Oddisee & Good Compny

19h20, palco EDP

A revista Vice norte-americana descreveu assim o último álbum de Oddisee, The Iceberg: “É bom como o raio”. Já a revista Time preferiu destacar o vídeo do tema “NNGE”, considerando-o “uma ode à resiliência afro-americana”. O produtor musical e rapper de 33 anos já faz música há vários anos, mas os últimos foram aqueles em que ganhou reconhecimento como um dos melhores da sua geração. Filho de pai sudanês e mãe afro-americana, Oddisee destaca-se pela forma como combina fórmulas sonoras inovadoras com um discurso que se ouve pouco no seu meio musical. Só é pena que atue à mesma hora do talentoso homólogo portuense de Oddisee, Virtus.

As referências sonoras são ecléticas, do jazz e soul que se ouviam no hip hop dos anos 1990 à intensidade e inovação que se ouve em algum do R&B e trap atual. A mistura é interessante mas não se destacaria tanto sem o talento de Oddisee para as rimas, com as suas mensagens interventivas, humanistas e críticas do que o rodeia. À mesma Vice, o rapper dizia: “A minha mensagem é tentar juntar toda a gente para que as pessoas percebam que não são assim tão diferentes umas das outras”. Já na canção “NNGE”, vira as agulhas para o seu país com argúcia: “I mean, what is there to fear? I’m from black America, this is just another year”. Depois de uma atuação no festival Vodafone Mexefest com DJ, Oddisee estreia-se agora em Portugal com a sua talentosa banda, Good Compny. Como prova o álbum ao vivo que editou em novembro, a sua música cresce muito nesse formato. “Like really?”

Slow J

20h, palco Super Bock

O ano passado, sem dar um concerto perfeito (os microfones dos convidados falharam, o músico estava com pouca mobilidade devido a uma lesão), Slow J foi uma das revelações do Super Bock Super Rock. Foi-o tanto que a organização do festival decidiu num ápice que do palco secundário em que atuou, o rapper, cantor e músico (cujo nome de batismo é João Batista Coelho) tinha de saltar para o palco principal este ano. E o acordo ficou fechado ali mesmo, no que parece ter sido uma escolha inteligente para fazer o que os Orelha Negra fizeram há dois anos, na noite em que o grande destaque era Kendrick Lamar: dar início às atuações no palco principal. Isto depois da estranha aposta que foi colocar The Gift e London Grammar a atuar antes do cabeça de cartaz Future, no ano passado.

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Desde que editou o seu álbum The Art of Slowing Down, Slow J não tem andado parado. Andou em digressão um pouco pelo país inteiro, tornou-se parceiro do rapper Papillon colaborando ativamente na composição do álbum de estreia deste (Deepak Looper), lançou uma música nova chamada “Fome” e participou em temas alheios: “Nunca Pares” (de Stereossauro, com Papillon e Plutónio como restantes convidados), “Alma Velha” (do rapper Valas), “Puristas” (dos Beatbombers), “Melodia-me” (da cantora Fábia Maia) e “Water”, um grande êxito que gravou com Richie Campbell e que cantou com este na Altice Arena, para mais de dez mil pessoas. Não faltam motivos para que o concerto deste ano seja uma festa diferente e maior do que a de 2017. Se o concerto anterior foi a prova de que Slow J entrou na primeira liga do hip hop português, o de este ano responderá a uma dúvida: terá Slow J entrado já na primeira divisão da música nacional?

Princess Nokia / Luís Severo

21h10, palco EDP / 21h10, palco LG

Entre os concertos de Slow J e Anderson Paak, dois dos concertos mais aguardados da noite, os restantes palcos não vão parar e têm duas opções interessantes para prosseguir a noite. Quer o hip hop feminista da emergente rapper americana de ascendência porto-riquenha Princess Nokia (Destiny Nicole Frasqueri), quer a folk-pop apurada do português Luís Severo, merecem escuta. Estando a qualidade assegurada, o melhor é decidir consoante a vontade do momento: se já estiver cansado de ouvir rap, o melhor é espreitar Luís Severo; se quiser prosseguir na mesma onda, então o concerto da americana é o mais indicado.

Anderson .Paak

22h, palco Super Bock

Dividirá o protagonismo de cabeça de cartaz com o rapper Travis Scott. Tendo um público mais heterogéneo do que Scott, que é sobretudo popular entre ouvintes mais jovens, Anderson .Paak é bem capaz de roubar a noite, até porque a forma como transforma hip hop, soul, funk e jazz numa festa musical desenfreada e sem limites tornam-no um dos grandes músicos do momento. Soma-se a isso uma banda que conhece todas as lições do groove —  os The Free National — e as expetativas para o regresso de .Paak a Portugal são as melhores, depois de o músico ter feito o concerto de abertura do espetáculo de Bruno Mars na Altice Arena, no ano passado.

Nascido na Califórnia, atualmente com 32 anos, Brandon Paak Anderson toca bateria, canta, rima e ainda se aventura em outros instrumentos. Sempre com eficácia e energia. Depois de um início de década complicado, em que chegou a viver como sem abrigo com a sua mulher e um filho pequeno, .Paak começou a investir na música e em 2014 lançou o primeiro álbum com este nome artístico, Venice. O seu nome começou a ser falado no circuito hip hop e R&B, até que em 2016 Anderson .Paak  editou Malibu, o seu álbum mais marcante até ao momento e aquele que lhe valeu uma nomeação para um prémio Grammy (na categoria de autor do Melhor Álbum Urbano Contemporâneo desse ano). Em 2017, lançou o álbum Yes Lawd! com o projeto paralelo NxWorries (um duo com o produtor musical Knxwledge) e este ano irá lançar o sucessor de Malibu. Ainda sem data conhecida de lançamento, sabe-se já que terá como título Oxnard Ventura e que é um dos discos mais aguardados do ano. Faça-se a festa.

Travis Scott

23h50, palco Super Bock

Quem não for fã de auto-tune — ferramenta de efeito de voz muito utilizada na música trap, uma variante moderna do hip hop –, o melhor é nem passar pelo concerto de Travis Scott. O rapper e cantor texano de 26 anos usa e abusa desta ferramenta. Para os mais puristas, é receita imediata para o desastre, mas para quem já notou que ele pode ser bem ou mal usado, consoante o autor e a intenção, não será nunca motivo de afastamento. Basta ouvir o modo como Kanye West tem vindo a utilizar o auto-tune nos últimos anos. Kanye que (tal como Kid Cudi ou Toro Y Moi) é uma forte influência de Travis Scott e participou até num single recentemente lançado pelo jovem, “Watch“.

Dito isto, é inegável que a (boa) produção maquinal e de estúdio é um dos segredos de Travis Scott, que teve mérito em saber usar estas ferramentas tecnológicas ao serviço de canções festivas, despreocupadas e hedonistas. Canções que, não ficando na memória pelos versos ou pelo impacto duradouro que deixam nos ouvintes, apelam com uma imediatez impressionante ao movimento. No Super Bock Super Rock, Scott terá muitos fãs, sobretudo jovens, que vão saltar, abanar a cabeça e fazer a festa durante o concerto. Resta saber se, para outra parte (significativa) do público presente, também ela fã de hip hop e R&B mas mais exigente, Travis Scott será mais eficaz a transpor a sua música para palco do que o foi Future no ano passado, neste festival, ou A$AP Rocky há umas semanas, no NOS Primavera Sound. É difícil que o concerto não seja melhor, mas a utilização em excesso e em momentos desadequados de música pré-gravada pode ser um anti-clímax poderoso. Para muitos, é uma estreia muito aguardada em Portugal. Consensual, dificilmente será.