A atleta Patrícia Mamona, que em 2016 se sagrou campeã europeia do triplo salto, denunciou esta sexta-feira que foi vítima de racismo à entrada de um estabelecimento de diversão noturna em Lisboa. Através de uma publicação no Instagram, a atleta de 29 anos contou que foi impedida de entrar no espaço por alegadamente “não se enquadrar no perfil” da discoteca.

“Quando vês pessoal a entrar de chinelos e sem convite mas te tratam de maneira diferente porque tu e os teus black friends bem vestidos e tal não se enquadram no perfil do LUX. Triste mas acontece!”, escreveu Patrícia Mamona, em conjunto com uma fotografia da entrada do Lux Frágil.

Nos comentários na publicação, a atleta foi confrontada por várias pessoas que contaram ter tido experiências semelhantes e defenderam não se tratar de racismo mas sim de “seleção ao acaso” — ou seja, a alguns grupos é permitida a entrada e a outros não, sem qualquer motivo especial para isso. Em resposta, Patrícia Mamona explicou que os seguranças justificaram que o grupo não podia entrar porque tinham um “feeling e revelou que, mais tarde, voltou a ser abordada pelos mesmos seguranças quando estes a reconheceram.

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“Eu sou a primeira pessoa a dizer que há muito pessoal que tem a mania de usar a carta do racismo para tudo o que acontece de mal…mas quando começas a ver o pessoal a entrar…ui! Não pode…ainda se estivéssemos mal vestidos…até percebia. Mas nem foi o caso…aliás, o que me foi dito é que foi um feeling, disseram-me isto, foi um feeling…não nos estavam a sentir”, acrescentou a atleta do Sporting.

Entretanto, Patrícia Mamona regressou ao Instagram para reagir a toda a polémica que a publicação na rede social criou. Num texto longo e dividido em duas imagens, a atleta do Sporting comentou e respondeu às mensagens de apoio que recebeu ao longo da manhã desta sexta-feira mas também às críticas.

“Incidentes acontecem, mas fiquei triste foi da maneira como os meus colegas foram tratados, porque estando eu do lado oposto com outro segurança foi algo diferente, este reconheceu-me e falou super bem comigo. Eu não estou triste por ter sido rejeitada, porque este nem foi o caso. Apenas queria saber porque é que lhes fizeram isso e se era possível darem-me um argumento plausível para tal situação. Mas era um feeling“, escreveu a atleta olímpica.

E continuou: “Acreditem que eu também detesto quando as pessoas usam o ‘racial card‘ como desculpa das coisas más que acontecem (…) mas também aqueles que criticam negativamente podem estar a ser incorretos ao criticarem esta situação em particular quando nenhum de vocês estava presente. (…) Racismo ou não, não sei, espero que tenha sido ilusão minha, discriminação provavelmente, mas já passou! Por favor não me chamem de Serena Williams, estou apenas a ser eu, e desculpem se ofendi alguém por ser eu.”

https://www.instagram.com/p/Bntdim7hIsL/?hl=en&taken-by=patriciamamona

https://www.instagram.com/p/Bntd2rUhWf1/?hl=en&taken-by=patriciamamona

Contactado pelo Observador, o Lux Frágil garantiu que vai averiguar a situação e adiantou que não foi feita qualquer reclamação pelo grupo em questão.

Este caso recorda um outro — também com um atleta do triplo salto como protagonista. Em 2014, Nélson Évora recorreu também às redes sociais para denunciar que tinha sido vítima de racismo à entrada da discoteca Urban Beach, em Lisboa. “Éramos um grupo grande, 16 pessoas e com mesas pré-reservadas. Quando chegámos à porta negaram-nos o acesso. Disseram-nos que estavam demasiados pretos no grupo”, escreveu na altura o atleta olímpico.

“Pretos, é difícil. Ciganos não entram.” Há ou não racismo nas discotecas de Lisboa?