É uma espécie de bunker da oposição a António Costa e fica a meio caminho entre a sala do Congresso e a “Praça da Alimentação”, zona de roullotes e empreendedorismo-gourmet. O centro de operações da moção de Daniel Adrião — a única opositora à de Costa — não tem grandes armas para fazer frente à força dos apoiantes do quase incontestado secretário-geral: 37 delegados, uma impressora, duas mesas e algumas cadeiras. Pela sala passam apoiantes de Adrião, mas também antigos apoiantes de Seguro (e até de Sócrates), numa espécie de coligação de não-alinhados.
“Mais uma, tenho aqui mais uma”, diz Daniel Adrião, enquanto entra pela porta da sala com uma folha na mão e que logo junta a um pequeno amontoado de subscrições. Os seus apoiantes querem apresentar uma lista à Comissão Nacional — o órgão máximo entre Congressos — mas elegeram apenas 37 delegados ao 22.º Congresso do PS. Precisam que, pelo menos, 97 delegados subscrevam a moção, o que significa que têm de convencer 60 delegados, que à partida estariam do lado de Costa, a mudar de lado. É como começar a perder 60-0. Ou 97-37.
Quando o candidato derrotado das diretas entra, um dos delegados que vai subscrever a sua lista atira: “Olha, chegou o futuro secretário-geral do PS”. Daniel Adrião ri-se. Ao Observador, Adrião admite que “é sempre muito difícil” conseguir apresentar listas opostas às do líder, mas acredita que vai conseguir convencer 60 pessoas a subscrever a sua lista. “Somos um minoria, contra uma esmagadora maioria, que também é uma maioria esmagadora“. Adrião conseguiu, há dois anos — tendo como ponto de partida apenas 22 delegados — apresentar lista, mas este ano os seus apoiantes sentem que está “tudo mais apertado” e “muito mais difícil”. Ainda assim, acreditam que vão conseguir.
Têm pouco tempo. Quando o Observador visitou o centro de operações da “minoria” já era perto da uma da tarde de sábado e a equipa tem apenas até às 19h00 para entregar a lista. Contam com um reforço habitual de última hora: os descontentes que ficarem órfãos de lugares quando verificarem que não estão na lista de Costa. Que não tem lugar para todos.
“Tinha de ser às sete porque depois começa a bola”
Um delegado apoiante de Daniel Adrião protesta com o prazo a que têm de entregar as listas e, acima de tudo, com a justificação dada pela organização: “Disseram que tinha de ser às sete porque depois começa a bola [a final da Liga dos Campeões entre Real Madrid e Liverpool]. Isso reduz o nosso tempo”.
Os delegados correm contra o tempo, mas estão tão confiantes que não dispensam uma pausa antes de voltar à carga para as assinaturas que faltam. Afinal de contas, com a pausa para almoço, a maior parte dos delegados sai do recinto, por isso também não há muito a fazer. “Vamos almoçar. Vamos ali aos leitões“, diz Daniel Adrião antes de se fechar a porta do bunker, que esteve aberta toda a manhã e durante a noite de sexta-feira. Há uma parte que já está garantida: um mínimo de 377 militantes para integrarem a lista (251 efetivos mais 126 suplentes).
Ao contrário da sala da moção de Adrião, “Reinventar Portugal”, a de António Costa, “Geração 20/30”, esteve sempre com a porta fechada desde o início do Congresso. A justificação é simples: não precisa. Já tem delegados suficientes para subscrever a lista. E até sobram.