O ministro do Governo britânico responsável pelas negociações do Brexit, David Davis, demitiu-se do governo de Theresa May. A decisão foi anunciada poucos minutos antes da meia-noite de domingo, numa resposta aos planos anunciados pela primeira-ministra para os termos da saída da União Europeia, que estão a enraivecer os maiores defensores de uma saída mais radical do bloco. Davis não concorda com a abordagem de Theresa May e demite-se porque, na sua opinião, o plano da primeira-ministra não corresponde a um verdadeiro corte com Bruxelas.
Não foi a primeira vez que David Davis mostrou ter uma relação difícil com a primeira-ministra, cada um com a sua visão sobre que relação o Reino Unido deve ter com a União Europeia após março de 2019 — a data da saída da UE. Mas terá sido o último confronto entre os dois: Davis sai porque “a atual tendência das políticas e da tática [negocial] torna cada vez mais provável” que o governo a que pertence(u) não consiga “cumprir o mandato dado pelo resultado do referendo” de junho de 2016 e “o compromisso assumido no programa eleitoral de garantir a saída da União Europeia e do Mercado Único”.
A direção política atual vai deixar-nos, no melhor dos casos, numa posição negocial fraca — ou, possivelmente, numa posição negocial inescapável”
David Davis sai e é acompanhado por dois adjuntos, Steve Baker e Suella Braverman.
Theresa May tem sido duramente criticada pela ala mais defensora do Brexit dentro do seu partido, depois de ter promovido um acordo em Conselho de Ministros sobre os termos do acordo provisório que deverá vigorar nos dois anos após a saída da União Europeia. O acordo no governo foi conseguido, mas Theresa May não se livrou de acusações de que o seu plano correspondia a uma saída da UE “só no papel”, advogando que — como diz David Davis na carta de demissão — o acordo “não corresponde a uma reconquista do controlo sobre as nossas leis, verdadeiramente”.
Para defender esse acordo, nos termos em que May avançou, é necessário alguém que “acredite de forma entusiástica” naquela abordagem, disse David Davis, já que este nunca seria mais do que um “participante relutante” num plano que “entrega o controlo de uma grande parte da nossa economia à União Europeia”.
Theresa May convence equipa ministerial para acordo de “soft Brexit”
Theresa May, sobre cujo futuro a imprensa britânica está a especular, já reagiu à demissão: “Nós temos um plano que foi alvo de acordo [na sexta-feira] (…) e vamos seguir em frente”, avisou a primeira-ministra britânica, lamentando a saída de David Davis.
Mas as vozes que criticam a responsável máxima do governo conservador por estar a assumir, na sua opinião, uma posição demasiado “suave”. “Chegou o momento em que precisamos de um primeiro-ministro claramente pró-Brexit, alguém que acredite realmente na saída da UE e esteja disposto a cumprir aquilo que as pessoas decidiram no referendo”, comentou a deputada conservadora Andrea Jenkyns, em declarações à rádio da BBC.
Jacob Rees-Mogg, um dos rostos principais da pressão pública por um Brexit mais radical, acredita que “será muito difícil que as propostas em cima da mesa obtenham o apoio dos deputados conservadores, pelo que a primeira-ministra deve reavaliar os seus planos”.
O líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, defende que a demissão de Davis, “num momento tão crucial, mostra que Theresa May não tem qualquer autoridade e é incapaz de cumprir com o Brexit”. “Com o governo num caos, se ela não se demitir, torna-se claro que está mais interessada em agarrar-se aos seus próprios interesses do que em servir as pessoas do nosso país”, acrescentou Corbyn, através de uma publicação na rede social Twitter.
David Davis resigning at such a crucial time shows @Theresa_May has no authority left and is incapable of delivering Brexit.
With her Government in chaos, if she clings on, it's clear she's more interested in hanging on for her own sake than serving the people of our country.
— Jeremy Corbyn (@jeremycorbyn) July 8, 2018