O diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM), o coronel Luís Vieira, confessou ao juiz de instrução João Bártolo que o reaparecimento, na Chamusca, das armas e dos explosivos roubados em Tancos foi encenado. Segundo o jornal Público, Luís Vieira invocou o interesse nacional na sequência do “acordo de cavalheiros” feito entre os militares e autor do roubo, o ex-fuzileiro João Paulino, de 32 anos, que assim devolveria o material furtado antes que este pudesse ser vendido. A prioridade dos militares seria, então, o regresso atempado das armas, ainda que à custa da impunidade de João Paulino.
Esta sexta-feira, tanto o diretor da PJM como o civil responsável pelo furto do armamento militar em Tancos ficaram em prisão preventiva, segundo disse ao Observador fonte ligada ao processo. Os restantes arguidos da PJM e da GNR foram suspensos de funções e ficaram com termo de identidade e residência, proibidos de contactar os coarguidos, bem como com quaisquer militares das Forças Armadas, da GNR e elementos da PJM.
O diretor e os restantes elementos da PJM — bem como os três militares da GNR — foram constituídos arguidos pelos crimes de “denegação de Justiça e prevaricação, favorecimento pessoal praticado por funcionário, associação criminosa e tráfico de armas”.
Tancos. Prisão preventiva para diretor da Polícia Judiciária Militar e civil responsável pelo furto
Antenas telefónicas e portagens denunciaram militares
As munições, granadas e bombas estavam a 35 quilómetros de distância dos paióis de Tancos, de onde foram originalmente roubadas, escondidas na casa da avó daquele que foi, desde o começo da investigação, o principal suspeito do roubo, João Paulino, ex-fuzileiro de 32 anos. A edição deste fim de semana do Jornal Expresso, dá ainda conta de que foram os dados obtidos através das antenas telefónicas e das portagens ao redor do local onde o material foi reencontrado, a 18 de outubro de 2017, que permitiu ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e à Polícia Judiciária prender, na passada terça-feira, o diretor e outros dois elementos da PJM.
A informação cedida ao Ministério Público pelos respetivos operadores de telemóvel e pelas concessionárias de autoestradas, de acordo com os documentos a que Expresso teve acesso, contraria “de forma clara”, com base na localização dos telemóveis dos militares e de um carro da PJM, o relato inicial. Se a versão do diretor da PJ Militar tinha por base uma suposta chamada anónima com informações específicas sobre onde encontrar o armamento que desaparecera cinco meses antes, levando a própria PJM e os militares da GNR de Loulé a encontrar as armas na Chamusca, os dados agora recolhidos revelam que esse telefonema foi feito a partir de uma cabina telefónica perto do mercado do Montijo por um elemento da PJM.
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Os dados permitem ainda perceber que, na noite do dia 17 de outubro de 2017, um dia antes da descoberta das armas na Chamusca, dois elementos do Núcleo de Investigação Criminal da GNR deslocaram-se numa carrinha Mercedes da PJM até uma propriedade que pertence à avó do principal suspeito, João Paulino, onde estariam as armas roubadas. A casa, no concelho de Tomar, está a 35 quilómetros de distância de Tantos e, para o Ministério Público e para a PJ, era o esconderijo original do armamento militar. A deslocação feita na carrinha da PJM seria, então, uma forma de dissimular procuradores e inspetores. Para o Ministério Público, escreve ainda o Expresso, o diretor da Polícia Judicial Militar autorizou a operação de encobrimento na sua totalidade.
O furto de material militar dos paióis de Tancos – instalação entretanto desativada – foi revelado no final de junho de 2017. Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.