Mais de meio século depois da última escavação em Pompeia, e no 270.º aniversário das primeiras escavações, a antiga cidade romana a 22 quilómetros de Nápoles, na Itália, voltou a ser explorada. E foram descobertos novos objetos, esculturas, moedas, inscrições e também vítimas da erupção vulcânica que enterrou a cidade no ano 79 depois de Cristo.

O ABC visitou as escavações, que estão a decorrer numa área de pouco mais de mil metros quadrados, com o arqueólogo Francesco Muscolini, a falar sobre as descobertas mais marcantes. O investigador refere que tudo o que é encontrado em Pompeia é mantido num depósito, próximo às escavações, para que os objetos sejam classificados e analisados, algo muito diferente do passado. “Hoje tudo se faz com uma equipa articulada que alcança todas as profissões na restauração de uma casa: o diretor, os arquitetos, os gerentes operacionais (arqueólogos, engenheiros e restauradores) e também todos os profissionais que ajudam na parte da documentação (antropólogos, paleobotânicos e arqueólogos”, explicou Francesco Muscolini.

Uma das novidades foi a descoberta do “último fugitivo de Pompeia”, o esqueleto de um homem que ficou preso na cidade enquanto tentava escapar à destruição. Em cima do esqueleto, na zona da cabeça, está um grande bloco de pedra. “Fizemos todas as análises possíveis, que nos vão permitir descobrir de onde é que ele veio, a sua idade, a sua dieta, as suas doenças, a forma como morreu e como foram os últimos momentos da sua vida”, explicou o arqueólogo. Este homem terá fugido com uma pequena bolsa no peito com vinte denários de prata (moeda romana) e algum bronze, o que indica que teria um salário médio semelhante ao de meio mês de uma família com três pessoas. “Ele tinha a chave de casa, na esperança de voltar”, revelou.

“O último fugitivo de Pompeia” terá tentado escapar à destruição provocada pela erupção vulcânica.

As investigações permitiram também descobrir um autêntico palácio, denominado de “Casa de Júpiter”, dedicada ao senador M.Nonio Balbo, um homem muito rico. A casa chama-se “Júpiter”. O deus principal da mitologia romana é representado numa pintura, já com pouca cor por ter sido encontrada durante as escavações parciais, que foram feitas no século XIX. Na altura a prioridade era descobrir os objetos e não salvaguardar a sua integridade. Foi também descoberta uma inscrição com propaganda eleitoral que dizia: “Por favor, escolha Elvio Sabino como prefeito, digno do Estado, bom”.

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Um pequeno museu aberto aos visitantes

As escavações no setor chamado “Região V” estão incluídas no Projeto Grande Pompeia, financiado em 105 milhões de euros pela União Europeia. Este é um projeto que, segundo o diretor do Parque Arqueológico, Massimo Osanna, está a ser uma “autêntica revolução”, pois veio alterar a forma como as escavações são feitas e dar uma segunda vida à antiga cidade. “Antes, grande parte de Pompeia estava encerrada ao público, porque não era segura. Agora, demos a segurança necessária a cada muro, a todas as casas e isso permitiu abrir áreas que estavam totalmente interditas”, acrescentou.

O resultado desta “revolução”, disse o responsável, é que agora entrar em cada casa de Pompeia é como entrar num pequeno museu. Em alguns locais, os arqueólogos recuperaram os objetos que estavam nos depósitos, e voltaram a colocá-los no seu lugar original. “Alguns objetos e mobília são originais, outros fomos nós que fizemos expressamente e isso é muito bom, porque podemos ver objetos antigos da vida quotidiana no seu lugar e não num museu fora do contexto”, reforçou.