O concerto desta sexta-feira dos Xutos & Pontapés, o oitavo desde que o Rock in Rio se instalou em Lisboa, nunca poderia ser um concerto qualquer. O primeiro no festival sem o guitarrista Zé Pedro, que morreu em novembro do ano passado, apresentava-se desde logo como a oportunidade ideal para homenagear o músico, o amigo de longa data e o companheiro de estrada de quatro décadas. Graças à dedicação dos colegas de banda e dos fãs que encheram a audiência, Zé Pedro pôde subir ao palco uma última vez.

Sem grandes rodeios, os Xutos & Pontapés começaram o concerto, o segundo do dia no Palco Mundo, com “À Minha Maneira”, “Chuva Dissolvente” e “Fim do Mundo”, aquele que é, “se calhar, o último tema gravado em estúdio” pela banda ainda com Zé Pedro na guitarra, como explicou o vocalista Tim. Apesar de ter sido anunciado que o espetáculo contaria com a presença de políticos e outras figuras públicas, foi só ao quarto tema, “Prisão de Si”, que Marcelo Rebelo de Sousa, Eduardo Ferro Rodrigues e Fernando Medina, sentados junto à zona técnica de apoio, apareceram nos écrãs gigantes. O público reagiu de imediato, e Marcelo sorriu e acenou. António Costa só chegou depois.

O Presidente da República foi uma das grandes atrações do concerto. Durante o tema “Remar Remar”, um grupo de brasileiras rompeu a multidão para pedir uma selfie a Marcelo, que estava concentrado a folhear o livro Não Sou o Único, a biografia de Zé Pedro escrita por Helena Reis. O Presidente, sempre sorridente, explicou que a fotografia tinha de ser tirada à distância. As fãs (neste caso de Marcelo e não tanto dos Xutos) levantaram o telemóvel, Marcelo esticou o pescoço e lá se tirou  a fotografia. Como agradecimento, o grupo atirou-lhe muitos beijinhos. Não foram as únicas. Os acenos, os beijinhos atirados do outro lado das grades, as selfies — o rodopio junto à zona técnica não parou durante todo o concerto. Marcelo até apareceu numa videochamada para a irmã de alguém.

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Apesar de o alinhamento ter sido composto sobretudo pelos grandes temas da banda — como “Circo de Feras”, “Homem do Leme” ou “Contentores” –, que puseram a cantar o público do primeiro ao último minuto, houve ainda espaço para uma música nova, “Mar de Outono”, que fará parte de um eventual próximo álbum, como explicou Tim. “A próxima foi escrita pelo Zé Pedro”, disse o vocalista, na primeira referência direta ao guitarrista, presente do início ao fim do concerto. “É uma canção que todos conhecem e que certamente vão cantar com agrado. É por isso que estamos aqui hoje. Era isso que ele quereria.” Tratava-se de “Não Sou o Único”.

No final do concerto, Marcelo e outros convidados subiram ao palco para cantar “Casinha” em homenagem a Zé Pedro (MIGUEL A. LOPES/LUSA)

É certo que o concerto teve um gosto especial desde o início, mas foi para o fim que ficaram os momentos mais emotivos. Depois de “Ai Se Ele Cai”, Tim anunciou que os Xutos & Pontapés iam “poder tocar com o Zé Pedro outra vez neste palco”, mostrando o seu “amor e gratidão”. Recorrendo à gravação de um concerto no estádio do Belenenses, no Restelo, a banda pôde fazer “uma interpretação solene, impossível de repetir” da música “Para Ti Maria”. Zé Pedro voltou a tocar com os Xutos uma última vez.

Pedindo um minuto de palmas para o guitarrista, enquanto uma fotografia de Zé Pedro, a preto e branco, preenchia todos os écrãs do Palco Mundo, Tim chamou ao palco familiares (incluindo a viúva do músico, Cristina Avides), amigos e convidados especiais para um último momento de homenagem. Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, a cantora Raquel Tavares, a apresentadora Júlia Pinheiro, a atriz Maria Rueff e o ex-futebolista Pauleta foram algumas das figuras públicas que fizeram parte do coro de “Casinha”, música com a qual os Xutos escolheram fechar o primeiro grande concerto sem o guitarrista que ajudou a fundar a banda há 40 longos anos. Apesar da chuva, que piorava a cada segundo, os fãs não arredaram pé, cantando e pulando. Tudo em honra de Zé Pedro. É que os grandes não morrem nunca.