O mais recente filme de Jean-Luc Godard, “O livro de imagem” vai abrir a próxima temporada da Cinemateca Portuguesa, no próximo dia 1 de setembro, anunciou esta quarta-feira a instituição.
A “retrospetiva integral” dos cineastas Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, a evocação do trabalho dos realizadores Milos Forman, Ermanno Olmi e Nelson Pereira dos Santos, que morreram recentemente, “Histórias do Cinema”, em sessões com o crítico e historiador Bernard Eisenschnitz, o centenário de Rita Hayworth e parcerias com os festivais Queer e Motelx dão corpo à programação do primeiro mês da temporada 2018-2019, da Cinemateca.
Esta, no entanto, define-se também com as homenagens ao crítico e realizador António Loja Neves, que morreu em maio, e à investigadora Joana Pimentel, do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM), que morreu em junho, e conta ainda com a edição dos textos sobre cinema, escritos pelo antigo diretor da Cinemateca João Bénard da Costa, para a instituição e para os ciclos da Fundação Calouste Gulbenkian.
A temporada abre no sábado, 1 de setembro, com uma única sessão, dedicada a “O livro de imagem”, o novo filme de Godard, “uma reflexão sobre o cinema e o estado do mundo”, sob a ameaça da guerra. Palma de Ouro especial no último Festival de Cannes, onde foi estreado, em maio, o filme teve ainda poucas projeções públicas, segundo a Cinemateca, e esta é a primeira portuguesa.
As sessões regulares da Cinemateca começam na segunda-feira, 3 de setembro, com os primeiros filmes dos ciclos dedicados a Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, Milos Forman, Ermanno Olmi e Nelson Pereira dos Santos, assim como a Rita Hayworth. Da atriz serão exibidos “Gilda”, de Charles Vidor, “Paraíso Infernal”, de Howard Hawks, “Salomé”, de William Dieterle, “A Dama de Xangai”, de Orson Welles, e “Uma Loira com Açúcar”, de Raoul Walsh, em sessões que se estendem até dia 14.
A homenagem a Milos Forman, Ermano Olmi e Nelson Pereira dos Santos atravessa o mês, com testemunhos de cerca de 50 anos de cinema, dos primeiros filmes do realizador de “Amadeus”, rodados ainda na antiga Checoslováquia, como “O Concurso” e “Amores de Uma Loira”, ao mais recente do mestre do neorrealismo italiano, “Vedete, suono uno di voi”, concluído no ano passado, sem esquecer “títulos fundamentais” do cinema brasileiro como “Vidas Secas”. “Os Amores de Uma Adolescente”, “Voando Sobre Um Ninho de Cucos”, “Hair” são outros filmes de Milos Forman a exibir, a que se juntam “O Emprego”, “Os Noivos” e “A Árvore dos Tamancos”, de Olmi, “Rio Zona Norte”, “Boca de Ouro” e “Como Era Gostoso O Meu Francês”, de Nelson Pereira dos Santos.
A retrospetiva dedicada a Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (1936-2006) – “uma das mais radicais [obras] do cinema moderno” – prolongar-se-á pelo mês de outubro, e abre no dia 3 de setembro, com “Sicília”. O filme é mostrado com “6 Bagatelas”, de Pedro Costa, seis cenas que o realizador português captou, durante a montagem de “Sicília”, e que constitui o primeiro de seis documentários sobre o trabalho de Straub-Huillet a exibir na retrospetiva: “Onde jaz o teu sorriso?”, também de Pedro Costa, “Une vie risquée”, de Jean-Claude Rousseau, “Straub e Huillet a trabalharem num filme”, de Harun Farocki, “Scicilia si gira”, de Jean-Charles Fitoussi, e “Defesa do Tempo”, de Peter Nestler.
Dos filmes iniciais de Straub – “Não Reconciliados ou Só a Violência Ajuda Onde a Violência Reina” e “O Noivo, a Atriz e o Proxeneta” -, a “Les Gens du Lac”, concluído este ano, serão mostrados mais de 50 filmes, num percurso de mais de meio século de cinema.
“A Pequena Crónica de Anna Magdalena Bach”, sobre o compositor alemão, “Os olhos não querem estar sempre fechados” (citação de “Othon”, de Corneille, que é um filme de Straub e o título da mostra), “Introdução à ‘Música de Acompanhamento para uma Cena de Cinema’ de Arnold Schoenberg”, “Os Cães do Sinai”, “Trop Tôt, Trop Tard”, “Operários-Camponeses” e a sua continuação (e final) “Humilhados…” estão entre os filmes de Straub-Huillet a exibir em setembro, assim como “Relações de Classe” e “Europa 2005”.
O ciclo “Histórias do Cinema” vai decorrer nos dias 24 a 27, com filmes de Jean Vigo (“O Atalante”), Robert Bresson (“O Carteirista”), Ingmar Bergman (“Na Presença de um Palhaço”), Orson Welles (“Othello”) e Charles Laughton (“A Noite do Caçador”), a par de documentários que localizam a história destas produções. Sessões deste ciclo serão acompanhadas por Bernard Eisenschitz, crítico e historiador ligado à Cinemateca Francesa e aos Cahiers du Cinéma, que também apresenta “Tournage d’hiver”, no qual reconstrói a conceção de “O Atalante”.
A homenagem a Joana Pimentel tem lugar no dia 6 de setembro, com a exibição de “Viagem a Angola”, de Marcel Borle, um filme de 1929, restaurado pela instituição portuguesa. António Loja Neves é recordado no dia seguinte, com a projeção de “O Silêncio”, documentário concluído no ano passado, sobre a resistência dos habitantes de Cambedo da Raia, perto de Chaves, às ditaduras de Espanha e do Estado Novo, de Salazar.
Em setembro, a Cinemateca retoma a ‘double-bill’ das tardes de sábado – com filmes de Joseph Losey, Josef von Sternberg, Joshua Logan, Frank Borzage, Jean Renoir e Jorge Silva Melo – e as sessões na esplanada, com o Motelx – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, em torno de Frankenstein, nos 200 anos do romance de Mary Shelley.
Em colaboração com o Queer Lisboa, a Cinemateca programou um ciclo em torno do vírus da sida, com títulos como “Kids”, de Larry Clark, e “E agora? Lembra-me”, de Joaquim Pinto.
A apresentação dos textos de João Bénard da Costa (1935-2009) realiza-se no dia 29 de setembro, quando passam 60 anos sobre a primeira sessão da Cinemateca, no Palácio Foz, em Lisboa.
A programação está disponível em www.cinemateca.pt.