A Argélia está a obrigar milhares de migrantes a atravessar o deserto sem água ou comida. Só nos últimos 14 meses, 13 mil emigrantes estiveram nessa situação, e estima-se que desde 2014 tenham morrido no deserto cerca de 30 mil pessoas. Os números são da Organização Internacional das Migrações, citados pela TSF, e incluem uma grande parcela de mulheres grávidas e crianças. Segundo o jornal Público, ainda morrem mais migrantes no deserto do Saara do que no Mediterrâneo.

O alerta é dado pela Organização Internacional das Migrações e pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) e a situação remonta a 2017, altura em que a União Europeia começou a pressionar os países do norte de África para desmobilizarem os migrantes que quisessem ir para a Europa através do Mar Mediterrâneo. Segundo a TSF, a expulsão de migrantes é permitida desde que seja feita nos termos da lei internacional, mas não é o que está a acontecer na Argélia, que não recorre às verbas oferecidas pela União Europeia para ajudar com a crise dos refugiados.

A Argélia está a expulsar migrantes para o Níger, obrigando-os a caminhar, a pé, ao longo do deserto. O esquema começa quando são colocados em camiões, onde viajam durante horas até um ponto de transição, chamado Ponto Zero. A partir daí é-lhes dito que caminhem uma distância de 15 quilómetros, a pé, pelo deserto do Saara, até à fronteira com o Níger. As temperaturas podem chegar aos 48 graus, sendo que muitos deles não sobrevivem.

Segundo o diretor da Organização Internacional para as Migrações responsável pela África Ocidental e Central, Richard Danziger, “ainda não há estimativas do número de mortos no deserto do Saara”, mas a referência é 30 mil mortos desde 2014. Os relatos das condições adversas chegam através de sobreviventes. A Associated Press fez esta semana uma compilação, onde dá conta, por exemplo, do relato de Ju Dennis, da Libéria, que filmou a sua deportação com um telemóvel que conseguiu manter escondido: foi levado num camião com dezenas de outros migrantes até ao chamado Ponto Zero, onde guardas armadas lhes indicaram depois a direção do Níger, para onde tiveram de seguir, a pé. Seguiu-se uma travessia no deserto, sem água e sem comida, e com guardas a ameaçar disparar se não andarem suficientemente depressa.

A Argélia não publica dados sobre as expulsões de migrantes. Mas a Organização Internacional das Migrações tem os seus números: desde que começou a contabilização, em maio de 2017, quando 135 pessoas foram deixadas na fronteira para chegar ao Níger, os números não pararam de aumentar. Em abril deste ano, segundo dados da OIM citados pelo Público, foram mais de 2800 os migrantes nesta situação.

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