O governo de Luanda decidiu autorizar, para sábado, a marcha de protesto dos trabalhadores da Empresa Nacional de Pontes de Angola, agora sem salários há 57 meses, duas semanas depois de “inviabilizar” a mesma.

Em declarações hoje à Lusa, o secretário-geral da Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola (CGSILA), órgão que promove a marcha, Francisco Jacinto, confirmou a autorização da marcha, adiantando que a mesma acontece sábado a partir das 13 horas.

“Exatamente a nossa marcha sai amanhã, a partir das 13 horas, temos o nosso trajeto do cemitério da Santa Ana até ao Largo das Escolas. Estamos reunidos com os trabalhadores para acertar detalhes organizativos porque queremos que a marcha seja ordeira”, disse.

No final de uma assembleia geral de trabalhadores, nas instalações da empresa pública de pontes, localizada no município do Cazenga, um dos mais populosos de Luanda, o sindicalista sublinhou a polícia vai acompanhar de perto os manifestantes. “Está garantida a segurança, acabámos de ter um encontro mesmo esta manhã com o Comando Provincial da Polícia de Luanda, acertamos os detalhes”, explicou.

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De acordo ainda com Francisco Jacinto. O objetivo da CGSILA e dos trabalhadores é apenas “manifestar, protestar, repudiar o comportamento das nossas autoridades governamentais pela situação caótica que os trabalhadores vivem”. “Daí que queremos que a nossa marcha seja organizada e decorra com disciplina”, acrescentou.

A marcha de protesto prevista inicialmente para 28 de julho terá sido “inviabilizada”, na ocasião, pelas autoridades de Luanda, por alegados incumprimentos da lei, segundo disse anteriormente o secretário-geral da central sindical angolana.

A 2 de agosto, o ministro da Construção e Obras Públicas de Angola, Manuel Tavares de Almeira, anunciou que a empresa estatal de pontes vai ser privatizada, e sem avançar um horizonte, garantiu apenas que decorriam trabalhados para “relançar a firma e liquidar os atrasados”. “A empresa de pontes está enquadrada nas empresas que vão ser privatizadas. Está a desenrolar-se processo de negociação com empresas interessadas e este será o futuro da empresa de pontes”, disse Manuel Tavares de Almeida, em declarações aos jornalistas.

Prontos para a marcha de sábado, estão também os cerca de 400 trabalhadores que há quase cinco anos não recebem os seus ordenados, conforme assegurou hoje à Lusa o 1º secretário da comissão sindical da empresa, Mateus Alberto Muanza. “Estamos agora a somar 57 meses sem salários, e a nossa situação vai agravando cada dia que passa, razão pela qual, tomamos essa providência de realizarmos essa marcha para que o Governo angolano possa resolver esse problema que vem nos matando dia após dia”, frisou.

Em relação ao anúncio da privatização da empresa, Mateus Alberto Muanza questiona o prazo para a liquidação dos salários argumentado que os trabalhadores “estão cansados das promessas” das autoridades. Porque, justificou, a 30 de outubro de 2017 o ministro das Obras Públicas e Construção quando visitou a empresa “garantiu resolver o problema com brevidade, mas até aqui estamos a caminhar para um ano e não recebemos qualquer notícia boa”.

“Daí que não confiamos mais nessas promessas. Tomamos conhecimento sim, mas quando vão pagar? Vamos morrendo devagar e isso nos motiva ainda a marcharmos amanhã para protestar a nossa situação”, concluiu.