O grupo francês Engie está a considerar o lançamento de uma oferta de 7,3 mil milhões de euros sobre a EDP Renováveis, de acordo com informação avançada pela Bloomberg que cita pessoas com conhecimento do tema. Em cima da mesa está também uma eventual proposta para a compra de ativos da EDP Renováveis nos Estados Unidos, país onde se espera uma maior resistência à ofensiva chinesa sobre a elétrica portuguesa.

A Engie, uma das maiores elétricas europeias, está a trabalhar com consultores e assessores na avaliação de uma oferta pela totalidade ou uma parte da EDP Renováveis, de acordo com as mesmas fontes citadas pela Bloomberg. O grupo francês estará especialmente interessado nos ativos que a empresa liderada por João Manso Neto tem nos Estados Unidos e que ficarão comprometidos, caso a China Three Gorges consiga o controlo da EDP. No entanto, e segundo a agência, a Engie também estará a considerar fazer uma oferta pela totalidade da empresa. Caso avance com este cenário, teria de lançar uma OPA concorrente à lançada pela China Three Gorges cujo o preço oferecido está abaixo da cotação.

O grupo francês tem sido apontado como um dos potenciais interessados em fazer negócios com a EDP, tendo inclusive existido conversas com a gestão de António Mexia antes de ser lançada a OPA da China Three Gorges. A Engie é acionista do segundo maior produtor de energia elétrica em Portugal, mas os seus principais ativos no mercado nacional são as centrais térmicas da Turbogás e do Pego.

A Bloomberg diz que o interesse da Engie está focado na unidade de renováveis da EDP, ainda que estas considerações se encontrem numa fase inicial. A agência diz ainda que a EDP Renováveis está a despertar o apetite de outras grandes elétricas europeias, na medida em que os chineses possam ter de vender ativos para garantir a aprovação dos reguladores de vários países à OPA lançada sobre a EDP. A China Three Gorges já admitiu estar aberta a esta possibilidade.

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A EDP tem 83% da EDP Renováveis e se a OPA da sua acionista chinesa tiver sucesso, então a China Three Gorges ficará com o controlo da Renováveis. Este cenário exigirá autorizações de reguladores em vários países onde a EDP Renováveis está presente, em particular nos Estados Unidos que é o principal mercado desta empresa depois da compra da Horizon na década passada. E é nos Estados Unidos que se advinham maiores obstáculos das autoridades e reguladores à pretensão chinesa sobre a EDP.

Aliás, no relatório em que avalia a OPA chinesa, a administração da EDP já alertava para os riscos desta OPA para a EDP Renováveis. E a administração da Renováveis desaconselhava os investidores a venderem na oferta. Não só porque o preço é baixo — em cima da mesa estão 7,33 euros por ação, quando a cotação está nos 8,36 euros o que avalia a empresa em 7.3 mil milhões de euros — mas também porque as condições que se espera sejam impostas pelas autoridades americanas podem penalizar a estratégia e o crescimento da EDP Renováveis nos Estados Unidos.

“Esta situação poderá ser mais relevante nos negócios dos Estados Unidos, onde as medidas de correção e / ou de mitigação podem ser impostas pelo CFIUS e/ou FERC. Tendo em consideração a importância da plataforma dos Estados Unidos para a EDP Renováveis, tais eventuais medidas de correção e/ou de mitigação poderão ter repercussões na estratégia e nas perspetivas de crescimento da EDP Renováveis”.

Um dos cenários em cima da mesa da elétrica francesa, ainda segundo a Bloomberg, seria o de um acordo com a China Three Gorges para comprar ativos que facilitassem a viabilização da operação nos Estados Unidos, o que significaria uma divisão dos ativos da EDP Renováveis pelos dois investidores internacionais.