oferecemos coisas da cidade e tentamos construir as nossas próprias recomendações através de pessoas da empresa”, explicou. “Tentamos integrar-nos na cultura da cidade para que os turistas também sintam que são parte da mesma e não estão numa zona super turística.”

De momento, o principal foco é atingir aquele que Nakul Sharma tem como “primeiro marco” em qualquer mercado: “gerir mil casas dentro de três a quatro anos”, apontou. Até final de 2018, em Lisboa, a Hostmaker prevê um crescimento de mais duzentos contratos. A nível global, a empresa gere cerca 1600 propriedades em 9 cidades diferentes e fatura mais de 12 milhões de euros.

Um apartamento por alugar em Lisboa levou Inês Nobre à Hostmaker e a Hostmaker a Portugal

A entrada da Hostmaker em Portugal e em Lisboa enquadra-se na estratégia da empresa, que passa por “estar em grandes capitais por todo o mundo”, sublinhou Nakul. A startup já atua em cidades Roma, Paris, Barcelona e Banguecoque, pelo que “fazia sentido estar em Lisboa”, considerou o fundador, que diz ver na capital portuguesa um crescimento de “procura de viagens recreativas e também de negócio”.

O lançamento da plataforma em Portugal deu-se com a presença da Hostmaker na Web Summit em 2017, que gerou bastante interesse em torno do negócio e ajudou àquele que foi o crescimento mais rápido da empresa em todas as cidades. Depois disso, pouca foi a promoção. Segundo Inês Nobre, além de duas campanhas de publicidade em elétricos e outdoors, a maioria do crescimento deve-se a uma divulgação de “boca em boca”.

Nakul explicou ao Observador que a aposta em novas cidades muito se deve às equipas “muito internacionais” da Hostmaker espalhadas pelos diferentes países e que dizem à empresa “para onde ir”. “Alguns dos nossos membros dizem ‘hey, há uma oportunidade neste mercado, por que não estão a pensar em Lisboa, Madrid ou Florença?'”, disse.

Lisboa foi um desses casos: Inês Nobre trabalhava para a Hostmaker em Barcelona, num escritório que contava com alguns portugueses e “mais de 20 nacionalidades diferentes”. A empresa percebeu que Lisboa, onde já tinham dois programadores de software há um par de anos, tinha sido alvo de muito investimento, tanto a nível da cidade e em imóveis como na criação de um ambiente propício a novos negócios. De acordo com Nakul, esses fatores, aliados à ligação já existente à capital portuguesa através dos próprios trabalhadores, fizeram com que a Hostmaker decidisse entrar em Portugal.

A entrada da Hostmaker em Lisboa muito se deveu à presença de portugueses na equipa de Barcelona da empresa, onde trabalhava Inês Nobre antes de se tornar diretora-geral em Lisboa. Foto: Hostmaker

“Como já tínhamos membros [portugueses] pensámos que seria mais fácil entrar num mercado que alguém já conhece. Geralmente, é assim que gostamos de começar em qualquer um dos mercados para que vamos”, disse Nakul Sharma, referindo ainda que optam por contratar diretores-gerais dos respetivos mercados pois “são eles quem ajuda com a regulação e compreensão” do mercado.

O fundador da Hostmaker apontou Inês Nobre para o cargo, que conheceu quando esta se encontrava a viver em Londres. Curiosamente, contou Inês, a aventura de ambos começou quando a atual diretora-geral da Hostmaker em Portugal, então a viver e trabalhar em Inglaterra, procurava alguém que gerisse o apartamento que tinha em Lisboa. Por cá não havia ninguém que o fizesse, mas em Londres encontrou a Hostmaker e Nakul, que contactou a propósito do seu apartamento em Portugal. Na altura, a Hostmaker tinha uma vaga de trabalho em Barcelona, e Inês, que não tinha intenções de sair de Londres, decidiu arriscar. Pouco mais de um ano e meio depois, está a liderar a operação em Lisboa e Barcelona.