Quando Raúl Alarcón passou a linha da meta em Oliveira do Hospital, após mais uma etapa longa de quase 180 quilómetros que começou na Sertã, poderia pensar-se que estava escrita a grande notícia de um dia especial na Volta a Portugal em bicicleta, que contou com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, na “Etapa da Vida”, o ponto em 2018 que serviu de homenagem às vítimas dos incêndios do ano passado. Pelo contrário, foi apenas aí que se começou a escrever.

Raúl Alarcón é o novo camisola amarela da Volta a Portugal depois de vencer a terceira etapa da prova

Alarcón, vencedor da Volta em 2017, conseguiu atacar no momento certo e ficou com a camisola amarela que estava com o antigo companheiro de equipa da W52 FC Porto, Rafael Reis, hoje na Caja Rural, desde o prólogo. Mais tarde, soube-se que tinha havido uma megaoperação anti- pelas brigadas da Autoridade Anti-Dopagem de Portugal (ADoP) a 41 ciclistas de seis equipas (W52 FC Porto, Sporting Tavira, Efapel, Boavista, Louletano e Feirense). À noite, Joni Brandão, corredor do Sporting Tavira que falhou a edição do último ano por questões físicas, mostrou-se frustrado pelas alterações feitas à quarta etapa por causa do calor, o que anulou, por exemplo, a sempre disputada passagem pela Torre.

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Ciclistas já não vão subir a Torre na etapa rainha da Volta a Portugal, devido ao calor

“É uma coisa que também não entendo. Se calhar amanhã [domingo] também não vou estar à partida nesta Volta a Portugal. Tivemos três dias em que tivemos de andar debaixo de calor; depois, quando se chega à etapa mais dura da Volta a Portugal, abdica-se da Torre. Ainda hoje [sábado] esteve um calor que não se aguentava e tivemos de fazer a etapa toda. E porque não fazemos a etapa toda amanhã [domingo]? Porque é que vai haver uma exceção amanhã? Para haver uma exceção tinha de haver na Volta toda, não só numa etapa e, neste caso, a etapa mais dura. Se calhar é uma coisa que convém a algumas equipas”, atirou o chefe de fila do conjunto verde e branco após a etapa concluída em Oliveira do Hospital.

Assim, os corredores partiam para esta quarta etapa agora entre a Guarda e a Covilhã com uma distância de “apenas” 144,3 quilómetros (e não os 171,4km desenhados inicialmente, que incluíam a passagem na Torre) e os ataques não demoraram: ao 20.º quilómetro, já havia um grupo fugitivo com dez elementos de diferentes equipas com mais de um minuto e meio de avanço do pelotão onde se concentravam os três grandes nomes deste sábado: Raúl Alarcón (W52 FC Porto), Vicente de Mateos (Louletano) e Joni Brandão (Sporting Tavira), separados na geral por 28 e 40 segundos, respetivamente.

Antonio Canet, da Caja Rural (equipa que sofreu um duro golpe logo na etapa inicial, quando o chefe de fila para esta Volta, Joaquim Silva, abandonou a prova depois de um golpe de calor que lhe fez parar a digestão), foi o primeiro a passar na contagem de montanha das Penhas Douradas, seguido de Marcos Jurado, Pierpaolo Ficara, Óscar Pellegrini e João Matias. Antes da descida para Manteigas, os fugitivos tinham uma vantagem superior a dois minutos do pelotão, que continuava a ver entre si quem tomaria a iniciativa de começar a puxar mais nos quilómetros seguintes o ritmo para apanhar o grupo da frente.

Como seria de esperar, tudo ficaria decidido nos últimos dez quilómetros, já sem fugitivos e com os principais nomes na luta pela etapa, recordando também como a mínima indecisão pode custar vários segundos, como acontecera este sábado em Oliveira do Hospital com Raúl Alarcón. Todos se pareciam estar a marcar, até que Joni Brandão quis pegar na batuta e arriscou uma fuga do grupo do camisola amarela, chegando a uma vantagem máxima de quase 30 segundos a seis quilómetros do final em subida. Henrique Casemiro, o quarto da geral, estava a cair; Alarcón reagiu e respondeu sozinho para defender a sua liderança na altura mais complicada antes da haver uma maior margem para meter velocidade até à linha de meta.

A pouco mais de dois quilómetros da meta, o espanhol do W52 FC Porto já tinha apanhado Joni Brandão e restava apenas perceber que tipo de tática haveria a partir daí: trabalharem em conjunto para conseguirem dar uma “sapatada” no resto dos concorrentes ou tentar cada um por si a vitória. Enquanto o corredor verde e branco tentava perceber a resposta a esta questão, o líder dos dragões já estava a colocar a mesma em prática: Alarcón atacou, voltou a ganhar a etapa e aumentou com números quase decisivos a distância para os restantes adversários, nomeadamente Vicente de Mateos.

Contas feitas, o número 1 da W52 FC Porto venceu com 12 segundos de avanço em relação a Joni Brandão, aumentando assim a distância na geral para o corredor verde e branco para 52 segundos. Mais longe está agora De Mateos, do Louletano, que integrou o grupo perseguidor e chegou mais de um minuto depois do espanhol da formação azul e branca, que deu um passo importante para a revalidação do título alcançado no ano passado.

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