Ainda não tinha dez anos, já marcava onze golos num jogo. Um tempo depois, com 15, foi chamado para realizar testes no Manchester United e foi apelidado de “o próximo Cristiano Ronaldo”, antes de regressar ao Benfica, onde foi campeão de iniciados, juvenis e juniores. Vinculado aos encarnados até 2022, João Filipe – Jota, no mundo do futebol – ainda não se estreou pela equipa principal, mas vai dando nas vistas nos grandes palcos internacionais e, aos 19 anos, é um dos destaques da Seleção Nacional Sub-19 que, esta quinta feira, garantiu a segunda presença consecutiva em finais da categoria, depois de golear a Ucrânia por 5-0.

A carreira de João Filipe começou no Ginásio de Corroios. A passagem pela equipa da margem sul do Tejo foi curta, tal o destaque ganho pelo extremo português, que conseguiu um feito, particular: marcou mais golos num jogo do que a idade que apresentava na altura. “Estive um mês no Ginásio de Corroios. No primeiro torneio, os olheiros do Benfica estavam presentes e a minha equipa conseguiu chegar à final. Ganhámos 11-0, tendo os onze golos sido apontados por mim. Depois do torneio, os olheiros do Benfica falaram com os meus pais e disseram que queriam que fosse realizar alguns treinos ao clube. E assim foi”, conta João Filipe, ao site Jovens Promessasem entrevista dada em 2015.

Ao fim de 11 anos no Benfica, Jota sagrou-se campeão de iniciados, juvenis e juniores, representou a equipa B e espera uma oportunidade na formação principal (Créditos: SL Benfica)

Chegado ao clube da Luz, em 2007, integra as escolinhas encarnadas e começa uma formação de águia ao peito. Com o escalão de iniciados, vem o primeiro título, em 2014, num campeonato ganho pelo Benfica com a contribuição de João Filipe: 22 golos em 33 partidas. Números mais do que suficientes para chamar a atenção dos tubarões europeus, com Barcelona, Real Madrid e Manchester United à cabeça. Os ingleses ganharam a corrida e conseguiram levar Jota até ao complexo de treinos dos red devils, em Carrington, onde o extremo chegou acompanhado por João Virgínia, guardião que também foi campeão de iniciados na Luz e que realizou os primeiros minutos no Europeu de Sub-19 frente à Ucrânia, ao substituir Diogo Costa na baliza.

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Terminados os testes, nenhum dos jovens ficaria no United, acabando por regressar ao Benfica. Se João Virgínia saiu logo na época seguinte para o Arsenal, João Filipe permaneceu de águia ao peito. E em boa hora o fez, já que conquistaria o segundo título da sua curta carreira, o campeonato nacional de juvenis. Em 2014/15, Jota tinha idade de juvenil de primeiro ano, sagrava-se campeão na formação de segundo ano e somava ainda três presenças pela equipa de juniores. 

Com a formação feita nas águias, no verão de 2017, Jota renovou contrato com o clube da Luz por cinco anos, até 2022. (Créditos: SL Benfica)

O talento era inegável e o melhor ainda estava para vir: depois de nova época no escalão acima do seu, chega aos convocados da Seleção Nacional no Europeu Sub-17, onde conquista a prova depois de uma final frente à Espanha, ganha nas grandes penalidades. Segue-se a estreia pela equipa B encarnada, em janeiro de 2017, e a renovação de contrato com o Benfica até 2022, ao fim de 11 anos no clube. No final da temporada passada, o terceiro título ao serviço dos encarnados, completando o pleno de escalões – marcou três golos em 18 jogos, um deles ao rival Sporting, na penúltima e decisiva jornada da fase final do campeonato de juniores, que terminou com 3-1 a favor do Benfica.

E é como campeão de juniores na temporada passada, onde realizou ainda 14 jogos pela equipa B do Benfica, que João Filipe chega ao Europeu de Sub-19, na Finlândia. Depois de duas primeiras jornadas onde a oportunidade de brilhar lhe fugiu, com Francisco Trincão a roubar os holofotes para si frente à Noruega, na primeira jornada, e a expulsão de Diogo Queirós, no segundo jogo, frente à Itália, a obrigá-lo a sair de campo antes do quarto de hora, João Filipe chegou à partida frente aos anfitriões disposto a dar tudo. Na derradeira jornada da fase de grupos, Jota marcou um golo, fez duas assistências e deixou a cabeça em água aos defensores finlandeses, que não sabiam bem para onde deveriam virar-se, tal a capacidade criativa do extremo português. Fintas de fazer corar os melhores do mundo, passes a rasgar a defesa e uma capacidade de improviso digna de um mágico de palco fizeram de João Filipe o melhor em campo nesse encontro.

O jovem é presença assídua nas seleções de formação, tendo-se já sagrado campeão europeu Sub-17 (Créditos: FPF)

“Sou um virtuoso. Gosto de estar feliz em campo e fazer as minhas coisas. Sou um jogador diferente porque acho que tenho o futebol de rua nas botas. Às vezes, perco a bola por causa disso e tenho de me adaptar ao futebol moderno, mas o meu objetivo é esse mesmo”, explicava João Filipe no final da vitória por 3-0 sobre a Finlândia, que colocaria Portugal na meia-final.

Estava dado o mote para o recital de João Filipe na semi-final com a Ucrânia, onde assinou dois golos e mais uma brilhante exibição (como toda a Seleção Nacional, diga-se). Portugal venceu 5-0 e garantiu presença na final da prova, onde irá tentar conquistar o seu primeiro título na categoria. Há três anos, João Filipe tinha Neymar, Messi e Ronaldo como ídolos, apreciava o futebol jogado pelo Bayern Munique e via em José Gomes (avançado do Benfica que também está presente na Seleção Sub-19) o melhor jogador com quem já tinha partilhado balneário. Questionado sobre onde gostaria de estar dentro de dez anos, respondia: “espero ter-me tornado jogador profissional de futebol, contando já com muitas conquistas”. No domingo, poderá sagrar-se campeão europeu de Sub-19, a sua conquista mais importante numa carreira tão curta e já tão recheada.