Enviado especial do Observador à Rússia (em Sochi)

Estar em viagem entre cidades durante um Campeonato do Mundo ensina a todos uma lição logo no primeiro dia: nunca devemos lançar foguetes antes da festa. E isto também é aplicável aos hotéis, que nos podem encher o olho numa visão inicial mas depois têm “lacunas” que retiram toda a alegria. Exemplo? Wifi. Mas por razões específicas também ligadas à própria Rússia.

Depois de voltas e voltas e voltas para conseguir finalmente aceder à internet, o próprio responsável pela infraestrutura, que tentou de várias formas resolver o problema, tem de chamar outro tipo de cavalaria para superar a barreira. Que, neste caso em específico, tem outra explicação: o facto de haver um IP estrangeiro e desconhecido. Cinco horas depois, e com soluções improvisadas só para poder despachar o mais urgente, tudo resolvido. O sinal continua a não ser a melhor coisa, mas chega para as encomendas e desanuvia o ambiente para uma conversa onde nos explicam que existem várias restrições a este nível no país, que aparentemente poderão ter aumentado ou sido reforçadas por causa da organização do Campeonato do Mundo.

Esta sexta-feira, a Sábado revelou que um grupo de apoiantes do Estado Islâmico terá divulgado um vídeo onde ameaçava a possibilidade de tentar algum ataque ao longo da prova, tendo mesmo utilizado imagens do Fisht Stadium, em Sochi, onde Portugal vai esta noite estrear-se com a Espanha. As imagens teriam sido publicadas na quarta-feira pelo grupo Al-A’diyat em canais encriptados do Telegram e detetado pelo MEMRI – Middle East Media Research Institute. Mas uma coisa é certa: a esse nível, não há mesmo nada que se possa apontar à organização, que montou um alargado e robusto sistema de segurança com uma série de agentes policiais com diferentes missões e seis pormenores que evidenciam essa operação bem montada.

Este sábado, as autoridades russas foram obrigadas a responder a uma situação de emergência em Moscovo: um táxi atropelou transeuntes que passeavam na capital russa em altura de Mundial. Sete pessoas ficaram feridas. Alguns dos feridos seriam  apoiantes da seleção mexicana, segundo avança a agência de notícias Interfax. As autoridades russas detiveram o condutor do táxi e acreditam que este terá perdido o controlo do veículo.

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Táxi avança sobre multidão em Moscovo, causando oito feridos

Ponto 1. Um sistema mais rigoroso do que no aeroporto. Quem viaja de avião já está habituado à rotina do tira carteira, moedas, relógio e telefones antes de passar pelo detetor de metais, além do computador que tem de passar fora do saco ou mochila. Aqui, esse pormenor não é obrigatório mas, ainda assim, mesmo depois do detetor, há uma revista apertada a qualquer pessoa que entre no recinto como as mais rigorosas nos estádios do futebol, sobretudo na zona da cintura e dos tornozelos.

Ponto 2. A obrigatoriedade de mostrar que o telefone está ligado. Este é um dos pontos mais incomuns mas que já tínhamos também visto em Kratovo, onde está concentrada a Seleção Nacional: além de mostrarmos todos os telemóveis que trazemos, os responsáveis pela revista obrigam também a que seja mostrado no visor que o mesmo está ligado de forma normal.

Ponto 3. O detetor específico de líquidos. Quando alguém, por engano, chega a uma revista com uma garrafa de água ou um refrigerante, já se sabe que, ato contínuo, terá de agarrar na mesma e atirar para o caixote do lixo ali mais perto. Também foi assim connosco, neste caso com uma garrafa de meio litro de água que ia na parte da mochila. Como o inglês não é naquela zona o prato predileto, percebemos o que se passava com um simples apontar de dedo. Pedimos desculpa, bebemos dois ou três golos para matar a sede de mais um dia com quase 30 graus, e entregamos a garrafa. Ao invés do que é normal, pode passar mas antes é verificada com uma pequena máquina que tem como função garantir que não existe qualquer tipo de substância proibida (já agora, para encerrar este capítulo, acrescente-se que estava tudo dentro dos conformes e ficámos com a garrafa).

Ponto 4. O cão, para sempre o melhor amigo do homem. Por norma, quando juntamos na mesma frase cão e procura de explosivos, pensamos em animais grandes, com ar feroz; em Kratovo, o encarregado de quatro patas de verificar que nada de estranho entra nas viaturas com acreditação para aceder ao parque junto à sala de imprensa do quartel-general de Portugal só dá vontade de apertar de tão patusco que é. Em Sochi, por volta das 23 horas desta quinta-feira, encontrámos um misto quando saíamos do Fisht Stadium: de um lado, um pastor alemão; do outro, um labrador. O que faziam? Qualquer zona dentro do recinto (ou seja, naquela espécie de círculo entre a entrada e o acesso às bancadas) que estivesse um pouco molhada ou com algum tipo de pequeno lixo era revistada não só com a ajuda dos cães mas também de uma luz refletora que era apontada a esse sítio

Ponto 5. A revista de todas as tampas de esgoto, seladas com espuma. Além da ação de polícias e cães supracitada, havia outras equipas da brigada de minas e armadilhas que tiveram uma função muito especifica durante a noite: verificar todas as tampas de esgoto no recinto, abrir as mesmas, assegurar que não havia nada de estranho e selar com uma espécie de espuma que isolava o aro circundante da tampa. Esta manhã, os funcionários da limpeza tentaram essa espuma (pelo menos na parte de cima, por uma mera questão de aparência), mas ainda há vestígios da mesma.

Ponto 6. As barreiras criadas nas estradas circundantes. Desde manhã que várias estradas na zona que circunda o Parque Olímpico e o Fisht Stadium estão cortadas, com pinos e cancelas, obrigando a que apenas se possa aceder ao estádio a pé ou de carro nas zonas destinadas para o efeito com as devidas autorizações nas credenciais com que chegam. Ainda assim, e para a maioria dos espetadores do duelo ibérico, não traz qualquer tipo de constrangimento porque as pessoas vêm mais cedo para se juntarem à festa (ainda para mais com uma zona de praia mesmo aqui ao pé nesta Riviera russa).

Nota – Artigo atualizado às 17h50 do dia 16/06/0218, após um táxi ter ferido sete pessoas em Moscovo.