Falar de Jesus Correia é entrar no imaginário dos génios de antigamente que tão depressa eram os melhores num encontro de futebol como num jogo de hóquei em patins. Ao ponto de, ainda antes do 30 anos, ter sido forçado a escolher apenas uma das modalidades (jogava futebol no Sporting, passou para o hóquei do Paço d’Arcos). Mas falar de Jesus Correia é também andar para trás no filme das páginas de ouro do futebol leonino onde estão gravados os Cinco Violinos: além do “Necas” ou “Dois amores”, como era conhecido, havia ainda Vasques, Travassos, Albano e Peyroteo. Isto na década de 40; nos anos 70, esse conceito foi transportado para o hóquei em patins, onde surgiu aquele que ficou conhecido como o ‘Cinco Maravilha’.

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Ramalhete, Júlio Rendeiro, Sobrinho, Chana e António Livramento conseguiam nessa altura, mais concretamente em 1976/77, aquela que foi a melhor época de sempre do clube, com a conquista do Campeonato Nacional, da Taça de Portugal e da Taça dos Clubes Campeões Europeus, após duplo triunfo com os espanhóis da Vilanova. Essa era uma altura em que, à chegada a Lisboa, o aeroporto, as ruas adjacentes e Alvalade encheram-se com milhares e milhares de adeptos a saudar o feito da equipa. Em paralelo, esse foi o ano da inauguração do Pavilhão. E esse é o ponto em comum com a história escrita este sábado.

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O hóquei em patins sempre foi uma modalidade muito querida entre sócios e adeptos verde e brancos. Mesmo não tendo propriamente um currículo de encher o olho como o andebol ou o futsal, sempre teve um nicho grande de fiéis seguidores que, com a equipa na 2.ª ou na 3.ª Divisão, faziam na mesma espetáculos dignas de primeira categoria. Em 1988, numa equipa onde estavam Campelo, Vítor Fortunato, Paulo Almeida, Trindade ou Pedro Alves, o Sporting ganhou o sétimo e último Campeonato; depois disso, conquistou apenas uma Taça de Portugal (1990, vencendo na Final Four Benfica e Óquei de Barcelos mesmo partindo como outsider ao triunfo) e uma Taça das Taças, batendo na final a duas mãos com dois triunfos uma equipa de sonho do Novara, que foi surpreendida em Itália (7-6) e não mais deu a volta em Portugal (5-2). Em 1995, no seguimento do corte nas modalidades que o clube sentiu necessidade de fazer, a secção acabou por ser uma das extintas.

Quatro anos depois, por carolice e amor à modalidade de um grupo de sócios, o hóquei em patins voltou mas de uma forma autónoma. Começou na 3.ª Divisão, subiu à Segunda, alcançou o escalão principal mas acabou por cair de novo, em 2005. Após mais cinco anos inativa, a secção regressou ao ativo com Gilberto Borges, ainda hoje diretor da modalidade e subiu em épocas consecutivas à 1.ª Divisão, onde foi lutando com maiores ou menos dificuldades por um lugar de permanência até que, em 2014, todo esse cenário mudou com o regresso do hóquei em patins ao seio do clube. Nessa época de estreia, e numa final dramática, os leões conseguiram conquistar a Taça CERS após vencerem nos penáltis os espanhóis do Reus na Catalunha.

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Esta temporada, reforçado com o argentino Matías Platero, o espanhol Toni Pérez e os portugueses Henrique Magalhães e Vítor Hugo, que se juntaram a Ângelo Girão, Zé Diogo, João Pinto, Caio, Ferrant Font e Pedro Gil, o Sporting conseguiu finalmente aquilo que andava à procura há quatro anos: ser regular no Campeonato. Ao longo de 24 jornadas, os leões tiveram apenas uma derrota (2-1 no Dragão com o FC Porto) e dois empates (3-3 com o Benfica em Alvalade e 2-2 em Barcelos), dando um passo importante no fim-de-semana passado ao vencer o Benfica por claros 7-4 naquele que foi o jogo mais importante do título até pelo ligeiro favoritismo com que os encarnados partiam. Com novo triunfo por 4-3 diante de um rival direto, o FC Porto, com quem tinha perdido antes no Campeonato (2-1), nos oitavos da Taça (5-5, 3-0 nas grandes penalidades) e na meia-final da Liga Europeia (5-2), a equipa verde e branca quebrou um longo jejum de 30 anos sem ganhar o Campeonato.

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Com um cinco diferente do habitual, lançando Toni Pérez e Font de início, o Sporting conseguiu surpreender o FC Porto nos minutos iniciais e chegou mesmo à vantagem com apenas cinco minutos de jogo, com Caio a concluir da melhor forma uma transição rápida. Ao contrário do que se passou nos outros clássicos da temporada, os dragões não tiveram grande margem para as habituais saídas rápidas em transição, criando algumas dificuldades a Girão em remates de meia distância perante um conjunto leonino com mais soluções em ataque organizado. No entanto, o intervalo chegaria com o encontro empatado: já com Platero de fora, os leões tiveram erros defensivos e, num deles, Hélder Nunes surgiu isolado na área para fazer o 1-1 (22′).

O segundo tempo acabou por trazer uma partida mais intensa, mais emocionante e com os nervos à flor da pele dentro de um jogo sempre disputado de forma correta. Depois de uma entrada muito tática, com as duas equipas a optarem mais por ações seguras de ataque organizado até Toni Pérez ver o cartão azul por falta sobre Jorge Silva, aos 35′: Hélder Nunes não conseguiu converter o livre direto, os dragões estiveram muito perto por mais do que uma vez de passarem para a frente em power play e, já com 5×5, Pedro Gil, acabado de entrar, apontou o 2-1 com um tiro de meia distância (38′). Guillem Cabestany pediu um desconto de tempo, o FC Porto foi começando a subir as linhas de pressão defensivas mas seria o Sporting, através de um livre direto marcado de forma irrepreensível por Ferrant Font após a décima falta dos azuis e brancos, a aumentar para 3-1 (43′).

O Pavilhão João Rocha estava ao rubro, mas os sete minutos ainda em falta teriam uma história incerta até final. Gonçalo Alves, aos 46′, conseguiu reduzir para 3-2 num tiro de meia distância; Reinaldo Garcia, num remate enrolado sem hipóteses para Ângelo Girão, acertou na trave; e quase na resposta, Pedro Gil, numa saída rápida para o ataque, apontou o 4-2 no minuto seguinte. Nos últimos dois minutos, Hélder Nunes e Ferrant Font ainda falharam livres diretos, Rafa reduziu para 4-3 a 50 segundos do final quando os dragões jogavam sem guarda-redes mas o resultado não mais voltaria a mexer, com o Sporting a ganhar o título que estava na posse do FC Porto três décadas depois da última festa, no longínquo ano de 1988.