A 3.ª Força Nacional Destacada na capital da República Centro Africana, Bangui, realizou, desde março, mais de meio milhar de missões, entre as quais patrulhas motorizadas, escoltas e operações de defesa e controlo de terreno ou infraestruturas chave.

O comando da 3.ª Força, constituída pelo Regimento de Infantaria 15 e o 1.º Batalhão de Infantaria Paraquedista, indica que os militares portugueses “tiveram 18 contactos e incidentes” com alguns dos mais dos 15 grupos armados, que lutam pelo poder e controlam quase todo o território da República Centro-Africana, com o tamanho da França e 4,6 milhões de habitantes.

Entre os registos dos contactos com as milícias, que não controlam apenas um quinto do território, os capacetes azuis da Força Nacional Destacada, composta por 159 militares – 156 pertencem ao Exército, com 126 paraquedistas da Brigada de Reação Rápida, e três integram a Força Aérea, especializados em controlo aéreo tático – foram obrigados a recorrer ao “uso de armas de fogo em 12 ocasiões”, de acordo com o comandante do contingente português, tenente-coronel João Bernardino.

Desses confrontos resultaram apenas ferimentos em dois militares portugueses, que integram a Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (Minusca), que tem como comandante o tenente-general senegalês Balla Keita, instalada no Campo M’Poko, junto ao aeroporto internacional de Bangui.

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Os militares portugueses, que terminam a comissão de seis meses no início de setembro, ainda não tinham completado um mês de permanência em Bangui quando uma patrulha foi alvejada por tiros de arma ligeira, disparados por um grupo armado, que utilizou civis, entre os quais mulheres e crianças, como escudo humano, referem as autoridades nacionais.

A 31 de março, a patrulha realizava uma missão de vigilância de rotina no bairro de maioria muçulmana PK5, no terceiro distrito da capital da República Centro Africana, quando, pelas 19h10 locais (a mesma hora em Lisboa), foi atingida por tiros, tendo respondido com fogo controlado. Depois de os militares portugueses terem lançado gás lacrimogéneo em direção aos elementos do grupo armado, os rebeldes dispersaram.

Sem que tenham sido registados oficialmente feridos ou mortos entre os rebeldes, este foi o primeiro ataque contra os capacetes azuis no PK5 desde o recrudescer da violência naquele distrito, em finais do ano passado.

Poucos dias depois, a 8 de abril, um capacete azul português sofreu ferimentos ligeiros durante operação no bairro PK5, considerado o “coração” económico da capital da República Centro-Africana. O militar foi atingido na omoplata direita por estilhaços de uma granada ofensiva durante a Operação Sukula da Minusca, para eliminar radicais islâmicos no PK5.

Nos incidentes de 1 de maio, que se estenderam às imediações de uma igreja católica, sem a intervenção dos capacetes azuis, pelo menos 24 pessoas morreram e 170 ficaram feridos. No final desse mesmo mês, a 29, um segundo militar português sofreu ferimentos ligeiros durante confrontos entre rebeldes armados, na cidade de Bambari, a 384 quilómetros de Bangui. Houve troca de tiros e alguns civis afetos ao movimento rebelde islâmico Séléka arremessaram pedras para os veículos blindados da Força Nacional Destacada.

Na noite de 18 para 19 de julho, uma pessoa foi atingida mortalmente, num ataque que durou cerca de uma hora, perpetrado por homens armados não identificados, a uma base da milícia de Nimery Matar Djamous, conhecida também por Force.

Até ao presente, a Força Nacional Destacada realizou “um total de 66 patrulhas motorizadas, uma operação de cerco e busca e 62 missões de reconhecimento (quatro das quais de longo raio de ação)”.

Desde da rendição da força da comissão anterior, a 6 de março deste ano, os militares portugueses estiveram ainda envolvidos em “nove operações para controlar terreno ou infraestruturas chave e seis de defesa de território ou de espaços sensíveis”. Também realizaram quatro ações de apoio às populações, três operações helitransportadas e duas missões de apoio aéreo próximo.

No total, a Força Nacional Destacada – equipada com viaturas blindadas norte-americanas HMMWV (Veículo Automóvel Multifunção de Alta Mobilidade), com uma peça de artilharia – percorreram “61.467 quilómetros em operações e 3.741 em ações administrativas”.

Na sua maioria, os grupos armados desenvolvem ações criminais para reunirem dinheiro, como raptos (de governantes locais e membros de organizações não-governamentais), extorsões, furto de gado e abate de elefantes para venda de marfim. Os rebeldes realizam também ações de bloqueio de vias de comunicação, para impedir a ajuda humanitária, e recorrem também ao tráfico de diamantes e ouro.

A República Centro-Africana caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do Presidente François Bozizé, por vários grupos juntos na Séléka (coligação, na língua local), de maioria islâmica. Depois, um grupo de milícias cristãs (anti-balaka) opuseram-se aos vencedores, desencadeando uma guerra civil ainda por terminar.

O Governo do Presidente Faustin Touadera, antigo primeiro-ministro e vencedor das eleições presidenciais de 2016, controla apenas um quinto do território. A missão da ONU está no país desde 2014 e Portugal enviou três forças nacionais destacadas.