O ex-ministro das Finanças e atual presidente do EuroBic, Fernando Teixeira dos Santos, não considera que exista “razão pública suficientemente forte” para justificar a decisão de revelar a lista dos grandes devedores da Caixa Geral de Depósitos. Em entrevista ao Negócios/Antena 1, Teixeira dos Santos diz que a quem cabe averiguar o que levou às perdas no banco público deve ser o parlamento e quem deve perceber se foram adotadas boas práticas deve ser o supervisor — “se nós tirarmos isso do supervisor estamos a dar um sinal muito mau, de que temos um supervisor no qual não podemos confiar”.
Acho que o revelar a relação comercial que existe entre um banco e um cliente, que deve ser uma relação de sigilo, é abrir um precedente que pode minar muito a confiança que qualquer agente pode ter no sistema bancário. Hoje está em causa a CGD, amanhã pode ser outro banco qualquer invocando não sei que pretexto. Mas depois disso eu pergunto quem é que estaria disponível a pedir um financiamento a um banco sabendo que no futuro pode ver o seu nome divulgado”, afirma Teixeira dos Santos.
Teixeira dos Santos reconhecer que “se no âmbito da ação da supervisão se chega à conclusão ou se há indícios ou factos que indiciem que há gestão danosa eles devem ser comunicados às autoridades judiciais, as pessoas devem ser julgadas e os casos devem ser averiguados e julgados e a opinião pública e instâncias políticas tirarem as consequências e ilações necessárias”. “Mas não punha a carroça à frente dos bois, como se costuma dizer”, defende o ex-ministro das Finanças de José Sócrates.
Decisões de crédito não devem ir “mais longe do que Lisboa”
Outro tema sobre o qual falou Teixeira dos Santos, na entrevista ao Negócios/Antena 1, foi da chamada “iberização” da banca, que é algo que “preocupa” o gestor bancário. “Não tenho preconceitos quanto à presença de capital estrangeiro na nossa economia, inclusive no sector bancário. A minha única preocupação tem mais a ver com aquilo a que chamaria a cadeia de decisão que se estabelece”.
Teixeira dos Santos defende que “é importante que, independentemente da origem do capital das instituições, as decisões possam ser tomadas a nível nacional”. “No caso do EuroBic, acho que é importante continuar a poder dizer aos nossos clientes – sejam eles depositantes, empresas ou famílias que precisam do financiamento – que as decisões são tomadas ao nível do banco, das agências, dos diretores regionais ou diretores nacionais ou até, quando a complexidade ou a dimensão da operação o obriga, ao nível da administração, mas que a decisão não vai mais longe do que Lisboa”.