O aumento da procura começa em março, quando pais e alunos são confrontados com as notas do 2.º período. É nessa altura que os explicadores, seja nos centros de explicações, nas redes sociais onde publicitam os seus serviços ou nas plataformas online, começam a receber mais pedidos de ajuda. Matemática é a disciplina mais requisitada, com Português e Inglês também na top 3.

“O aumento da procura começou em finais de março, que é quando os alunos começam a perceber que têm trabalho pela frente e que precisam de ajuda. E recorrem às explicações privadas porque nós conseguimos fazer o trabalho individualizado que o professor não consegue com 28 alunos numa sala”, conta Nuno Lopes, explicador de línguas em Aveiro. Tradutor de profissão, Nuno Lopes dá explicações de várias línguas: português, inglês, espanhol, japonês e chinês. Mas é na língua materna que tem mais procura, através da plataforma online Fixando, onde publicita os seus serviços, seguindo-se a disciplina de Inglês.

“Português e Inglês são as disciplinas que têm mais procura porque os alunos sabem que toda a ajuda, e toda a vantagem extra, é pouca quando estamos a concorrer a cursos com médias muito altas”, conta o explicador que sente que a procura aumenta em cada final de período. “A norma é os alunos tentarem fazer as coisas por si mesmos no início do ano, mas depois, quando as dificuldades acumulam, percebem que têm muito trabalho pela frente e vêm pedir explicações. E quem aparece é quem vai fazer exames nacionais. A procura é proporcional ao grau de importância que as cadeiras têm no curso que vão seguir.”

Os dados globais da Fixando, mostram que Matemática e Inglês são as disciplinas mais procuradas pelos alunos. Matemática representa 37% do total da procura nacional e Inglês, que ocupa o segundo lugar, representa 16%. Os preços praticados para Matemática começam nos 12 euros/hora e os de Inglês nos 15 euros.

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Marina Costa, licenciada em Matemática, dá explicações desta disciplina e de Geometria Descritiva em Coimbra. Também ela está registada na Fixando — onde há 320 explicadores ativos — e oferece os seus serviços em centros de explicações. É nestes últimos que sente haver maior procura quando se aproximam os exames nacionais.

“Essa procura, que agora se sente, é muito mais visível em centros de explicações do que nas plataformas online. Pelo menos, é essa a minha experiência. Penso que é porque a publicidade é feita de boca em boca e porque os centros fazem pacotes com várias disciplinas, o que acaba por ficar mais em conta para as famílias. Ainda têm a vantagem de ser todas no mesmo sítio”, conta.

Quanto à procura, Marina Costa sente que há picos em cada final de período, quando as notas são conhecidas, já que servem de alerta para os estudantes e para os encarregados de educação. Nesta altura do ano, quando o tempo já é curto, o que muda são as metodologias: “A partir de junho, as explicações passam a ser intensivas, trabalha-se todos os dias, em média duas horas diárias. O que acontece é que o que deveria ter sido feito durante o ano todo fica condensado neste mês.”

Nos Ginásios DaVinci, uma cadeia nacional de centros de explicações, a maior afluência de inscrições exclusivamente direcionadas para a preparação de exames nacionais verifica-se em março, explica ao Observador, Sandra Romão. Mas o acréscimo representa menos de 10% do total inscrições de preparação para exames, o que leva a responsável a concluir que a maioria dos alunos tem uma estratégia de estudo dividida pelo ano.

“Claro que há os ‘aflitos de última hora’, que em frequência têm notas muito baixas e que nos procuram no sentido de recuperar conhecimentos de um ano inteiro em poucos dias. Obviamente não é uma tarefa fácil, no entanto, diz-nos a experiência que que não é uma tarefa impossível. Temos tido casos de sucesso quando o aluno, com apoio intensivo e muito estudo, consegue realmente subir e atingir os seus objetivos”, explica Sandra Romão.

Para além destes, conta, com o final do ano letivo também aparecem alunos que têm boas notas, mas que pretendem candidatar-se a cursos do Ensino Superior com médias muito elevadas. Quanto às disciplinas mais procuradas, “neste período ou no resto do ano, a maior procura verifica-se a Matemática e Português, seguindo-se Físico-Química e Biologia”, diz a responsável dos Ginásios DaVinci.

No resto do ano, conta Sandra Romão, o Inglês também tem uma procura significativa, salientando que a procura é claramente maior na área das ciências. A nível nacional, não encontra qualquer diferença por regiões do país na procura: quer se trate de uma pequena localidade ou de uma grande cidade, no continente ou nas ilhas, o padrão é o mesmo.

Na Zaask, outra plataforma online que disponibiliza os serviços de 6140 explicadores, não há ainda dados para este ano. Mas em 2017 a procura de apoio para os estudos intensificou-se nos meses de maio, junho e julho. As disciplinas mais procuradas foram Matemática, Físico-Química, Inglês e Português.

Quanto à média de preços praticados este ano, a Zaask informa que para a preparação do exame de Português ou de Matemática os valores rondam os 20 euros em Lisboa. No Porto, a primeira disciplina fica nos 11 euros, enquanto que a Matemática sobe para os 16.

Em pouco tempo fazem-se milagres?

Com os exames a uma tão curta distância de tempo, o conselho é que os alunos aprendam a dividir os estudos pelos vários períodos do ano.

“Não se faz a preparação para um exame da noite para o dia. É algo que deve ser realizado ao longo do ano letivo. Nesta altura, espera-se que os alunos já tenham os conhecimentos consolidados. Com ou sem explicações, o sucesso nos exames nacionais passa por um processo de estudo realizado ao longo do ano escolar”, argumenta Sandra Romão.

João Pedro Silva, que dá explicações de Matemática há 11 anos, diz que receber alunos em cima da hora torna o seu trabalho mais difícil: “É muito diferente trabalhar com quem chega às explicações só no terceiro período, é mais difícil passar por cima das dificuldades num tão curto espaço de tempo e eles próprios ficam frustrados por não conseguirem. Também acontece aparecerem só no final do ano letivo para tentarem subir a média. Esses casos são diferentes porque já têm boas notas.”

Milagres não acontecem, ressalva Sandra Romão, mas quase. “Trata-se de uma tarefa difícil mas não necessariamente impossível, implica um trabalho intensivo, implica naturalmente forte experiência do docente que acompanha a preparação com aulas bem organizadas e conteúdos pedagógicos e didáticos direcionados e igualmente forte empenho e dedicação por parte do aluno.”

João Pedro Silva têm outro conselho para quem é fraco a Matemática: “Os pais devem tentar que o filho mantenha um contacto diário com a disciplina. E o que lhes peço é que não digam aos seus filhos que não faz mal ter más notas a Matemática porque eles também tiveram. Isso é um erro.”

As dificuldades dos alunos

Na Matemática, João Pedro Silva sente que, para além da resolução dos exercícios, os seus explicandos têm muitas dificuldades na compreensão do texto e em compreender os enunciados.

Já Mariana Costa acha que a explicação de muitos dos problemas dos alunos está ligada à forma como a Matemática é ensinada nas aulas. “É transmitida como uma coisa assustadora e o aluno fica a achar que aquilo não tem interesse nem utilidade. Acaba por ficar desinteressado e não aprende. A matemática não é difícil. Um aluno que se disponha a aprender, a treinar, aprende por mais dificuldades que tenha. E como é uma disciplina de continuidade, saltando um episódio, os que estão para a frente deixam de fazer sentido. Na Matemática, as coisas estão interligadas.”

Nuno Lopes diz que encontra muitos alunos do 12.º ano que fazem erros de 1.º ciclo. “Muitas das dúvidas são quando aparece vocabulário novo em que há um sufixo ou prefixo estranho e eles já não percebem. Não treinam a escrita. Não há escrita criativa. Estão habituados a seguir uma norma, um padrão, a memorizar, a replicar, a chegar ao exame e deitar fora. E ainda há muitos erros: ‘ter a ver com’ e ‘ter haver com’, há pessoas que caem naquelas esparrelas e confundem o ‘de mais’ com o ‘demais’… O que acontece é que os alunos memorizam em vez de desenvolverem um pensamento crítico e isso vê-se muito na interpretação de textos. Nem os alunos excelentes estão habituados a sair da sua zona de conforto.”

Este ano letivo, a primeira fase dos exames nacionais decorre de 18 a 27 de junho para os alunos do 11.º ano. A segunda fase será de 18 a 23 de julho. Para os alunos do 12.º ano, a primeira fase decorre de 19 a 25 de junho, e a segunda de 19 a 23 de julho.