Na rentrée de Negrão o Governo foi o principal visado, mas os críticos de Rio na bancada parlamentar não se livraram de ouvir um recado: quem manda na estratégia do partido é a direção, não os deputados. Na abertura da Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, o líder parlamentar do PSD lembrou que “tem-se discutido muito a autonomia do grupo parlamentar” e que “há até quem defenda que devia ser total”, mas “o partido é um todo” e tem “a direção, que é quem define a estratégia do partido. E nessa direção o grupo parlamentar está representado”.
Rui Rio também já tinha, no seu discurso no Pontal, visado dois adversários: os críticos internos e o Governo de António Costa. Negrão fez o mesmo. Destacou que o grupo parlamentar é “a primeira linha de ataque ao combate político” e é onde é “vocalizada a estratégia do partido“, mas não são os deputados que definem a estratégia do PSD. Para o líder parlamentar, os deputados têm de discutir o que pretendem em reuniões de bancada e depois Fernando Negrão leva as propostas às reuniões da Comissão Permanente do PSD.
No fim da sessão, em resposta aos jornalistas, Negrão esclarecia que o partido devia “falar a uma só voz” e que é necessário e desejável que todos remem para o mesmo lado com vista a ganhar as legislativas em 2019.
Depois do aviso para dentro, vieram então as críticas para fora e um apelo a António Costa para que não haja uma deriva eleitoralista no próximo Orçamento do Estado:
Senhor primeiro-ministro, faço-lhe um apelo, é muito cedo para entrarmos num ambiente de eleitoralismo. Eleitoralismo numa altura em que se negoceia o Orçamento do Estado para 2019 é retirar do OE todo o sentido de rigor e responsabilidade que deve ter.”
Fernando Negrão diz que o PSD está preocupado com medidas eleitoralistas, como o Governo prometer para 2019, ano eleitoral, “o maior orçamento de sempre para a Cultura, o maior orçamento para a Ciência e aumentos para os funcionários públicos”. E acrescentou, acenando com fantasmas de anteriores governos socialistas: “Em 2009, o Governo de Sócrates aumentou os funcionários públicos, numa medida que conduziu à bancarrota. O líder parlamentar do PSD está preocupado que o Governo entre numa “deriva de despesa” numa “política de dar tudo a todos.”
Fernando Negrão disse ainda que Portugal tem “um Governo que não governa, que não tem uma única reforma para mostrar — não fez uma única. Inacreditável como, em três anos, não foi feita uma única reforma”. Os parceiros de “geringonça” do PS também não se livraram de críticas duras.
O PCP, é no entender do deputado do PSD, “um partido parado no tempo, que tem como países amigos a Coreia do Norte e a Venezuela. Não deixa vender um livro no Avante! porque tem medo de ter problemas no MPLA”. Já o Bloco de Esquerda é uma “máquina de propaganda enorme, bem oleada. Que se transforma num ato de uma peça teatral. Basta ouvir a coordenadora para ouvirmos o tique teatral”, atirou.
Fernando Negrão disse ainda com ironia que os serviços públicos estão no coração da “geringonça”. Isto porque, no seu entender, “quem mais tem destruído o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública e os transportes Públicos são o PS, BE e PCP” com as suas cativações.
No contexto da Universidade de Verão — como demonstra o dossier entregue aos participantes — Fernando Negrão sugeriu aos alunos que lessem a História de Portugal, de Joaquim Veríssimo Serrão, para que nunca se deixe de ler a “saga de um povo que nunca deixou de lutar pelos seus, mesmo que quase sempre longe dos seus”. Como filme, Negrão sugere “Gritos e Sussuros”, de Ingmar Bergman. E aproveitou para destacar a influência de Bergman nos filmes de Woody Allen, fazendo um paralelo entre “Cenas da vida de um casamento” de Bergman e “Manhattan” de Allen.
Antes de Fernando Negrão, o presidente do Instituto Sá Carneiro, Alves Monteiro, saiu em defesa das Parcerias-Publico-Privadas” que, acredita, estão a ser “estigmatizadas” devido ao aproveitamento que foi feito no passado por alguns. Anunciou ainda que o Instituto Sá Carneiro vai tentar ter estruturas locais em cada um dos distritos do país e nas regiões autónomas.