O ator Steven Seagal, estrela de filmes como “À Procura de Vingança” ou “A Força em Alerta” tem, desde sábado passado, um novo título: enviado especial do ministério dos Negócios Estrangeiros russo, responsável pela promoção dos laços humanitários entre Rússia e Estados Unidos.
O anúncio foi feito na conta de Facebook do próprio ministério russo. “A tarefa será a de promover as relações entre a Rússia e os Estados Unidos no campo humanitário, incluindo na cooperação na cultura, artes, intercâmbios públicos e de jovens, etc.” Moscovo explicou ainda que a função é semelhante à de embaixador da Boa-Vontade das Nações Unidas, casos em que “a diplomacia do povo se encontra com a diplomacia tradicional”.
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O ator norte-americano reagiu no Twitter, garantindo que leva “muito a sério” esta “honra”. À RT, estação de televisão russa pró-Kremlin, Seagal fez mais comentários, citados pelo New York Times: “Sempre tive um forte desejo de fazer tudo o que puder para melhorar as relações russo-americanas”, afirmou. “Tenho trabalhado de forma incansável nesta direção, há muitos anos, de forma não-oficial. Agora estou muito grato por ter a oportunidade de fazer a mesma coisa oficialmente.”
Recorde-se que esta nomeação surge numa altura em que as relações entre os dois países atravessam um ponto baixo, com acusações de interferência russa nas eleições norte-americanas e suspeitas de conluio entre a campanha presidencial do Presidente Donald Trump e o Estado russo.
I am deeply humbled and honoured to have been appointed as a special representative of the Russian Foreign Ministry in charge of Russian and American Humanitarian ties.
I hope we can strive for peace, harmony and positive results in the world.
I take this honour very seriously pic.twitter.com/LTuUxsk1aZ— Steven Seagal (@sseagalofficial) August 5, 2018
A relação do ator de filmes de ação com o Governo russo não é, contudo, nova. Seagal tem defendido publicamente muitas das ações do Kremlin e do seu líder, Vladimir Putin, como a anexação da Crimeia — o que, de acordo com a Associated Press, já lhe valeu a proibição de entrar na Ucrânia durante cinco anos. Sobre Putin, deixou elogios em público: “Gosto de pensar que o conheço bem. Conheço-o o suficiente para saber que é um dos melhores líderes mundiais, se não mesmo o melhor líder vivo do mundo.”
A defesa das políticas de Putin, associada ao facto de ser neto de dois cidadãos russos — judeus que emigraram para os Estados Unidos — valeu-lhe a atribuição da cidadania russa em 2016. A cerimónia de entrega do passaporte foi emitida na televisão pela RT. Desde então, como relembra a Deadspin, Seagal tem-se dedicado a encontrar-se com outros líderes de antigas repúblicas soviéticas como Alexander Lukachenko (Bielorrússia) ou Ilham Aliyev (Azerbaijão).
Esta não é a primeira vez que o Kremlin tenta nomear Seagal para um cargo diplomático. Segundo o Buzzfeed, o Governo russo tentou nomear o ator como “cônsul honorário” em território norte-americano durante a administração de Barack Obama — o que, segundo o site, levou o representante norte-americano presente na reunião da proposta a exclamar “vocês só podem estar a brincar”.
Seagal, no entanto, já deixou claro numa entrevista que a sua amizade com Putin não tem propósitos políticos. “Tornámo-nos amigos graças às artes marciais”, disse, referindo-se ao Presidente russo, que é cinturão negro no judo. “Não temos uma relação política. Falamos é de artes marciais, filosofia, as pessoas e os dilemas da vida.”
Também o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, definiu a relação entre os dois homens como “perfeitamente normal”. “Não diria que [Putin] é um grande fã [de Seagal], mas já viu alguns dos filmes dele.”